Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 133
“Você!”
O rosto de Joo Seolheon endureceu. Lee Wooshin continuava com aquele ar calmo e arrogante de sempre — mas suas mãos o traíam, roçando inquietas pela nuca, denunciando a impaciência que fervia por dentro.
“Precisamos trazê-la de volta antes que ela faça algo ainda pior.”
“Você é quem parece prestes a causar confusão.”
O olhar dela o atravessou — frio, cortante, como se pudesse ver direto dentro da alma dele. Mas mesmo sob aquele olhar que desnudava tudo, Wooshin não recuou.
Era como se essa fosse sua última chance de colocar tudo às claras.
Sua mente estava tomada por Han Seo-Ryeong.
Mas quanto mais forte o sentimento se tornava, mais o ódio por si mesmo o corroía — um parasita se enrolando nas entranhas, sugando o que restava da razão. Desde aquele beijo, aquele abraço, era como viver um pesadelo acordado.
Desde quando eu tenho tanta consciência assim? Não tem como…
A dor era mais aguda do que ele esperava. Cada vez que uma gaze ensanguentada caía no lixo, parecia que junto dela ia também o resto da sua convicção — suja, inútil.
Foi assim que Seo-Ryeong venceu. Ela o empurrou para um caminho que ele jamais teria escolhido.
“Wooshin, estou te avisando — não segue por essa estrada.” os olhos de Seolheon, afiados e penetrantes, se fixaram nele. “Você acha que não é ganância querer uma vida normal agora?”
Wooshin permaneceu em silêncio. Seolheon esmagou o cigarro, acendeu outro e deixou a fumaça cobrir o rosto, como uma cortina.
“Kim Hyeon não foi a única ilusão. A Coruja, a casa de lua de mel, o casamento — nada disso foi real pra você também. Então por que diabos você se deixou levar? Quer tudo de volta? E ainda quer perdão por cima disso?”
O cheiro de comida apodrecida impregnava o ar. Em algum canto do restaurante abandonado, alguém havia urinado — o fedor de amônia era sufocante.
Mesmo assim, Seolheon permanecia impecável, com uma perna cruzada sobre a outra.
“Então você acha que revelar sua identidade vai te redimir de alguma forma?”
“Eu vou pagar pelo que fiz.”
“O quê?”
“Sem enrolação. Eu assumo a culpa por vazar informações confidenciais.”
“…”
“Até os mafiosos saem com pelo menos um dedo sobrando. Já fiz as contas.”
“Esse não é o tipo de trabalho que se resolve com mutilação.”
“Quer que eu ofereça mais, então?”
O sorriso mal apareceu em seus lábios antes que Seolheon se levantasse de repente. Os saltos estalaram pelo chão — e, sem aviso, ela cravou o salto agulha bem no pé ferido dele.
A sutura se rompeu na hora, e uma dor lancinante subiu pela perna. Wooshin cerrou o maxilar, engolindo o grito. Seolheon torceu o calcanhar, girando como quem apaga um cigarro.
“Vai lá e traga a Coruja. Deixe que ela te capture, só uma vez. Mas quando chegar a hora, aja exatamente como antes, Wooshin. O único papel do marido da Coruja é desaparecer — bem no instante em que ela tentar alcançá-lo.”
A raiva explodiu. O calor subiu pela espinha, queimando o raciocínio. Wooshin cerrou os punhos, depois os abriu à força — o maxilar tenso, prestes a estourar.
“Você não pode apagar todas as dúvidas sobre Kim Hyeon só pra aliviar a própria culpa.”
“Isso soa como se você quisesse que Seo-Ryeong continue infeliz.”
“Ser um pouco infeliz é melhor do que estar morto, não acha?”
O rosto dela era impiedoso, gelado.
“Odiar alguém significa que você ainda tem força pra viver. Sentir falta de alguém quer dizer que ainda está disposto a aguentar até o fim. E procurar alguém — isso é esperança, mesmo que seja podre e inútil. Mas se você destruir tudo isso… você acha mesmo que a Coruja vai ficar ao seu lado?”
O rosto dele se contorceu em fúria. As palavras dela só intensificavam o pânico que o corroía por dentro. A boca parecia selada, como se tivesse sido colada.
“A Coruja vai quebrar. Se ela perder até o último fiapo de esperança, se cortar qualquer laço com esse mundo, e então encontrar Rigay… no fim, ela vai seguir os passos do pai.”
De repente, uma mão agarrou o colarinho dela.
“Se ela cair nas mãos dos russos, vão abrir o crânio dela. Vai apodrecer em algum buraco escuro, longe de você, sem jamais ver a luz do sol.”
Crash—!
Wooshin perdeu o controle. Empurrou Joo Seolheon contra a parede.
Já era demais.
A raiva subia como fogo, subindo pela coluna, queimando tudo. Os dedos dele apertaram o pescoço dela, prendendo-a contra a parede pichada sem hesitar.
Ela já não era mais sua superior.
Era apenas algo que precisava desaparecer.
A pele dela ficou vermelha sob a pressão.
“Você devia ter se conformado em perder um braço e uma perna.”
A voz dele soava calma, mas a fúria por baixo era cortante, prestes a explodir.
“Codinome Sonya.”
“――!”
