Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 114
“Você costumava me segurar muito quando eu era criança.”
Uma tensão aguda tomou conta das têmporas dele. Embora o olhar de Lee Wooshin tenha se endurecido por um instante, ele rapidamente conteve a tempestade que ameaçava irromper dentro de si.
“Você me dava comida, trazia cobertores de plumas de ganso escondido, e até me carregava quando eu não conseguia andar e desabava. Naquela época, eu não passava de pele e osso. Eu ainda me lembro, mesmo que minha cabeça doesse tanto por causa da máscara. Aqueles olhos cinzentos seus…”
“…!”
“Quando eu me perguntava onde você estava se escondendo, descobri que tinha se apegado à Coreia.”
“…”
“Eu me agarrei ainda mais à Rússia.”
Aquela pequena e miserável criatura da Fortaleza de Inverno, cuja face, idade, nome e até gênero eram incertos.
A nuance nas palavras de Kia fez o rosto de Lee Wooshin se endurecer. As veias em sua mão cerrada, puxando o cordão, saltaram visivelmente. Ele franziu a testa, empurrando o turbilhão interno para o fundo de sua mente por um instante.
“Se você realmente esteve na Fortaleza de Inverno, como ainda está vivo?” Wooshin perguntou.
“…”
“A Fortaleza de Inverno explodiu, sem deixar vestígios.”
“Você realmente não sabe de nada, não é?”
“…”
“É por isso que o Pai teve pena de você?”
Lee Wooshin enrolou o cordão mais uma vez em sua mão, com uma expressão vazia. Kia soltou sons sufocados, mas quem realmente lutava para respirar era Lee Wooshin.
As palavras de Kia balançaram o chão sob seus pés. Seu aperto, pronto para matar, afrouxava e voltava a se firmar repetidamente. Duas emoções opostas colidiam dentro dele.
Se ele havia sobrevivido, isso já deveria bastar. Deveria ser o suficiente. Mas aquele desgraçado não podia continuar vivo.
Lee Wooshin mordeu com força a própria língua e enrolou o cordão no pulso novamente.
“Então, vamos direto ao ponto. Para que exatamente servia a Fortaleza de Inverno?”
“Ha… Quer mesmo saber?”
Mesmo com o pescoço ficando vermelho escuro, Kia apenas riu, vívido. Lee Wooshin revistou o corpo do padre e jogou as sete facas que encontrou debaixo da cama.
“Restam poucos de nós agora. Pessoas que se lembram daquele dia.”
“…!”
“Então eu basicamente virei um documento confidencial ambulante.”
A mão de Lee Wooshin parou por um instante.
“Não sobrou mais ninguém além de mim. Minha mente é a mais lúcida. Então é melhor você me tratar bem.”
“…”
“Olhe pra Sonya — ela nem sabe de nada… ha!”
Seus instintos premonitórios nunca falhavam. A essa altura, era impossível não perceber que o “par” que Kia buscava era Seo-Ryeong. Lee Wooshin fitou intensamente os lábios de Kia, em busca de uma resposta mais definitiva.
De repente, uma imagem de Kia devorando os lábios e o peito de Seo-Ryeong com avidez passou por sua mente. A cena despertou uma fúria incontrolável, fervendo dentro de sua cabeça.
Se não lidasse com aquilo agora, sem dúvida enfrentaria consequências desastrosas. Ele perderia algo precioso demais.
Mesmo que não fosse uma continuação de um sonho, suas palmas estavam úmidas de suor. Lee Wooshin foi tomado por uma ansiedade crescente, sufocante.
“Vamos não acordar nem provocar Sonya.”
“…!”
Para Kia, ela era Sonya, mas para Lee Wooshin, ela tinha que ser Han Seo-Ryeong. Para protegê-la, ele deliberadamente chamara o nome de Kim Hyeon — para impedir que Seo-Ryeong recuperasse as memórias por causa das provocações de Kia.
Por mais amargo que fosse, para Seo-Ryeong, não havia substituto para Kim Hyeon.
“Mesmo que alguém tenha estado na Fortaleza de Inverno…”
Ele queria proteger apenas ela. Se tivesse que escolher entre os dois, não hesitaria em priorizar o presente.
