Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 115
“Partir… assim, do nada?”
Seo-Ryeong congelou, observando-o como se tentasse decifrar suas intenções. Ele não parecia estar falando em sair do mosteiro para umas férias curtas.
Seu pulso acelerou, batendo forte contra a garganta. Continuou fitando-o em silêncio, enquanto o olhar dele permanecia firme sobre o dela. A resposta já estava clara desde o início, mas dizê-la em voz alta parecia impossível.
“Eu…”
Você sabe que eu não posso simplesmente ir embora assim.
O pensamento ficou preso em seu peito, sem conseguir se transformar em palavras. Seo-Ryeong deu um passo para trás.
Lee Wooshin inspirou com força, o cenho franzido como se tentasse conter a irritação. Então, agarrou a mão dela.
“――!”
O aperto foi firme, o olhar inquieto preso ao dela. Aquela expressão ardente, quase desesperada, fez o estômago de Seo-Ryeong se revirar. O calor da mão dele queimava.
Mas ela ainda não tinha enfrentado Kim Hyeon— nem o havia responsabilizado por nada. Esse fardo não resolvido era uma âncora. Engolindo a hesitação, ela forçou o corpo a permanecer imóvel.
Enquanto aquele assunto não fosse encerrado, Seo-Ryeong sabia que não podia dar nem um passo adiante. Mudou de assunto de propósito.
“Você devia passar um remédio de verdade nisso, antes que piore.”
“…”
Lee Wooshin fechou os olhos, o rosto inexpressivo, como se aceitasse o momento em silêncio.
Mesmo assim, o vinco profundo entre as sobrancelhas traía sua irritação bruta. Ainda assim, ele não soltou o pulso dela. A pressão pulsante em seu braço preso era inegável.
Os agentes colocaram as crianças em um pequeno trailer preparado pelo mosteiro. Junto delas, foram colocados alguns cobertores, fraldas extras, garrafas d’água, toalhas e suprimentos diversos.
Assim que o trailer foi engatado no caminhão, os agentes tomaram seus assentos em silêncio, distribuindo-se de forma equilibrada.
Seo-Ryeong hesitou por um instante, sem saber onde deveria ir. Enquanto pensava, Jin Ho-jae se aproximou mastigando cenouras desidratadas e lhe ofereceu um punhado.
“Alguém tem que ir junto com as crianças, né?”
“Então eu vou.”
Sem pensar, Seo-Ryeong aceitou o lanche e respondeu. Nesse momento, Lee Wooshin surgiu, fechando uma das portas do trailer. Ele fez um sinal breve com os olhos frios.
“Agente Han Seo-Ryeong, sente-se ao meu lado.”
“…”
Seu rosto endureceu. Sem perceber, ela ergueu o queixo e olhou para o céu.
Jin Ho-jae olhou de um para o outro, depois ergueu rapidamente outra criança e entrou no trailer.
“Eu cuido disso!” disse, sumindo lá dentro.
Seo-Ryeong cerrou os punhos e, a contragosto, subiu para o banco do passageiro. Seus movimentos eram rígidos; a mão tremeu ao prender o cinto de segurança.
“Vai continuar agindo assim?”
Ela abaixou o tom da voz, exigindo uma explicação. Cumprir ordens de um superior — tudo bem, ela podia fazer isso. Mas uma irritação surda latejava sob a superfície.
Desde que haviam chegado ao mosteiro, aquele comportamento protetor e sufocante dele vinha lhe corroendo os nervos. Ainda assim, ela se conteve. Não podia desobedecer por impulso. Mas agora…!
“Tá cansativo pra você?”
“Não, Instrutor. Graças a você, tenho trabalhado tanto que nem sinto cansaço.”
Seo-Ryeong respondeu seca, mordendo um pedaço de cenoura. Sua voz cortou o ar, afiada no final.
Ele lançou-lhe um olhar de soslaio e ligou o motor. Bang, bang! Alguém bateu na lateral do trailer. Jin Ho-jae fez sinal para que parassem e se aproximou da janela do passageiro, coçando a cabeça.
“Ah… chefe, uma das meninas precisa ir ao banheiro…”
“E daí?”
“Bem, quando uma vai, as outras…”
“Eu cuido disso”, disse Seo-Ryeong, já soltando o cinto e se virando para sair.
Mas antes que pudesse se mover, Lee Wooshin puxou de volta o cinto com força, prendendo-o no encaixe com um clique firme.
O movimento brusco a fez congelar, encarando-o em choque.
“Agente Han Seo-Ryeong, retorne à sua posição.”
O som frio e medido da respiração dele estava tão próximo que parecia cortante. Jin Hojae hesitou, depois recuou. Seoryeong mordeu o lábio inferior, furiosa.
Ah, chega! Ele vai continuar com isso mesmo?
A irritação acumulada parecia prestes a explodir.
“Instrutor, eu posso ir lá atrás. Sei trocar fraldas sem pestanejar. Antes de entrar na BLAST, era exatamente isso que eu fazia. Sou rápida e eficiente.”
“Eu disse pra voltar pro seu assento.”
“Eu não sou tão boa em cobertura ou tiro quanto os outros, então pra que estou aqui, se não for pra ajudar nessas tarefas pequenas?”
A voz dela subiu, tomada por frustração. Passou a mão pela testa, tentando conter-se, mas o olhar que lançou a ele foi puro desafio.
“Era esse o plano desde o começo? Me mandar não fazer absolutamente nada?”
“Agente Han Seo-Ryeong.”
“Você realmente acha que me tratar como uma passageira é o mesmo que me tratar como uma agente de verdade?”