Pela primeira vez, o medo apareceu no rosto de Joo Seolheon. Os cabelos cuidadosamente arrumados caíram sobre o rosto, e a respiração dela ficou áspera.
O olhar afiado de Wooshin não vacilou. Ele observava cada microexpressão dela.
“Seu desgraçado! Era só seguir as ordens!”
A cor sumiu do rosto dela, mas o olhar não se desviou.
Então, como se algo a atingisse de repente, Seolheon fechou os lábios e baixou o olhar. Uma sombra de desespero percorreu seus olhos antes que ela falasse, num tom quase vazio:
“Rigay foi o primeiro — e o único — a concluir com sucesso um experimento de lavagem cerebral.”
A voz dela, despida de emoção, ecoou pelo ar pesado, atravessando o tempo.
“No começo, eles injetavam um soro especial no corpo das pessoas, criando um efeito hipnótico permanente. Como não conseguiam se libertar sem um gatilho específico, chamaram isso de lavagem cerebral — mas, na verdade, era mais como uma forma extrema de sugestão.”
“…”
“Depois, Rigay levou o conceito mais longe. Ele acreditava que, implantando um chip eletrônico no cérebro, as pessoas poderiam ser… recicladas.”
Ela fechou os olhos por um instante, depois os abriu novamente.
“O protótipo que ele criou era perfeito. Mas na época, a tecnologia necessária ainda não existia. Então a pesquisa foi enterrada, classificada como ultra-secreta. Mesmo assim, a simples ideia de reciclagem humana… era tentadora demais pra ser ignorada.”
Wooshin franziu as sobrancelhas, mas continuou ouvindo em silêncio.
“A Rússia acreditava que essa tecnologia permitiria construir uma Eurásia unificada. Os Estados Unidos também a queriam. Quem dominasse isso primeiro se tornaria a superpotência mundial. Era óbvio. Os que controlam os bastidores — em qualquer canto do mundo — pensam sempre do mesmo jeito.”
Foi então que o olhar de Joo Seolheon vacilou.
“Mas Rigay foi destruído. Ninguém nunca encontrou a pesquisa dele.”
Os olhos avermelhados dela tremeram violentamente.
A voz baixou até virar um sussurro — um sussurro que rasgou tudo o que Wooshin acreditava saber.
“Mas ela tem.”
Os lábios de Seolheon empalideceram. As palavras quase inaudíveis desmoronaram tudo o que Wooshin pensava compreender.
Pela primeira vez, Joo Seolheon estava revelando a verdade escondida.
“Rigay deixou todo o seu legado dentro da mente daquela garota.”
“…!”
O rosto de Wooshin congelou.
Seolheon agarrou o colarinho dele, aproximando os lábios de seu ouvido.
O toque parecia um pedido de socorro — uma confissão que jamais deveria ser dita.
“Por que você acha que eu escondi isso de você? Quase ninguém sabe que Rigay teve uma filha. E os poucos agentes que souberam… estão praticamente todos mortos.”
Os olhos frios dela agora carregavam outra coisa.
Um pressentimento inevitável.
“Talvez você acabe sendo um deles também.”
“…!”
Wooshin mal sabia se ainda estava de pé.
“A Coruja nunca pode ser exposta ao mundo. Ela precisa continuar sozinha, chorando pelo marido que acha ter perdido — como sempre fez. Tudo o que temos que fazer é vendá-la e brincar de esconde-esconde de vez em quando.”
“…”
“Quem te deu o direito de destruir esse mundo seguro?”
A voz de Joo Seolheon vibrou no ar — trêmula, desesperada.
“Não existe isso de proteger algo de forma bonita!”
As palavras cortaram como lâmina. O aperto dele afrouxou lentamente.
“Algumas missões duram a vida inteira. Isso é o que significa responsabilidade, Wooshin. O que você precisa abandonar não é a culpa — é esse desejo tolo e egoísta de ser amado.”
Um enjoo subiu pela garganta dele. A vontade de destruir tudo o que via queimava dentro dele, selvagem e incontrolável.
“Se realmente se importa com ela, não perca pra sua versão fraca.”
Joo Seolheon foi embora primeiro.
Wooshin ficou sozinho, no meio dos destroços, engolindo o incêndio que o consumia.
Ele não sabia quanto tempo ficou parado ali — imóvel, como uma árvore seca e apodrecida. Era como se tivessem pregado sua língua e garganta com pregos de ferro, impedindo-o de falar.
Com o rosto coberto por uma barba rala, olhou o relógio. Não havia tempo pra processar nada — nem o turbilhão de informações, nem o que sentia. Mas bastou imaginar Seo-Ryeong, perdida em algum lugar no mar, para o seu pé dolorido se mover sozinho.
Ele se sentou na cadeira onde Seolheon estivera, enfiou a mão no bolso do casaco e tirou uma fotografia amassada.
O dia em que a Operação Caixa de Pássaros terminou.
A foto de casamento que ele nunca conseguiu jogar fora. Amassada, rasgada — mas ainda inteira.
Os dedos percorreram o rosto de Seo-Ryeong, várias vezes — o rosto da mulher de vestido branco.
Eu só posso ser o marido dela como Kim Hyeon.
“――”
Lee Wooshin se levantou.
Pela primeira vez em muito tempo, estava a caminho de ver sua esposa.
A última fagulha de luz em seus olhos havia desaparecido por completo.