Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 110
Depois de quase três horas de voo, eles finalmente pousaram em Sakhalin.
Assim que Seo-Ryeong desceu do avião particular da BLAST, foi recebida por um frio cortante que a atingiu como uma lâmina.
O clima da ilha, girando em torno de dez graus negativos, era tão brutal que ela teve vontade de voltar para dentro.
Atordoada pelo vento gélido do inverno, Seo-Ryeong ficou parada, imóvel, até que Lee Wooshin passou por ela e, sem dizer nada, puxou o capuz de seu casaco sobre a cabeça.
“Ah, revisei os dados do satélite…”
Ele lançou um olhar de lado enquanto se comunicava com Channa. Quando Seo-Ryeong se encolheu, ele apenas articulou silenciosamente: O que foi? Ela desviou o olhar sem motivo algum e ajustou a bolsa militar pendurada no ombro.
Enquanto caminhavam, um jipe velho apareceu à frente, preparado para levar a equipe. Ki Taemin verificava as armas no porta-malas, enquanto Jin Ho-jae estava agachado perto de um pneu, balançando a cabeça em frustração.
“Nem sei se esse troço vai funcionar direito.”
“Afasta. A Agente Han Seo-Ryeong vai no banco da frente.”
Lee Wooshin bateu o porta-malas com força e entrou no assento do motorista, fazendo com que os outros subissem no veículo.
Seo-Ryeong hesitou por um instante, mas o frio a obrigou a abrir a porta do passageiro. A maçaneta enferrujada gemeu alto, e o cinto de segurança estava tão danificado que era inútil.
“Espera aí, Líder de Equipe!”
Jin Ho-jae entrou apressado no banco de trás, erguendo a voz.
“Líder, sentar do lado de uma novata é perigoso demais!”
As palavras ecoaram secas, e os outros membros da equipe endureceram em concordância.
Normalmente, quando o líder dirigia, o atirador de elite, Ki Taemin, se sentava ao lado dele para dar cobertura. Como o melhor franco-atirador do grupo, seu papel era essencial — especialmente porque o vice-líder Yoo Dawit era responsável por coordenar o restante dos agentes em caso de emergência.
O protocolo era claro: Yoo Dawit e Jin Ho-jae deveriam escoltar a novata, um na frente e outro atrás.
Por mais descontraído que Wooshin parecesse fora das missões, todos sabiam que, durante uma operação, ele se tornava frio e metódico. Quebrar a formação deixava a equipe tensa e confusa.
“Líder, e se acontecer um acidente?” Jin Ho-jae olhou aflito entre o motorista e o banco do passageiro. “Um de vocês pode não sair vivo!”
Seo-Ryeong se encolheu com as palavras sombrias, o desconforto crescendo. Percebendo o olhar nervoso dela, Lee Wooshin estalou a língua e, com um braço só, empurrou a cabeça de Jin Ho-jae de volta contra o assento antes de ligar o motor.
O rugido do motor vibrou pelos bancos, e quando Wooshin engatou as marchas manuais, o escapamento velho começou a chacoalhar e chiar.
“Por que está preocupado, se o Agente Yoo Dawit está aqui?”
“Hã?”
“É pra isso que serve a braçadeira, não é?”
“…!”
Seo-Ryeong franziu o cenho, irritada. As palavras calmas dele — que soavam como se já esperasse que outro tomasse o lugar em caso de perigo — a incomodaram profundamente.
Mesmo percebendo o olhar afiado que ela lhe lançou, Wooshin permaneceu em silêncio, acelerando sobre as planícies geladas.
Será que ele me vê como um fardo? Ou acha que eu sou? É por isso que quer que eu fique perto dele? Seo-Ryeong cerrou os dentes, frustrada.
Jin Ho-jae resmungou enquanto se encostava, batendo nas laterais do carro a cada solavanco da estrada.
