Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 111
Seo-Ryeong não teve coragem de levantar a cabeça. Um cheiro azedo rapidamente tomou o ar quando o líquido quente jorrou de sua boca.
Curvada, ela engasgava a cada contração, o abdômen superior afundando. O refluxo ácido queimava suas narinas, deixando-as ardendo. Mas como seu estômago estava praticamente vazio, apenas um líquido transparente escorria.
“Me descul- Ugh…!”
A tontura veio de repente, mas Seo-Ryeong forçou as pernas a se manterem firmes. Sua garganta e boca ardiam com a acidez, e toda a cavidade oral formigava.
O esôfago se contraía sem controle.
De repente, uma mão quente alcançou seu rosto e limpou sua boca. Lee Wooshin estava ao lado dela, o semblante sério, dando leves tapinhas em suas costas enquanto ela ainda tentava controlar o enjoo. Segurando o queixo dela com uma mão, limpou cuidadosamente os cantos de seus lábios com o polegar, apagando qualquer vestígio de vômito.
O padre, que até então estava imóvel e boquiaberto, tentou se aproximar para ajudar, mas tapa! — Lee Wooshin afastou a mão dele com um estalo seco.
“Não toque nela sem permissão.”
O aviso cortou o ar pesado como uma lâmina, apagando qualquer expressão do rosto de Kia.
“…”
“…”
Uma tensão inexplicável pairou entre os dois homens. Lee Wooshin posicionou-se à frente de Seo-Ryeong, bloqueando a visão que o padre tinha dela. Os músculos de suas costas se contraíram visivelmente, como se ele se preparasse para uma briga.
Quebrando o silêncio sufocante, Jin Ho-jae estendeu um lenço ao padre. Kia, que o ignorava até então, virou-se de repente, lançando-lhe um olhar cortante.
Apesar do sangue escorrendo da têmpora e manchando o canto dos olhos, o olhar de Kia não vacilou.
“Você me parece familiar.”
“Hã?”
“Não gosto do seu rosto.”
“…Como é que é?”
“É feio.”
Os olhos de Jin Ho-jae se arregalaram, indignados.
“Também odeio impostores.”
Kia limpou o sangue que escorria nos olhos com o ombro, manchando as bochechas como se usasse um blush grotesco.
“Onde estão as crianças que deveríamos monitorar?”
A pergunta, feita num tom seco, cortou o diálogo como uma lâmina. Seo-Ryeong, que ainda tentava processar o que Kia dizia, congelou — como se tivesse levado um choque.
Espera… aquele padre era o cliente? Isso queria dizer que eles tinham espancado o próprio contratante? Mas… será que ele merecia? Não, mesmo assim… — seus pensamentos se atropelavam.
“Podem levar o tempo que quiserem com esse trabalho.”
“É um serviço pago. Me poupe da conveniência, por favor.”
Os dois se encararam, o ar entre eles fervendo em silêncio. De repente, Lee Wooshin pegou o lenço que Kia ainda segurava e começou a limpar a mão suja de vômito do padre ele mesmo.
“――!”
Kia estremeceu e tentou afastar a mão, mas Wooshin insistiu, o que resultou num ridículo embate de palmas, um tentando evitar o outro.
Por fim, com o semblante tenso, Wooshin perdeu a paciência e deu um chute no joelho do padre. Kia gritou de dor enquanto Wooshin prendia-lhe os dedos com força, torcendo-os levemente.
“Au! Au, au…!” Kia gemeu, com os olhos marejados, olhando para Seo-Ryeong em busca de ajuda. Mas ela apenas o observava, impassível, com o estômago ainda embrulhado.
Eu só queria enxaguar a boca… pensou, segurando o estômago vazio enquanto fazia careta por causa do gosto amargo que permanecia.
Lee Wooshin cuspiu nos dedos pálidos e retorcidos do padre antes de continuar a limpá-los, deixando um aviso em tom baixo:
“Não suje suas mãos com o que é dos outros.”
O rosto de Kia se contraiu como o de uma criança birrenta, num misto de raiva e humilhação.