“Isso é decisão do líder de equipe”, respondeu Lee Wooshin, impassível.
“Sim, eu sei disso! Por isso venho tentando seguir ordens da melhor forma possível!”
Cerrando os dentes, ela desviou o olhar para a janela, bufando. Então ouviu a voz dele, baixa e firme:
“Olhe pra mim.” Ele segurou o queixo dela e virou seu rosto à força. A pele em que ele tocava queimava. Seus olhos tremiam, denunciando a emoção contida. “Parece que você acha que eu te vejo como um chaveiro, não como parte da equipe. Um novato não é contratado pra fazer nada específico. É contratado pra obedecer.”
“…!”
“Você está sentada aí pra ficar quieta e fora do caminho. Então por que,” ele estreitou um dos olhos, “continua tentando fazer algo?”
A raiva dela explodiu, mas Seo-Ryeong respirou fundo, controlando-se. Esse era um problema antigo desde que chegaram a Sakhalin. Sente-se aqui. Fique fora disso.
Mesmo após ouvi-lo ordenar duas vezes durante missões — para recuar, para não interferir — ela havia obedecido. Engoliu olhares desconfortáveis, engoliu o orgulho, engoliu tudo.
“Preciso explicar cada decisão pra uma novata?”
“…”
“Endireite o cinto e sente-se direito.”
Ele disse isso com um tom impassível, mas os olhos revelavam uma faísca perigosa. A tensão entre os dois era palpável.
Seo-Ryeong soltou o cinto, abriu a porta e desceu.
“Pode me punir, então.”
“…!”
Sem olhar para trás, caminhou até o trailer e trocou de lugar com Jin Ho-jae.
O coração dela batia acelerado, esperando que ele a seguisse — mas o caminhão, imóvel até então, rugiu de repente, partindo com um ronco agressivo. A condução era tão áspera quanto o humor do homem ao volante.
Seo-Ryeong pressionou as pálpebras latejantes com os dedos trêmulos, soltando o ar num suspiro pesado. Desde que havia chegado ali, nada parecia dar certo.
Mesmo depois de tê-lo enfrentado, sentia-se inquieta.
Cada palavra que ele dizia só fazia seu peito ferver mais, a teimosia se acumulando até sufocar. Não era adolescência — mas parecia.
Dentro do veículo sacolejante, balançando pela estrada de terra, Seo-Ryeong aproximou-se das crianças que cheiravam a urina. Seu rosto estava tenso, frio. Com movimentos automáticos, trocou as fraldas sujas, limpando-as com rapidez.
Os corpos pequenos, sujos e negligenciados por dias, estavam com a pele irritada. Ao ajeitá-los, ela suspirou baixo, sentindo o peso do desânimo. A sombra em seu rosto parecia espelhar sua desesperança.
Boom! Bang!
“—!”
Um estrondo ensurdecedor cortou o ar, lançando seu corpo para cima. Sua cabeça bateu no teto — um clarão branco explodiu diante dos olhos. Não houve tempo pra entender.
O que foi isso?
Aquele som — era uma explosão.
O trailer fora atingido com força, separando-se violentamente do caminhão. Começou a girar, rangendo, capotando várias vezes. O corpo de Seo-Ryeong chocava-se contra o metal, mas mesmo assim, ela estendeu os braços, tentando proteger as crianças.
“Ugh!”
O couro cabeludo ardia; o sangue quente escorria pela lateral da cabeça. Lutando contra a vertigem, forçou os olhos a abrirem. Um dos lados do trailer estava completamente esmagado. Mordeu o lábio, mantendo-se consciente à força.
“Hah! Ugh!”
Cada movimento enviava ondas de dor pelos ossos, mas ela resistiu, verificando as crianças uma por uma, tateando seus pulsos.
Estão vivas. Está tudo bem. Só desmaiaram.
Os cílios dela tremiam ao confirmar, mas, num segundo, ergueu a cabeça com um sobressalto.
E o caminhão? E os outros?
“Ah!”
Seu rosto empalideceu. Arrastou-se até a porta amassada e empurrou com o corpo. Quando ela não se moveu, começou a chutá-la com todas as forças.
A porta se abriu com um estalo metálico, e uma onda de calor intenso a atingiu.
“—!”
Lá fora, chamas vermelhas dançavam violentamente. Um foguete em forma de lança estava cravado no chão, ainda fumegando.
Tinha vindo de longe, cortando o ar e arrancando o engate metálico do trailer, partindo-o ao meio. Agora, os destroços do caminhão e do trailer estavam espalhados por todo o campo.
A parte dianteira do caminhão ainda se arrastava pelo chão, capotada, soltando faíscas conforme raspava na terra.
“Instrutor!”
Seo-Ryeong gritou até a voz falhar, mas o zumbido em seus ouvidos abafava tudo. Não percebeu o som de passos se aproximando por trás.
O farfalhar das plantações — susu-suk, susu-suk — foi a única coisa que ouviu antes de ser tarde demais. Um golpe certeiro a lançou ao chão.
“—”
O mundo girou. Sua visão turva captou o contorno de um queixo afiado, um sorriso largo — e pupilas contraídas.
Um rosto familiar pairava sobre ela, empunhando um lança foguetes apoiado no ombro como se fosse uma vara de pesca. O sorriso vacilava entre a alegria insana e a frieza absoluta.
Seu corpo mole foi arrastado pelo chão áspero; as pernas arranhavam a terra como juncos levados pelo vento.
Ela tentou reagir, cravando as unhas no solo, mas só conseguiu encher as mãos de terra.
Instrutor…
A visão escureceu completamente.