Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 142
“Eu vou devolver tudo.”
Chamas vermelhas tremularam em seus olhos. Num piscar de olhos, o fogo se espalhou ao redor, e o papel de parede do teto começou a escurecer e queimar.
Mesmo enquanto as chamas devoravam os móveis da cozinha, Seo-Ryeong permaneceu imóvel. De rosto vazio, ela pegou uma jarra e começou a despejar água na frigideira em chamas.
“Ah!”
Ela apertou os olhos e recuou um passo.
A água, ao tocar o óleo fervendo, gerou uma nuvem de vapor que explodiu violentamente. As chamas cresceram ainda mais, e em poucos segundos a cozinha estava coberta por uma fumaça espessa e sufocante.
Seo-Ryeong cobriu o nariz e a boca com a mão, olhando para as labaredas que se espalhavam pelo teto, como se estivesse hipnotizada. Sua visão turvou — como seus olhos de antes, cheios de lembranças.
O ensopado de pasta de soja fervendo no fogão, os cobertores sempre vivos, o cheiro de amaciante seco ao sol preenchendo o ar.
Foi ali que ela entendeu, pela primeira vez, o que era o cheiro quente de um lar.
O lugar mais aconchegante do mundo. Nosso lar. O espaço que eu mais amei.
Mas o olhar que ela lançava para aquele apartamento de recém-casados era de um frio arrepiante.
“É melhor não deixar nada pra trás.”
Fragmentos do teto começaram a cair conforme as chamas se espalhavam rapidamente. O estalo do fogo saltava de móvel em móvel até alcançar a sala de estar.
Seo-Ryeong estava presa lá dentro — sorrindo em silêncio.
Ela destruiu tudo.
Exatamente como Kim Hyeon havia feito.
Boom! — Uma explosão ecoou atrás dela.
Mas antes disso…
“Han Seo-Ryeong!”
Wooshin despertou com o toque agudo do celular.
Por algum motivo, suava frio. Ao se levantar bruscamente, seu rosto endureceu ao ver o espaço vazio ao lado.
Ao tentar sentar-se, soltou um gemido irritado. Sua cueca estava úmida.
“Quantos anos eu tenho mesmo?”
Ainda assim, não conseguia se desvincular dela completamente. Mesmo nos momentos mais íntimos, mordera tanto a própria língua que ainda latejava.
Era também a primeira vez sem preservativo — e quando a pele dela envolveu a sua, ele simplesmente perdeu as forças.
Ainda assim… era um tipo de sexo reconfortante.
Mesmo instável, depois de tudo que passara com Kim Hyeon, ela não parecia mais buscar um substituto ao se despir. Ao contrário — suas broncas, seus cuidados e até suas interferências o acalmavam.
“Ha…”
Procurou no banheiro, na sala, no armário — nada.
“Onde ela foi a essa hora?”
Nenhum fio de cabelo dela à vista. Enquanto isso, o toque insistente do celular continuava.
Era um número desconhecido, mas, ao olhar para a tela iluminada no escuro, ele sentiu como se uma ponta de ferro raspasse seu peito. O timing estranho o deixou inquieto, e ele finalmente atendeu.
“Instrutor, sou eu.”
Como esperava, a voz que veio do outro lado o fez apertar a testa com força.
“Han Seo-Ryeong, onde você tá agora? Que número é esse…!” Sem perceber, sua voz saiu cortante. Ele a tinha puxado para seus braços, tentando impedi-la de ir embora.
A ansiedade subia, sufocante, por não vê-la onde ela devia estar — bem diante dele.
Mesmo não estando mais vinculado à SNI, Wooshin ainda sentia que tinha a obrigação — e o motivo — de protegê-la mais do que nunca. Passou a mão pelo cabelo trêmulo, tentando se recompor.
“Desculpa por gritar. Mas onde você está, hein? Onde tá, Seo-Ryeong?”
“Deixei meu celular na Guiné Equatorial.”
“De quem é esse então? Passa pra quem tá do seu lado.”
“Pode vir até aqui um instante? É… nossa casa.”
“…”
“Disseram que eu preciso de alguém comigo.”
Uma sirene ensurdecedora ecoou do outro lado da linha. Ele rapidamente começou a vestir as roupas jogadas no chão. Não havia tempo para perguntar onde ela estava. Um arrepio frio percorreu suas costas.
“Tô indo. Não sai daí, me espera.”
A sensação era familiar — o mesmo instinto que o alertara tantas vezes em missões.
Aquela pontada de perigo, roçando-lhe a nuca.
Seu coração batia rápido, pesado.
Se algo acontecia com ela, ele sentia o corpo inteiro em alerta.
Apressado, pegou um táxi e seguiu para o bairro, agora tomado por gritos, fumaça e o barulho do fogo.
