Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 135
“Ugh!”
Não consigo ver nada. Está tudo escuro.
Por mais que piscasse, não havia um fiapo sequer de luz.
O coração de Seo-Ryeong afundou, e um medo familiar voltou a se alojar em seus ossos.
Ela tentou mover o corpo rígido, desesperada para entender a própria situação. O som metálico das algemas ecoou quando se remexeu, e uma dor aguda correu dos ombros até os pulsos. Os membros estavam amarrados com força a algo que parecia uma cadeira de madeira dura.
“Haah…”
Mentiroso. Ele disse que estaria ao meu lado quando eu acordasse.
Ao piscar rapidamente, seus cílios tocaram em algo. Não era cegueira — era uma venda. Um alívio imediato percorreu seu corpo.
“Maldito trapaceiro…”
“Está falando de mim?”
A cabeça dela se ergueu num sobressalto. Uma voz grave ecoou perto demais, cercada pelo cheiro forte de tinta fresca.
“Você está aqui?”
“Pare de se mexer. Vai se machucar.”
“Então tire essa venda!”
Ela gritou, impaciente. Devia ter atirado nele na hora. Mas quando viu Kim Hyeon, algo dentro dela simplesmente… cedeu.
Toda a jornada exaustiva no mar, o treinamento impiedoso — tudo a havia trazido até aquele momento.
E, no instante em que o encarou, uma sensação estranha de libertação a invadiu.
Finalmente, estava livre da dor de procurá-lo em vão. Um alívio agridoce se instalou, embora isso não significasse rendição.
“Você disse que ficaria ao meu lado, mas tá brincando comigo? O que é isso, uma daquelas brincadeiras antigas de cabra-cega?”
“Vou tirar.”
A cadeira rangeu quando ele se aproximou. Ela sentiu a mão dele roçar suavemente o dorso da sua.
“Se você ouvir o seu marido.”
No mesmo instante, Seo-Ryeong deu uma cabeçada nele.
Um estalo seco ecoou quando os crânios se chocaram.
Sem hesitar, ela girou o corpo inteiro, usando a cadeira para acertá-lo.
“――!”
A estrutura frágil se despedaçou no impacto. Seo-Ryeong libertou as pernas amarradas e o chutou no abdômen.
Mas antes que conseguisse se equilibrar, ele agarrou seu tornozelo e a arremessou sobre a mesa.
“Ugh…!”
A dor se espalhou por suas costas.
Ela sempre soube que Kim Hyeon era agente do Serviço Nacional de Inteligência, mas lutar com ele — de verdade — era algo completamente diferente.
Clicando a língua, ele tentou segurá-la, mas ela não perdeu tempo: rolou o corpo e despencou da mesa para o chão.
Os pedaços da cadeira se espalharam, e finalmente seus braços e pernas estavam livres.
Ela levou a mão à venda para arrancá-la…
Thud!
Um peso forte caiu sobre ela.
Uma mão poderosa pressionou seu rosto, e o corpo dele a imobilizou pelos quadris.
“Querida, você não entende a situação em que está?”
“Mmgh!”
“Você causou mais confusão do que imagina, Ryeong.”
Ela não conseguia se mover. As coxas de ferro dele prendiam seu corpo, e as mãos enormes seguravam seus pulsos com força.
Mas o que realmente a paralisou… foi o jeito como ele a chamou.
Aquele apelido íntimo.
E o pior — o corpo dela ainda reagia àquilo.
Enquanto ela ainda lutava contra o choque, Kim Hyeon enfiou um pedaço de madeira — resto da cadeira — entre seus dentes, como uma mordaça.
“Os soldados chineses que você exterminou—”
“Mmph!”
“Tem muita sujeira pra limpar. Silenciar a imprensa, cobrir despesas médicas, reparar danos. E, no pior dos casos, pedirem sua extradição.”
“…”
“Se eu não tivesse te tirado de lá, teria sido executada ou levada pra uma injeção letal. As leis deles não perdoam. Você quase morreu de um jeito miserável. Já entendeu?”
De algum modo, suas pernas se fecharam com força.
“Até quando vai espernear como uma égua selvagem no cio?”
“Ugh!”
A saliva escorreu pelo canto da boca. Ela não conseguia ver, nem fechar completamente os lábios, e o corpo inteiro estava preso. A vergonha queimava em sua pele. Mesmo assim, a voz de Kim Hyeon continuava fria, calma.
“Quando o interrogatório acabar, vou te mandar pra casa mais cedo.”
“…!”
“Dependendo das suas respostas, você pode ser acusada de violar a Lei de Segurança Nacional — ou eu posso encobrir tudo. Então coopere. A SNI está ocupado apagando o incêndio que você causou.”
“Mmph!”
Uma dor latejou na nuca. Ao tentar se mover, ele apertou com mais força. Só então ela compreendeu de fato o que estava acontecendo.
Ela estava ali para ser interrogada — pelo próprio marido.
Uma mão firme passou por baixo de seus braços e a puxou de volta pra posição sentada. Ele a arrastou até outra cadeira, conferiu as algemas, depois levantou a cadeira inteira e a colocou diante da mesa com um estrondo.