Pela janela, Seo-Ryeong observou os campos intermináveis que se estendiam além do vidro. Por algum motivo, o coração dela batia acelerado desde antes, sem motivo claro.
Monitorar crianças em um monastério, hein.
Mesmo com o carro sacolejando, ela tentava processar mentalmente todos os detalhes do briefing da missão.
O jipe avançava em alta velocidade pela estrada de terra. O cascalho estalava sob os pneus, e o leve cheiro de terra invadia o interior pelas janelas semiabertas.
Ervas altas cobriam os campos como um tapete verde sem fim. Folhas enormes de bardanas, do tamanho de guarda-chuvas, formavam aglomerados densos o suficiente para proteger alguém da chuva. Aqui e ali, entre as plantas gigantes, apareciam alguns coreanos.
De repente, uma onda de enjoo subiu por Seo-Ryeong. Apesar de tentar desviar a atenção, ela não conseguiu parar de olhar para a paisagem e disse:
“Ah, Sênior, sobre o que o senhor tava falando antes — aquela história que ficou pela metade. Sabe, sobre a família daquele primeiro-ministro russo famoso.”
O jipe deu um solavanco, como se tivesse batido em uma pedra, e sacudiu todos dentro. Lee Wooshin esticou o braço imediatamente para proteger a cabeça de Seo-Ryeong, enquanto o resto da equipe bateu no teto e engoliu palavrões.
Por um instante, algo duro passou pelo olhar de Wooshin. Seo-Ryeong se agarrou ao puxador gasto e continuou:
“O primeiro-ministro que se casou com uma mulher coreana, lembra?”
“Ah, é! Aquela história romântica!” Jin Ho-jae exclamou, animado, enquanto Ki Taemin, montando uma pistola, bufou.
“Para de encher a cabeça da novata com bobagem. Se vai contar, conta direito. Romântica uma ova.”
“Droga, eu só disse que…”
“Han Seo-Ryeong, não acredita nesse idiota. Aquela história é famosa porque é uma tragédia.”
“Uma tragédia?”
“Sim. A tragédia de Solzhenitsyn. Todos morreram em um acidente. A linhagem provavelmente acabou com eles.”
Um breve silêncio se espalhou dentro do veículo. Seo-Ryeong virou-se para Jin Ho-jae com uma expressão de quem acabara de ser traída.
Você não disse que era uma história de amor?, seu olhar parecia dizer.
Constrangido, Jin Ho-jae abaixou a cabeça e murmurou:
“Mas ainda assim… eles superaram fronteiras, diferenças de classe e até de idade pra se casar! E morreram no mesmo dia. Isso faz da história algo bonito, não?”
Ki Taemin respondeu dando um tapa na parte de trás da cabeça dele. Seo-Ryeong pensou por um instante antes de perguntar:
“Que tipo de acidente foi?”
“Chega.”
A voz de Lee Wooshin cortou o ar, firme. Ele fez uma curva brusca, e todos se inclinaram para o lado, o carro rangendo sob o impacto.
“Faltam dois quilômetros. Fiquem atentos.”
Após suportarem o terreno acidentado, a estrutura avermelhada de um monastério finalmente apareceu ao longe.
Sentindo o estômago revirar, Seo-Ryeong mordeu o lábio inferior, engolindo o gosto ácido que subia pela garganta.
Quando o jipe começou a desacelerar, alguém apareceu de repente e escancarou a porta.
Antes que ela pudesse reagir, uma mão agarrou sua perna.
“—!”
Em um instante, ela foi puxada para fora do assento, e uma mão firme se enfiou sob seus braços. O agressor se moveu com a precisão de quem arranca um bebê do ventre da mãe.
Seo-Ryeong instintivamente agarrou o puxador, mas o metal velho quebrou de imediato. Ela caiu, o corpo atingindo o chão em menos de um segundo.
“Esse desgraçado-!”
