Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 129
Sua gagueira atrapalhada o tornava ainda mais suspeito. Seo-Ryeong se moveu sutilmente, aumentando a distância entre os dois.
Sua pele pálida e frágil. Os olhos, ligeiramente trêmulos — ele parecia estranhamente inocente para um homem da sua idade. Era alto, magro, mas não franzino — apenas desajeitado, como se não soubesse o que fazer com o próprio corpo.
Ele se recompôs com esforço e voltou a se sentar no banco, porém sua postura rígida e ereta parecia artificial, quase inquietante. Embora lançasse olhares furtivos na direção dela, mantinha as mãos firmes sobre os joelhos, como um soldado à espera de ordens.
“A gente já se conhece?” perguntou Seo-Ryeong, com naturalidade ensaiada.
O homem estremeceu outra vez.
“N-não? Eu só… fiquei feliz em te ver — não! Quero dizer, eu nem te conheço! É a primeira vez que a gente se encontra!”
“…”
“É que… você é muito bonita.”
“…”
“Você não sai bem nas fotos, né? Seu rosto é tão tridim— ah! D-desculpa!”
O que há de errado com esse cara? Isso conta como flerte?
“Eu me empolguei! Mas não foi de propósito!”
“…”
“Me desculpa se fui grosso! É só que… é realmente a primeira vez que te vejo.”
Que sensação estranha era aquela? Seo-Ryeong franziu o cenho, desconfiada, enquanto o jovem começava a suar de nervoso. O rosto pálido dele estava uma bagunça de vergonha e frustração.
No fim, ele abriu a mochila de forma desajeitada e começou a juntar as coisas. Parecia prestes a ir embora — mas, mesmo depois de colocar a mochila no ombro, hesitou. Seus olhos insistiam em furtivos olhares laterais, como se não quisesse se afastar.
Havia algo de desesperado e persistente naquele olhar.
O que há de errado com ele? Seo-Ryeong franziu as sobrancelhas, lançando um olhar em volta. Será que havia algum gato perdido ali por perto, e era isso que ele estava encarando?
“Você me conhece?” perguntou por via das dúvidas. Talvez fosse alguém que ela tivesse encontrado no tempo em que ainda não enxergava.
O jovem ficou rígido, depois balançou a cabeça depressa. Ainda assim, abaixou o boné e apertou as alças da mochila.
“Noona-!”
Nesse instante, uma bola rolou até bater no pé dela, quicando para longe, seguida por gargalhadas agudas de crianças.
Em segundos, um grupo de pequenos se aglomerou ao redor dela, puxando sua calça e sacudindo suas pernas com entusiasmo.
“Noona! Por que demorou tanto? Aquele tio vem aqui sozinho e fica te esperando!”
“Ah!”
“Quando você não tá aqui, ele nem empurra a gente na cadeira de rodas! Fica emburrado e diz que não vai brincar!”
Sentindo o suor frio escorrer pelas costas, Seo-Ryeong tentou, com cuidado, desgrudar as crianças.
“O tio tá de birra, então vai lá e dá um beijo nele, Noona!”
Ela se abaixou pela metade, tentando escapar discretamente, mas o corpo travou.
“É! Igual da última vez! Um beijo demorado! Aí o tio deixa a gente passear na cadeira de rodas, Noona!”
Seo-Ryeong virou os olhos em direção a Lee Wooshin, que, felizmente, parecia completamente desinteressado no caos ao redor, esparramado preguiçosamente em sua cadeira.
Ótimo. Significava que ainda dava tempo de sair dali antes que ele percebesse. Ela não podia acreditar que uma simples pausa num banco tinha virado essa confusão.
“Você fez isso com aquele cara?” perguntou o jovem de repente, inclinando-se para ela, os olhos arregalados.
As crianças pulavam ao redor, prontas para correr, enquanto ele a fitava com uma expressão inocente — pura demais, quase infantil.
“Shhh! Silêncio, todo mundo!” ela sussurrou, abanando as mãos como quem tenta acalmar uma multidão. Ao mesmo tempo, planejava sua fuga mentalmente. “Não, não é nada disso… E eu já tô de saída.”
“Pra onde vai?”
“Hã… só uma viagem, pra bem longe.”
“Com uma mochila desse tamanho? Quão longe é “longe”?”
“Vou pegar um barco.”
“Por que vai de barco?”
As perguntas dele saíam em sequência, e Seo-Ryeong acabou respondendo no automático. Quando se deu conta, percebeu que não estava mais falando com as crianças — e sim com ele.
O rapaz já havia tirado o boné, olhando-a fixamente.
Algo em seu olhar havia mudado.
“Isso não é perigoso demais?” disse ele, com uma calma inquietante. “Barcos são pequenos, e o mar é imenso.”
“O quê?”
“Você tá levando muita bagagem… Não devia avisar sua família antes de ir?”
“Como é que é?”
Antes que Seo-Ryeong pudesse reagir, o jovem sacou o celular e começou a digitar com rapidez, os dedos rígidos, os lábios pressionados com força — parecia nervoso, ansioso demais.
Cric, cric.
O som de rodas mal lubrificadas ecoou à distância. O coração dela disparou.
Ao virar o rosto, viu Lee Wooshin — ainda de avental hospitalar — empurrando a si mesmo para fora da cadeira de rodas, o olhar de um predador que acabara de farejar a presa.
Se ele a alcançasse ali, ela perderia a última chance de encontrar Kim Hyeon.
Sem hesitar, Seo-Ryeong se virou para fugir — mas alguém agarrou a alça da mochila, impedindo-a de se mover.
Era o jovem ao seu lado.
“―!”
A partir daí, ela não pensou — apenas reagiu.