Ela sentiu o corpo dele se inclinar, as mãos prendendo os apoios da cadeira.
“Você pretendia incitar conflito entre nações, criar tensão e abalar a segurança regional?”
Ele retirou o pedaço de madeira da boca dela, esperando uma resposta.
Aquele homem diante dela não parecia em nada com o Kim Hyeon que conhecia.
Seo-Ryeong passou a língua nos dentes doloridos antes de responder:
“Minha resposta importa?”
“Você colocou o país numa posição difícil. Claro que precisamos verificar. Além disso… eu queria estar errado sobre você.”
“Então sinto muito por te decepcionar.”
“…”
“Eu sabia exatamente o que estava fazendo. E, sinceramente? Talvez eu quisesse mesmo que você e a SNI fossem direto pro inferno.”
Ela sorriu, provocante.
“Mas considerando quanto tempo demorou pra me pegar, acho que fiz um belo trabalho.”
Kim Hyeon ficou em silêncio.
“Você não tem ideia do que foi, do quão sozinha eu estava.”
Ela manteve o sorriso, mas os olhos dela tinham um brilho cortante. A voz dele endureceu.
“Continua insolente como sempre.”
“…!”
“Talvez eu tenha te mimado demais. Você realmente não entende o que está em jogo? Se surgirem rumores de que trabalhou pros norte-coreanos, acabou pra você. E se algum rato vazar isso pra imprensa — a tentativa de deserção, o hackeamento, o ataque à cúpula, o sequestro da vice-diretora — e agora isso.”
A unha dele pressionou o lábio inferior dela, rasgando a pele num ardor fino.
“Você nunca mais vai jogar esse joguinho comigo.”
O rosto dela endureceu.
Não pelas palavras — mas porque o rosto que lhe veio à mente… não era o dele.
A mente de Seo-Ryeong clareou num estalo.
O rastreador.
Ela o tinha mordido não só pra feri-lo — mas pra colar o rastreador nele, usando o caos a seu favor.
Colar o dispositivo nas roupas ou sapatos seria inútil — um agente como ele perceberia na hora. Pensou em colocá-lo no pescoço, mas não sabia onde terminava a pele real e começava o disfarce.
Tinha só uma chance. O rastreador precisava estar num lugar que não mudasse — mesmo que ele alterasse a aparência.
Foi uma aposta completa. Quando o atingiu com a cabeçada e o derrubou, puxou o pequeno filme redondo preso à manga e o colou na meia dele. Ele podia trocar de sapato às pressas… mas de meia? Era improvável.
Agora restava a caçada real. Precisava encerrar o interrogatório o mais rápido possível para rastrear o esconderijo dele.
As mãos tremiam com a vontade de contatar Channa imediatamente. Ela precisava sair dali e confirmar se o sinal estava ativo — e logo.
“De agora em diante, a SNI vai negar tudo, independente das solicitações. Mas pra isso dar certo, Seo-Ryeong, você precisa cooperar. Sem incidentes. Sem confusões.”
“…”
“É simples. Este é um termo de consentimento dizendo que você concorda em ser monitorada por um tempo. Assine, e eu te libero imediatamente.”
Ela ainda não podia ver. A voz dele soava serena, mas por dentro, ela congelava.
Uma prancheta foi colocada à sua frente, seguida do clique seco de uma caneta sendo destampada. Quando virou o rosto em recusa silenciosa, ele agarrou seu queixo, levantando-o como se quisesse encará-la através da venda.
“Não? Não gosta das minhas condições?”
“…”
“Então que tal voltarmos? Casal de fim de semana, talvez?”
O tom era de piada, mas Seo-Ryeong rangeu os dentes. Maldito.
Aquela diferença sutil e assustadora… aquilo não era Kim Hyeon. Por mais convincente que fosse, ele era algo criado. Mesmo que arrancasse aquela máscara, encontraria apenas um estranho por baixo. No instante em que descobrisse a verdade, Kim Hyeon sumiria — como uma miragem.
“Naquela época, eu achava que não me importaria em ficar cega de novo se isso fizesse você voltar. Fiz tantas loucuras… e nunca me arrependi. Mas hoje…” Ela soltou um leve suspiro. “Acho que finalmente me arrependo.”
“…”
“Me dá a caneta.” a voz dela estava firme. “Vou fingir que isso são os papéis do divórcio que nunca assinei.”
Ela precisava fingir, por ora — e sair dali o quanto antes. O rosto dela estava impassível, mas por dentro, o pensamento acelerava como um cronômetro prestes a estourar.
Só de pensar no rastreador, o coração disparava. A boca estava seca. Ela balançou os braços presos, exigindo em silêncio que a soltasse.
“Prometo não fazer nada perigoso outra vez, nem sem proposta de reconciliação.”
“…”
“Na verdade… conheci alguém novo.”
A respiração que sentia tão próxima cessou de repente.
Uma cadeira arrastou-se bruscamente pelo chão. O puxão repentino fez o pescoço dela inclinar para trás, e, num movimento rápido, a venda foi arrancada — simples demais para o impacto que causou.
A voz dele veio cortante:
“Quem?”