Crreeech! Lee Wooshin pisou com força no freio e gritou furioso.
Mas já era tarde. Seo-Ryeong ajustou o pensamento rapidamente — usaria o homem como almofada. Torceu o corpo com agilidade.
Enquanto rolavam juntos, o cheiro do desconhecido invadiu seu nariz. Poeira subia ao redor deles, envolvente.
“Sonya… minha Sonya… finalmente!”
A voz dele era ofegante, entrecortada de risadas eufóricas.
O olhar desorientado de Seo-Ryeong se fixou nos cabelos negros do homem, que reluziam sob o sol com reflexos avermelhados.
Seus narizes quase se tocaram. Os olhos escuros e penetrantes dele deixaram uma impressão profunda — inesquecível, como a imagem de alguém se contorcendo contra uma porta de banheiro num ato indecente.
O padre sorriu largo, mostrando os dentes brancos.
“Han Seo-Ryeong!”
Lee Wooshin gritou ao bater a porta do carro com tanta força que parecia que ela ia estourar. Do banco de trás, três canos de armas se alinharam, apontados para o alvo.
Em um breve instante, o padre se inclinou e sussurrou no ouvido dela:
“Convidei seu marido também.”
O corpo de Seo-Ryeong congelou.
No segundo seguinte, uma força brutal os separou. Lee Wooshin desferiu um chute certeiro na cabeça do padre e torceu o braço dele para trás.
O rosto do homem foi prensado contra a lama, distorcido em dor enquanto ele lutava para respirar. Wooshin, impassível, segurou a lateral da cabeça dele e a bateu repetidas vezes contra uma pedra saliente.
“Sonya, Sonya, olha! Vê como seu mari- ahhh!”
Com um movimento seco, Wooshin deslocou o ombro do padre. Um estalo ecoou, seguido pelo braço pendendo mole.
O homem abriu a boca em um grito desesperado, lágrimas escorrendo sem controle, implorando por misericórdia. O som era tão lastimável que doía de ouvir — mas o olhar de Wooshin permaneceu frio.
Foi então que Seo-Ryeong recobrou a consciência do que estava acontecendo. Seria certo bater assim em um padre?
Os gemidos do homem, como os de uma criança assustada, trouxeram-na de volta à realidade.
Aquilo era um monastério.
Não era território de Wooshin, e mercenários agredindo um sacerdote poderia gerar sérios problemas. Ela limpou a sujeira dos joelhos e puxou o braço dele.
“Esse homem parece ser do monastério. Se fizerem alarde, vamos ter problemas.”
“…”
O silêncio foi tenso. Os olhos sombrios de Wooshin se fixaram nela, duros. Por quê?, parecia perguntar o olhar inocente dela.
Sem dizer nada, ele finalmente soltou o padre e o colocou de pé.
O homem mordeu o lábio, os ombros tremendo visivelmente. O rosto pálido, sujo de sangue e barro, o fazia parecer miserável.
Cambaleando, ele se aproximou de Seo-Ryeong. Estendeu a mão para cumprimentá-la, mas parou ao perceber o braço pendendo torto. Sem dizer uma palavra, estalou o ombro de volta ao lugar com um clique seco, depois sorriu de novo e estendeu a mão.
“Kia. Meu nome é Kia. Eu… não falar coreano bem. Pode falar sem formalidade, tá?”
Lágrimas ainda pendiam nos cantos dos olhos dele, como manchas fora de lugar.
O olhar de Kia fixou-se nela, intenso, quase devoto, cheio de algo que parecia uma mistura de alegria e adoração.
Esse é exatamente o tipo de olhar que tarados têm. Espero que ele não tire as calças do nada.
Seo-Ryeong franziu o cenho, o estômago revirando de novo por causa da queda.
“Urgh-! Cof, cof!”
Antes que pudesse se conter, ela vomitou — direto na mão estendida de Kia.
 
                                         
                                     
                                     
                                    