Seu corpo se moveu por instinto: quebrou o braço fino dele num golpe seco, varreu sua perna, forçando-o de joelhos, e prendeu sua garganta pálida no vão do braço.
Gritou, tensa:
“Não se aproxime! Fale daí mesmo! Eu não tenho tempo pra discutir, Instrutor! Só estou passando!”
Lee Wooshin congelou, observando-a recuar enquanto arrastava o rapaz como refém.
Seus olhos afiados pousaram no homem capturado — e sua expressão endureceu, como se algo o incomodasse profundamente.
Pela primeira vez em uma semana, o celular de Seo-Ryeong vibrou.
Ela acelerou o passo, ainda puxando o homem, e atendeu.
Era a primeira ligação desde aquele beijo impulsivo e a fuga.
“Eu disse pra você não vir atrás de mim!”
“Entendido. Agora larga esse cara.” a voz grave soou fria e precisa no ouvido dela. “Você tá segurando um pervertido qualquer. Não sai agarrando estranhos assim.”
“O quê…?”
“Escuta bem. Vou contar até três. Solta antes que eu termine.”
O tom ameaçador atravessou o alto-falante como uma lâmina.
“Três. Dois…”
Lee Wooshin estreitou os olhos, claramente irritado.
O jovem em seus braços se contorceu, assustado. Mas quanto mais ele lutava, mais forte ela o segurava.
Então, quando Lee Wooshin deu um passo à frente, ambos estremeceram.
“Não se mexa! Instrutor, não faça nada! Se vier pra cá, eu… eu…!”
Seo-Ryeong hesitou por um instante antes de soltar, desesperada:
“Eu faço uma loucura aqui mesmo!”
“O quê?”
A sobrancelha dele se contraiu.
O rapaz, por sua vez, ficou paralisado, o rosto em chamas — não de medo, mas de pura vergonha.
Lee Wooshin fechou o punho, depois o soltou lentamente, endireitando a cadeira de rodas caída.
Quando a tensão pareceu diminuir, Seo-Ryeong aproveitou para ir direto ao ponto.
“Eu só preciso sair por um tempo! Eu volto logo, então se concentre na recuperação-“
“Onde?” por baixo do avental hospitalar, o peito dele subia e descia de maneira controlada, mas intensa. “Você recuou quando eu pedi pra vir comigo. E agora, de repente, vai embora?”
Ela viu seus lábios se comprimirem, mas ainda assim não conseguiu dizer que ia atrás de Kim Hyeon.
Houve um tempo em que os dois podiam sentar à mesa e conversar sobre qualquer coisa, sem hesitar… mas agora—
Deixá-lo ali, sozinho, era mais difícil do que imaginava.
“Fui designada temporariamente pra Equipe Beta.”
“O quê?”
“É só por alguns dias.”
“Você chama isso de explicação?!”
O cabelo escuro dele, brilhando sob a luz do sol, balançou quando franziu o cenho. Então, como se não acreditasse no que via, passou a mão pelos olhos.
Os lábios se curvaram num sorriso vazio, um riso abafado escapando pelo fone.
“Te dei tempo pra agir como um homem decente, e você desperdiçou tudo com besteira.”
“…!”
“Enquanto isso, eu sonhava com você todas as noites, sentindo falta como um idiota. E agora, depois de uma semana, te encontro agarrada a um completo estranho.”
“Isso não é—!”
“Seo-Ryeong é mesmo absurdamente bondosa, né?”
O tom sarcástico cortava como gelo. Ela o fitou, sem saber o que dizer.
“Mas, vendo você assim, estranhamente, a raiva toda passou. Até a dor de cabeça sumiu. Engraçado, né? Talvez seja por isso que eu não consigo largar essa maldita ganância. Quanto mais penso, mais percebo que virar o desgraçado que destrói tudo pode ser exatamente o que eu nasci pra ser.”
Um riso amargo, quase um suspiro, atravessou a ligação.
“Só por uma vez, quero viver como um lixo — ignorando completamente o que você quer.”
Ela não ouviu o resto.
Mesmo parado ali sob a luz do sol, Lee Wooshin parecia afundado num poço, imóvel. Sorrindo enquanto falava — o que ele realmente estava pensando?
“Dizem que se deixar uma ferida assim, ela apodrece. Tem que ventilar, trocar o curativo todo dia…”
Mesmo cercado de gente, ele parecia solitário.
Mas tudo o que ela pensou foi: pelo menos ele não veio atrás de mim.
Ainda assim… dava pra chamar aquilo de despedida?
O rapaz que ela arrastava já não resistia. Seguia dócil, quase calado.
Enquanto a distância entre ela e Lee Wooshin aumentava, Seo-Ryeong falou por impulso.
Não era uma promessa — ainda não. Apenas palavras.
“Então espera mais um pouco.”
“…”
“Você disse que até sonha comigo. Tem gente que nem aparece, por mais que a gente sinta falta. Comparado a isso, acho que eu sou bem legal, não acha? Cuide de si. E, por favor, não vá pensar na sua ex-esposa só porque tá bravo comigo.”
“…!”
“Se for inevitável, pelo menos me dá um nome ou um número antes.”
Até logo.
Ela forçou um sorriso — frágil, mas luminoso.
Lee Wooshin ficou imóvel, como se um raio o tivesse atingido.
Acompanhou-a com os olhos, os lábios entreabertos, e um sussurro escapou, leve como o vento:
“Eu deveria?”
“Hã?”
“Quando minhas pernas sararem. E se você voltar. Então.”
A luz do sol se derramava sobre sua cabeça inclinada, o pescoço curvado sob o peso invisível de algo profundo.
Seo-Ryeong não fazia ideia do que ele queria dizer.
Mas o coração dela disparou.
Essa era a despedida deles.