Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 128
“Cof, cof.”
Uma tosse fraca ecoou além do final incompleto do arquivo. Passos leves se afastaram lentamente, e uma melodia alegre começou a tocar ao fundo:
“Ela tinha um marido, ela tinha um marido.”
A gravação terminou bruscamente ali. Lee Wooshin ficou olhando para a tela escura, o rosto pálido se contorcendo em uma expressão de raiva.
“Filho da puta!”
O branco dos olhos, antes límpido, agora estava riscado de vermelho, como se tivesse sido atingido por um relâmpago.
A Vice-Diretora da SNI e o “Bicho-Papão” da Rússia estavam conversando abertamente sobre Caixa de Pássaros, uma operação ultrassecreta. A gravação revelava as verdadeiras intenções da Vice-Diretora — algo que ela havia escondido até mesmo de Wooshin, que tinha participado diretamente da missão.
Ele apertou o celular com tanta força que os tendões da mão pareciam fios de aço.
Será que eu ouvi errado? Ou talvez o arquivo tivesse sido adulterado? Eu duvido. Não havia sequer um por cento de possibilidade de falsificação.
A primeira hipótese que lhe veio à mente foi chantagem. Mas que tipo de alavanca poderia ameaçar uma mulher ambiciosa o bastante para chegar ao cargo de Vice-Diretora tão jovem?
A não ser que ela tivesse uma fraqueza fatal capaz de destruí-la…
O raciocínio dele parou de repente.
“—.”
Antes de a equipe de operações especiais partir para Sakhalin, como Joo Seolheon havia se comportado? Animada, defensiva, hesitante. Ele sempre soubera que ela manipulava as informações sobre a Coruja — editando e filtrando conforme sua conveniência antes de repassá-las.
Ela teria que ser completamente insana.
Um riso seco escapou dos lábios de Wooshin diante da arrogância contínua de Kia. Ele cerrou os dentes, engolindo o palavrão que subiu à boca, quando o celular vibrou novamente. Mas, mais uma vez, não era a ligação que ele esperava.
“Chefe… ouvi dizer que o senhor se machucou. Tá tudo bem? Posso fazer uma visita? Prometo que não chego nem a dez metros.”
A voz do outro lado tremia. Wooshin passou a mão pela nuca rígida e fechou os olhos por um instante.
“Esquece isso, Wonchang. Você analisou tudo que eu te mandei?”
“Ah, sim…! Confirmamos a ligação entre o diretor da SNI e o CEO Kang Taegon. Alguns executivos também estavam envolvidos. Graças ao Poison Tap que o senhor instalou, conseguimos provas sólidas pra caramba.”
“Bom trabalho.”
“Então… o senhor vai mesmo pedir demissão?”
“…”
“Se for aceita, pra onde o senhor vai?”
“Eu planejava recomeçar.”
Uma risada amarga escapou. Então é isso. Nem consigo largar o instinto de manipular e maquinar, não é?
Wooshin curvou os lábios num meio sorriso e moveu lentamente o pé enfaixado em um círculo. A dor subiu como fogo derretido por sua perna, mas ele mordeu a língua e aguentou firme. Firmou os dois pés no chão e ficou de pé.
As sobrancelhas se contraíram por um instante, mas logo o rosto perdeu toda expressão — liso, como cera derretida.
“Investigue o que a Vice-Diretora Joo Seolheon fez na época da ANSP.”
“O quê?”
“Veja se há registro de alguma viagem dela à Rússia.”
A ordem repentina causou alvoroço do outro lado da linha.
“E-espera, chefe…! Por que o alvo mudou de repente pra Vice-Diretora Joo?!”
“Joo Seolheon…”
Falava-se de um agente que havia se infiltrado no Castelo de Inverno e desaparecido. Alguém que registrou os últimos momentos do lugar antes de sumir sem deixar vestígios.
Joo afirmava conhecer o caso apenas por boatos. Dizia não saber quem era o agente — nem nome, nem gênero, nada.
O rosto de Wooshin ficou frio como gelo.
“Acho que ela pode ter sido a agente de campo naquela época.”
O olhar dele, agora gélido, se fixou na janela.
Uma semana passou mais rápido — e mais silenciosa — do que ela esperava.
Desde que as ligações constantes cessaram de repente, o tempo parecia correr de forma ainda mais suave. O toque insistente, que antes soava como uma bronca iminente, agora fora substituído por um silêncio tão incômodo quanto.
Seo-Ryeong começou a arrumar suas coisas em silêncio, sem contar a ninguém sobre sua designação para a missão na Guiné Equatorial.
O plano era se reunir primeiro num porto na França e, a partir dali, seguir pela costa atlântica até a Guiné — uma jornada que levaria pelo menos algumas semanas.
Antes de partir de vez, ela sentiu uma vontade inesperada de abrir a porta do quarto do marido — algo que não fazia há muito tempo.
Mas, assim que girou a chave gasta na fechadura, uma lembrança a atingiu como um empurrão: seu corpo sendo pressionado contra aquela mesma porta enquanto fazia amor com Lee Wooshin.
A sensação das omoplatas batendo na madeira, o calor e o peso dele a envolvendo.
Pega de surpresa pela lembrança, o pescoço de Seo-Ryeong corou. Ela apertou os lábios, firmou o aperto na maçaneta e girou-a.
“―”
O cheiro era familiar e, ao mesmo tempo, estranho. Lençóis brancos cobriam móveis e objetos, denunciando o abandono.