Um jato d’água atingia a vila em chamas, e o vapor subia denso, cobrindo o céu.
As luzes vermelhas piscando refletiam no rosto pálido de Wooshin.
“Ah…”
Por um instante, ele perdeu o ar.
O cheiro familiar o fez enjoar. As memórias do “castelo de inverno” reduzido a cinzas e do lar recém-casado queimando se misturaram em sua mente. As duas cenas se sobrepunham, caóticas, como um ruído visual.
Ele já tinha visto inúmeros desastres piores em sua profissão — mas o medo de que alguém precioso estivesse preso lá dentro o dilacerava, como uma punição.
Onde está Seo-Ryeong… onde ela está?
Os olhos de Wooshin tremiam de pavor enquanto ele empurrava a multidão.
Entre os rostos curiosos, reconheceu alguns — agentes da SNI.
E então entendeu.
A vila era propriedade deles — usada para monitorar “a coruja”. Assim que o incêndio começou, eles foram acionados.
Quando a perícia terminasse, a SNI cuidaria de tudo.
Mas Han Seo-Ryeong não estava em lugar algum.
Instintivamente, Wooshin tocou o pescoço, sentindo o leve arranhão que ela deixara.
Foi quando ouviu os gritos.
“――!”
As janelas da vila explodiram, e estilhaços de vidro caíram como chuva.
Enquanto todos se abaixavam, ele seguiu adiante, firme, engolindo as maldições.
Cada segundo parecia um ano. Os olhos vermelhos de desespero varriam o beco enquanto os policiais o impediam de avançar.
“Senhor, é perigoso, não pode seguir!”
“Eu estou bem.”
“Pode haver explosões secundárias, por favor, siga as instruções…!”
“Sai da frente.”
“Não pode, recua!”
“Droga, minha esposa tá lá dentro!”
Ele gritou, e a voz quebrou. A mandíbula travada doía, mas não havia tempo para discutir. Agarrou o ombro do policial à frente.
“――!”
Outro estrondo ecoou — mais janelas se estilhaçaram. O som dos apitos e da água misturava-se ao crepitar das chamas.
O prédio velho já estava completamente negro, o ar sufocante.
Preciso ligar pra ela de novo.
A partir daí, ele começou a perder o controle.
Apesar do fogo, tudo o que Wooshin via era a escuridão o cercando.
A voz dela, do outro lado da linha, soara calma. E havia murmúrios em volta — ela devia estar fora do prédio.
“Alguém saiu morto?”
“O quê? Disseram que houve vítimas?”
“É um prédio residencial… não é possível que não houvesse ninguém!”
Com as mãos trêmulas, ele tentou pegar o celular — e o deixou cair. Um erro imperdoável.
O suor escorria frio, enquanto o calor queimava por dentro. Wooshin se deixou cair, olhando fixamente seus pertences sacudidos pela multidão.
“Instrutor.”
A voz que esperava — rouca, familiar — puxou-o de volta à realidade.
Ao erguer o olhar, viu Seo-Ryeong de pé, o rosto manchado de fuligem, envolta num cobertor.
Usava um avental hospitalar largo demais, e as pantufas quase caíam de seus pés. A cena era absurda.
“Você…”
Ele não conseguiu dizer nada. Apenas a puxou para si, engolindo o cheiro de fumaça como se respirasse alívio.
Só quando a apertou com tanta força que podia quebrá-la é que o ar finalmente escapou do peito.
Seu corpo inteiro tremia. Talvez ela sentisse, porque soltou uma risada seca.
“Não me machuquei.”
“Se acha que dá pra resolver tudo com essa frase, tá muito enganada.”
“…”
“Droga, eu tô fervendo por dentro. Não importa o que diga, isso não é algo que dá pra deixar passar.”
“É mesmo?”
A resposta seca dele a deixou estranhamente inquieta. Fazia tempo que nada — nenhuma morte, nenhum acidente — mexia com ele. Mas bastava um arranhão nela para fazê-lo perder o controle.
Ele percorreu o corpo dela com os olhos — o rosto, os ombros, o pescoço, as mãos, as pernas — procurando por qualquer sinal de queimadura ou ferimento. A tensão de quem acabara de escapar da morte estampava-se em sua expressão.
“Instrutor… você casa comigo?”
Ele congelou.
Como um pássaro coberto de óleo, ela sorria com um brilho quase irreal.
O que ela acabara de dizer…?
Seu rosto, doce e tímido, esmagou o coração dele, que já estava prestes a se partir.
A coruja que ele havia deixado para trás agora voltava como Han Seoryeong.
E por mais impossível que parecesse, tê-las ambas parecia um milagre.
Mas aquele sorriso — o mesmo que o fazia querer beijá-la — parecia mirar direto em sua garganta.
“Quero me casar com você, Instrutor.”