De algum modo, Seo-Ryeong teve a sensação de que o resto da estadia em Sakhalin não seria nada tranquila.
A luz do sol filtrava-se entre as árvores altas, caindo como fios dourados. Finas camadas de neve cobriam os telhados avermelhados, criando uma paisagem serena de inverno.
Para um lugar considerado uma ramificação herege, a vista era bonita demais. As paredes limpas e o campanário pontudo davam ao mosteiro um ar de pureza e solenidade.
Embora a construção fosse antiga, não mostrava sinais de decadência. Passo a passo, a equipe seguiu o padre para dentro.
“Nós vivemos pela pureza, pobreza e obediência.”
Seo-Ryeong mal conseguiu conter uma risada cética.
Ah, que padre farsante. Pureza? Sério?
Aquele era o mesmo homem que havia lambido sua bochecha, puxado seu cabelo e cometido um ato indecente no banheiro feminino. De tudo o que ela ouvira ultimamente, aquilo era o mais cômico.
“Nós acordamos às cinco da manhã para a meditação,” o padre continuou. “Após cumprir deveres pessoais, fazemos a oração do meio-dia e almoçamos. Depois, temos a oração comunitária e voltamos às tarefas. À noite, fazemos leitura espiritual, oramos novamente e dormimos.”
“Uau, rezam até demais aqui,” murmurou Jin Ho-jae, em tom baixo, atrás dela.
Ao cruzarem um gramado aparado, passaram por uma pequena área com um monociclo, balanços e um cavalinho de mola — brinquedos claramente feitos para crianças. Seo-Ryeong não conseguia tirar os olhos deles.
Então, uma mão fria agarrou a dela, entrelaçando os dedos. Virando-se, viu Lee Wooshin segurando-a com força, o olhar fixo na mesma cena. Por algum motivo, a mão dele tremia levemente.
“O que exatamente são os ‘deveres pessoais’?” perguntou Jin Ho-jae, curioso.
“Tarefas domésticas, limpeza da paróquia, arranjos florais ou enfermagem,” respondeu Kia secamente. “Não se aproximem mais.”
“E o senhor, padre?” insistiu Jin Ho-jae.
Kia ficou em silêncio por um instante. Uma rajada de vento gelado soprou, e ele inspirou fundo, como se apreciasse o frio.
“Eu também limpo, claro.”
“Onde?”
“Onde for necessário. Eu deixo tudo impecável.”
Satisfeito, Jin Ho-jae apenas assentiu e recuou. Seo-Ryeong murmurou baixo, quase para si mesma:
“…Ele fala coreano fluentemente, então por que esse tom informal…?”
Kia ouviu o comentário e respondeu na hora:
“Não, meu coreano é ruim.”
“…”
“Ruim mesmo, juro! Agora, que tal trocarmos de roupa e irmos visitar as crianças?”
“――!”
De repente, todos — inclusive Seo-Ryeong — se encolheram e taparam os ouvidos. Um som agudo e estridente cortou pelos fones, obrigando-os a arrancar os comunicadores.
Eles ficaram imóveis, as expressões tensas, massageando as orelhas avermelhadas.
Era como se uma lâmina atravessasse seus tímpanos — um chiado distorcido causado por interferência de frequência. Um sinal claro de que havia transmissão ilegal de rádio por perto.
Então, Seo-Ryeong sentiu um sopro quente tocar seu lóbulo.
Lee Wooshin inclinou a cabeça dela levemente para examinar o ouvido, o maxilar cerrado, antes de lançar um olhar gelado ao padre.
“Tirem isso dos ouvidos, para começar,” disse Kia, imperturbável, erguendo o queixo com um sorriso largo.
“Bem-vindos ao meu mosteiro.”
Seo-Ryeong enxaguou a boca e jogou um pouco de água no rosto. Diante do espelho embaçado do pequeno lavatório, encarou o próprio reflexo pálido.
Seu rosto oco a encarava de volta. A missão real ainda nem havia começado, mas ela já sentia as forças se esvaindo.
Ela suspirou e sentou-se na cama de solteiro, começando a trocar de roupa.