Houve um tempo em que apenas olhar para aquele cômodo a fazia sentir náusea, raiva, vontade de chorar, de quebrar tudo, de se agarrar a algo.
Um tempo em que ela não conseguia dar um único passo além daquele batente. Agora, tudo isso parecia distante — como se tivesse acontecido em outra vida.
Enquanto estava ali, perdida nessa dissonância, o celular vibrou no bolso.
“Alô?”
“Unnie! Eu confirmei — é mesmo um rastreador!”
Ao ouvir aquilo, Seo-Ryeong olhou para o adesivo transparente colado em seu pulso.
“Aquele plastiquinho que você me deu — ele rastreia sua localização em tempo real!”
Isso significava que Kia estava certo: ela só teria uma chance.
Sem saber o que poderia acontecer, Seo-Ryeong se preparara para tudo, prendendo o rastreador ao pulso — pronta para transferi-lo a outra pessoa, se fosse necessário.
“Por favor, toma cuidado!”
“Obrigada.”
Ela respondeu com leveza, mas a voz de Channa cresceu em volume do outro lado.
“Não tô brincando! Aquele lugar é um campo de batalha, ainda mais com essa nova Guerra Fria — China e EUA rondando como abutres! E a Guiné Equatorial, por mais ditadura que seja, se dobra toda pra China — nem o próprio dinheiro conseguem tirar de lá sem aprovação de Pequim!”
“É justamente por isso que essa é a oportunidade perfeita.”
“O quê?”
Um sorriso tranquilo surgiu nos lábios de Seo-Ryeong.
A missão na Guiné Equatorial era algo que ela queria desde o início do treinamento marítimo da Equipe de Segurança Especial. Desde o momento em que o líder, Lee Wooshin, explicou o plano — atravessar as forças chinesas que controlavam os portos da Guiné. Aquilo a fascinara.
“O que eles mais temem é que um incidente pequeno vire uma crise diplomática.”
“…”
“E isso também vale pro nosso país.”
“E-espera aí.”
“Channa, sabe qual é a maior ameaça no mar?”
Do outro lado, Channa soltou um gemido exasperado.
“Ai… lá vem você de novo.”
Três tentativas no máximo. Se duas falharam, a terceira teria de dar certo.
Seo-Ryeong puxou o lençol branco que cobria os móveis, revelando os pertences de Kim Hyeon.
“Dessa vez, ele não vai ter escolha a não ser vir atrás de mim.”
“Agente Han Seo-Ryeong!”
Jin Ho-jae abriu um sorriso largo, mesmo com a cicatriz de queimadura que subia do pescoço até a bochecha como uma chama viva. Apesar do ferimento, seu semblante era o mesmo de sempre — cheio de energia.
O tom alegre dele finalmente permitiu que Seo-Ryeong relaxasse os ombros, tensos desde o início.
A caminho do aeroporto, ela havia corrido até o hospital ao saber que Jin Ho-jae recobrara a consciência.
Nem aquela ferida horrível parecia capaz de diminuir o entusiasmo dele. Já falava, animado, sobre a cirurgia de reconstrução que faria assim que recuperasse as forças.
A natureza otimista e resiliente dele lembrava Kim Hyeon. Sem perceber, Seo-Ryeong o observou com atenção.
“Mas o que é essa mochila aí? Vai pra onde, Agente Han?”
“Ah… só fiz uma faxina em casa.”
A desculpa não convenceu, mas ninguém questionou.
Enquanto os colegas de Jin Ho-jae discutiam animadamente sobre o incidente — trocando provocações sobre quem tinha agido bem e quem tinha vacilado — Seo-Ryeong saiu discretamente do quarto.
Lá fora, acelerou o passo sem motivo aparente. Ajustou a mochila cheia nas costas e atravessou o parque interno — até parar de repente.
“―”
Fazia uma semana desde a última vez que vira aquele rosto.
À distância, Lee Wooshin estava sentado sozinho em uma cadeira de rodas, distraído com o celular.
As bandagens espessas, antes parecendo blocos de isopor, haviam sido trocadas por curativos finos. Ele empurrava a cadeira para frente e para trás com o pé bom, parecendo um cobrador de dívidas impaciente.
Seo-Ryeong o observou por um momento antes de se sentar em um banco, longe o bastante para não ser vista.
“Ah—!”
Um barulho alto irrompeu de repente quando alguém caiu perto dali. Assustada, Seo-Ryeong olhou e viu um jovem estirado sob o banco.
Parecia ter uns vinte e poucos anos. O boné caíra, revelando um rosto juvenil agora pálido. Segurando o peito, como se estivesse prestes a ter um ataque de asma, ele a fitava de olhos arregalados.
Por alguns segundos, ficou imóvel, até que, percebendo algo, escondeu rapidamente o celular que segurava ao ouvido e desviou o olhar.
Usava um cardigã cinza sobre uma camisa simples — tinha ares de um estudante de engenharia comum. Ao lado dele, um notebook, um sanduíche intocado e uma garrafinha de leite de banana.
Na tela do laptop, um programa desconhecido rodava em alta velocidade.
No instante em que o olhar de Seo-Ryeong pousou na tela preta, uma mão disparou como um arpão, batendo a tampa do notebook com força.
Seus olhos se cruzaram. O rapaz engoliu em seco.
“C-co… Coruja. Digo, oi- não, prazer- espera, não…”