Assim que Lee Wooshin afrouxou o cordão, Kia avançou contra ele, brandindo um crucifixo como uma arma.
Uma agulha de seringa despontou à frente, aproximando-se rápido. Lee Wooshin se inclinou para trás instintivamente, mas a ponta da agulha rasgou a pele sob seu olho, deixando um corte ardente.
Enquanto o sangue escorria e embaçava sua visão por um momento, Kia lambeu os lábios. Aproveitando a brecha, desferiu um chute repentino, fazendo Lee Wooshin cambalear.
Os dois voltaram a se chocar, lutando como se suas vidas dependessem disso. Seus corpos bateram contra a janela de vidro com um estrondo antes de rolarem pelo chão. Ambos agarraram o pescoço um do outro, lutando ferozmente enquanto rolavam.
Toc, toc—
Alguém bateu na porta.
“Instrutor?”
“…!”
“…!”
Os movimentos pararam ao mesmo tempo, como se tivessem ensaiado. Ambos se viraram para a porta, reconhecendo a voz.
“Instrutor, o senhor está dormindo?”
Lee Wooshin rapidamente inverteu suas posições, tampando a boca de Kia com a mão.
“Mmmph…!” Kia parecia prestes a gritar, mas congelou, os olhos girando em pânico.
A maçaneta chacoalhou, mas a porta trancada não se moveu.
“O senhor está mesmo dormindo?”
A voz calma do lado de fora fez o coração de Lee Wooshin disparar violentamente.
A lembrança dos gemidos dela ecoou em sua mente — “Ah, ah…!” — despertando uma tempestade de emoções: raiva, perda, frustração, e até o desejo egoísta de agir por impulso sob o pretexto de protegê-la.
Tinha sido um sonho — e ao mesmo tempo, não. Os impulsos enlouquecedores daquele momento ainda queimavam vivos dentro dele. Sua garganta estava seca, e uma sensação incômoda e insuportável o corroía por dentro.
“Então… falamos amanhã.”
O som dos passos dela se afastando preencheu o silêncio. Assim que ela saiu, os dois homens, como se a quietude nunca tivesse existido, voltaram a mirar nos pontos vitais um do outro.
Lee Wooshin apontou a arma para o peito de Kia.
Kia recuperou a faca caída e a encostou no corpo de Lee Wooshin.
“Você ainda não respondeu. O que exatamente aconteceu na Fortaleza de Inverno?”
“Eu não gosto de responder de graça.”
Diante da resposta debochada de Kia, Lee Wooshin assentiu friamente. Imediatamente pegou um travesseiro, pressionou-o contra o antebraço de Kia e puxou o gatilho.
“Argh…!”
O travesseiro explodiu com um buraco circular, soltando tufos de enchimento. Ao mesmo tempo, a faca de Kia cortou o lóbulo da orelha de Lee Wooshin.
“Droga!” Lee Wooshin rangeu os dentes, mas o olhar frio e focado permaneceu fixo em Kia.
“…”
“…”
Um pensamento gelado cruzou sua mente — aquela língua tinha estado em Seo-Ryeong.
Sua expressão ficou ainda mais fria. Sem hesitar, ele golpeou o maxilar de Kia com força, enfiando o cano da arma entre seus dentes.
O sangue escorreu entre os dentes de Kia, tingindo-os de vermelho. Ao ver aquilo, os lábios de Lee Wooshin se curvaram num sorriso gélido.
“Guh, ack…!” Kia tossiu violentamente, e Lee Wooshin afrouxou a arma apenas o suficiente para que ele respirasse. “Então arranque a cara daquele bastardo! O homem que se parece com o marido da Sonya!”
“…!”
“Vou considerar isso um pagamento justo.”
A SNI criara Kim Hyeon inspirando-se no rosto e no corpo do agente Jin Ho-jae. Kia não gostava disso.
Kia passou os dentes ensanguentados pelos lábios, sorrindo como se saboreasse geleia. Lee Wooshin o pressionou ainda mais contra o chão e recarregou a arma. Dessa vez, mirou no abdômen de Kia, empurrando o travesseiro contra ele.