“Por que justo aqui eu fui vomitar…?” murmurou, soltando outro suspiro frustrado.
Será por isso que o Lee Wooshin não me repreende mais? — antes, ele a criticava sem piedade, mandando que se recomposse. Mas aquele instrutor parecia ter desaparecido.
Agora, ele a tratava como se fosse feita de vidro, com medo de que se quebrasse.
E aquele cuidado sufocante só a deixava mais inquieta.
Enquanto abria o manto de padre com os ombros caídos, algo caiu no chão — um pedaço de papel dobrado. Ela o pegou e o abriu, franzindo a testa imediatamente.
O que é isso?
“маска.”
Ma…ska…? — ela tentou pronunciar as letras cirílicas quando a porta se abriu bruscamente, e Lee Wooshin entrou.
Rápida, Seo-Ryeong fechou o punho, escondendo o bilhete, e levantou a cabeça como se nada tivesse acontecido.
Mas sua mente disparava, tentando decifrar o papel. Quem colocou isso aqui? É um código? Uma pegadinha? Ou mais uma loucura daquele padre maluco?
“Os instrutores não batem mais à porta, é isso?”
“Deixe-me ver sua mão.”
“Por quê?”
Ela apertou ainda mais o bilhete, sentindo a boca secar sem motivo.
“Sua mão estava gelada antes. E agora seu rosto está pálido. O que houve?”
“Eu só lavei o rosto.”
“E suas roupas? Está praticamente com o peito exposto, e nem trancou a porta.”
“…!”
“Tá se exibindo pra quem?”
Ele a olhou de cima a baixo, o tom ríspido, o olhar ardente. Vestindo apenas o sutiã, Seo-Ryeong sentiu o olhar dele parar por um instante, antes que ele desviasse o rosto, irritado, esfregando o pomo de Adão como se o colarinho alto do manto o incomodasse.
O contraste do tecido preto com o rosto pálido o fazia parecer ainda mais tenso.
“Exposta”, onde?, pensou ela, erguendo-se nas pontas dos pés, pronta pra retrucar. Mas, ao se mover, o peito dela balançou levemente, e Wooshin virou o rosto de vez.
Com um suspiro, ele pegou o manto sobre a cama e o jogou por cima da cabeça dela, bloqueando sua visão.
“Tem mais alguma coisa te incomodando? Está sentindo dor de cabeça?”
“Acho que não. O ar aqui é surpreendentemente puro.”
Ela puxou a cabeça pela abertura, vestindo as mangas. Quando Wooshin segurou o braço dela, Seo-Ryeong, provocando, estendeu a mão vazia.
Ele segurou mesmo assim, massageando-a antes de apertar levemente o centro da palma. O calor do toque se espalhou devagar.
“Instrutor.”
“Vamos descer pra jantar daqui a pouco. Aguente firme.”
“Não é isso. Esse lugar é um mosteiro, certo? Não uma clínica de reabilitação ou algo do tipo?”
“O que?”
“É que… aquele padre é bem esquisito.”
“…”
Ele não respondeu — apenas a encarou.
“É o mesmo cara que encontrei naquele evento. Sabe, o que lambeu minha bochecha? Agora que o vi de novo, ele parece ainda mais pirado. Fala umas coisas malucas. Disse até que chamou meu marido pra cá.”
As mãos de Wooshin pararam no meio da massagem.
“Parece que ele fez uma pesquisa superficial sobre a gente, mas, sinceramente, o olhar dele é de doido. Dá pra confiar num cara desses como padre? Se ele estiver me provocando e usando o meu marido como isca, eu não vou deixar barato. Primeiro, a gente precisa…”
“Não.”
A voz dele, baixa e pesada, cortou seus pensamentos.
“Não faça nada aqui, Seo-Ryeong.”
“…!”
“Se você já vomitou na frente do cliente, a empresa não vai reclamar se sair por motivos de saúde. Você já mostrou o rosto, e isso basta. Pelo menos o Kang Taegon não perde a credibilidade. Então recue agora.”
Aquelas palavras foram o golpe final no peso sufocante que ela sentia no peito.