Kia ainda assim sorriu, dizendo:
“Maxim Solzhenitsyn… o que o primeiro-ministro fez com as crianças de Sakhalin, o que usaram a Fortaleza de Inverno para fazer…” O cano da arma tremeu, imperceptivelmente. “Se você me trouxer o rosto daquele agente, eu me comporto.”
No dia seguinte, os agentes começaram a preparar a escolta das crianças.
Ajustaram os coldres com as pistolas bem presas à cintura, escondendo-as sob as batinas. Até a hora de partir, mantiveram os olhos atentos sobre as crianças, revezando-se durante as refeições.
Os agentes andavam em silêncio pelo porão. Não havia muito o que fazer — nem força bruta, nem ação real eram necessárias.
Na noite anterior, pouco antes de adormecer, Seo-Ryeong havia repassado na cabeça a expressão de Lee Wooshin. Teria sido depois de ver as crianças? De repente, ele parecera pálido.
Depois de se revirar na cama por um tempo, ela foi até o quarto dele de madrugada, mas voltou de mãos vazias. Felizmente, acabou dormindo profundamente depois disso.
“Ah, aliás, vocês ouviram aquilo ontem à noite?”
Jin Ho-jae quebrou o silêncio, falando num tom baixo.
“Ontem, estava tão barulhento que fui patrulhar o corredor.”
“…”
“Mas, ouvindo melhor… ha. Não era nada demais. Era o som de mesas rangendo, camas balançando… O que diabos estavam fazendo? O barulho vinha de vários quartos. Não sei de qual andar era, mas esses desgraçados da seita — pureza, uma ova. Aposto que ficam se encontrando às escondidas todas as noites, traindo os parceiros!”
O olhar de Seo-Ryeong parou em Lee Wooshin, largado numa cadeira. Ele não estava deitado nem ereto — apenas esparramado, relaxado. Qualquer resquício de inquietação que tivera no porão na noite anterior havia sumido.
De repente, ele abriu os olhos, e o ferimento sob eles se tornou mais visível. Um fino corte vermelho riscava sua pele — uma marca inconfundível de alguém.
Os agentes se agitaram em torno de Lee Wooshin naquela manhã, preocupados com o ferimento, mas ele ignorou os comentários barulhentos com frieza.
O corte era perto demais do olho — um pouco mais alto, e teria sido desastroso. Seo-Ryeong sentiu um arrepio subir pelo rosto ao se aproximar dele. Inclinando-se, sussurrou-lhe ao ouvido:
“Instrutor, quem foi que mastigou você desse jeito?”
“…!”
Quando ela tocou levemente a gaze em sua orelha, ele soltou uma risada suave.
“E se alguém tiver feito isso, o que você faria a respeito?”
O jeito como ele batucava o pé, quase desafiando-a, a deixou sem ar — irritada até.
Seo-Ryeong fechou a boca, respirando fundo para se acalmar. O rosto dele estava arranhado — e o resto do corpo? Estaria machucado também? Seu olhar se demorou nele, como se tentasse enxergar através da roupa.
“Por que está me encarando assim?”
“Quero dar uma olhada mais de perto.”
“O quê?”
Ele passou os dedos pelas sobrancelhas franzidas, piscando devagar.
“O quarto de onde disseram que vinham os barulhos ontem à noite… Era o seu, não era, Instrutor?”
“…!”
“Achou que eu não perceberia?”
Ele soltou uma risada amarga, murmurando para si mesmo: “Quem ela pensa que está acusando?”
Irritado, passou a mão pelo cabelo, suspirando enquanto massageava a nuca. O movimento fez o pomo-de-adão se mover lentamente.
“Agente Han Seo-Ryeong, tive um pesadelo ontem à noite. Havia uma cobra — completamente reta, nem mesmo enrolada.”
“O quê?”
“E então ela se arrastou para um lugar onde não devia.”
“Então você foi mordido?”
“Não, eu não fui—ugh, deixa pra lá.”
Ele franziu o cenho com força, como se estivesse frustrado com os próprios pensamentos.
“De qualquer forma, quando essa missão acabar… não seria bom irmos para bem longe?”
“O quê?”
“Vamos sair daqui. Juntos.”
O olhar frio dele atravessou-a — completamente despido de calor.