Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 143
“Eu ouvi errado? O que vocês dois estão dizendo?”
O CEO Kang Taegon alternava o olhar entre as duas pessoas sentadas lado a lado no sofá.
Seo-Ryeong, com o cabelo preso num coque elegante que deixava à mostra a testa delicada, lançou um olhar de soslaio para algo dentro do terno engomado de Wooshin. Ela tinha passado na BLAST para entregar o envelope branco que estava guardado no bolso interno de seu paletó.
Já fazia uma semana desde que ela o havia pedido em casamento. E, nesse meio-tempo, muita coisa havia acontecido.
O antigo lar dos recém-casados — o ponto inicial da reunião deles — agora estava completamente carbonizado e deformado, quase irreconhecível, sem nada que pudesse ser reaproveitado.
Wooshin observava a casa destruída em silêncio, parado diante de uma parede onde antes havia um quadro.
Seo-Ryeong, irritada com a visão das costas dele, pisava nos destroços com impaciência.
Ela queria perguntar como ele havia sido naquela época — se o casamento deles tinha mesmo sido só trabalho e exaustão —, mas simplesmente… não conseguiu.
Naquele momento, ela não estava em condição de ouvir a história de ninguém.
Guardava um segredo sobre o próprio nascimento, e sabia que nada de honrado vinha das ações dos agentes secretos do país.
Por isso, começar uma conversa sem pensar só a colocaria em risco.
O perdão, sim, era o peso que carregava — mas não queria isso. Era sufocante, doloroso, como se fosse engasgar.
Foi por isso que encontrou consolo nas ruínas daquela casa. Parecia que elas substituíam a raiva prestes a explodir, e olhar para o interior derretido finalmente a fez respirar um pouco mais leve.
“Eu preciso investigar mais sobre aquela mulher!” o policial dissera. O som irritado dos papéis batendo na mesa logo foi abafado por uma pesada porta de ferro.
Embora houvesse uma investigação em curso sobre Seo-Ryeong — a única moradora e principal suspeita da vila —, ela tinha conseguido escapar com facilidade.
Uma risada leve escapou de seus lábios ao pensar que a própria SNI, que havia manipulado sua vida de forma tão descuidada, agora precisava lidar com as consequências.
Ainda assim, ela havia assinado um termo se comprometendo a não causar mais problemas. Se Kim Hyeon descobrisse, será que a amarraria e gritaria de novo?
Ela olhou de relance para Wooshin, e seus olhos se encontraram.
“Você também me acha suspeita, instrutor?”
“…”
“Acha que fui eu quem incendiou a casa?”
Ele entrelaçou os dedos e apertou com força. As mãos ainda tremiam levemente.
“Por um momento, achei que você estivesse morta.”
“…”
“Mas no meio de todo aquele caos, acabei recebendo um pedido de casamento, não foi? Duvido que exista outra pessoa no mundo que tenha sido pedida desse jeito. Vamos considerar como um azar do destino. Não importa se foi mesmo você, Seo-Ryeong, quem colocou fogo na casa.”
“Por quê?”
“Porque isso significa que você finalmente se livrou de Kim Hyeon.”
“…”
“Ou seja… você venceu.”
Depois que a casa queimou completamente durante a noite, Wooshin providenciou um novo apartamento sem demora. Tudo correu de forma surpreendentemente tranquila. Como um verdadeiro casal de noivos, eles começaram a planejar o futuro e a resolver as inúmeras pendências que surgiam.
Wooshin passou a fazer tratamento ambulatorial em casa, enquanto Seo-Ryeong decorava cada canto à sua maneira. Escolhia com cuidado cada item que refletisse sua presença e preenchia o espaço até o limite.
Mas foi aí que começaram os problemas.
“Ah…!”
Eles estavam como feras, sempre grudados um no outro. Ombros e cinturas colados, beijos e toques incessantes. Mesmo com o cheiro de fumaça ainda preso à pele, gemidos escapavam dela toda vez que se uniam.
Wooshin não queria se afastar — nem por um segundo. Seguia Seo-Ryeong até o banheiro, incapaz de se concentrar em qualquer outra coisa, ignorando até as caixas empilhadas para reciclagem.
Seu desejo de mantê-la por perto era evidente.
Os momentos de intimidade se tornaram mais frequentes: ele a beijava até a pele formigar, soltava o fecho do sutiã sempre que podia, e a segurava com uma intensidade quase desesperada.
O que tinha provocado essa mudança nele? O pedido de casamento? O incêndio? Ou ambos?
Sempre que se tocavam, havia nele uma urgência — um medo de ser deixado para trás. Movia-se com pressa, como um homem tentando recuperar algo que havia perdido para sempre.
Ela às vezes chorava, não só pelo ritmo insaciável dele, mas pela confusão de sentimentos que nenhum dos dois parecia capaz de escapar.
Lee Wooshin parecia um homem à beira da loucura, agarrado ao que temia perder.
O desejo entre eles só aumentava. Ele a cobria de beijos até deixá-la sem ar, a despia com avidez, e a tomava como se quisesse apagar o próprio desespero.
O que realmente havia provocado tudo isso? O pedido, o fogo… ou os dois? Cada toque dele parecia um pedido silencioso para que ela nunca desaparecesse.
Alguns dias, era a única coisa que faziam depois das refeições. Os lábios se encontravam até nos momentos mais banais — mesmo enquanto faziam outras coisas, mesmo enquanto dormiam, os corpos permaneciam juntos.
“Hmph… ah…!”
Ele não conseguia parar. A certa altura, nem se deu mais ao trabalho de vestir as roupas que tirava — apenas as deixava cair no chão.
Foram dias seguidos de clarões brancos diante dos olhos — lembranças invadindo-a de repente.
“Haa… pare…! Estou com fome…”
Quando a mente dela se dissolveu, já não conseguia raciocinar. Voltou a ser quase uma criança, só capaz de murmurar palavras simples — fome, sono, banheiro.
Ele a puxava para perto com urgência, a respiração quente e descompassada.
“Quer ir embora?”, perguntou Lee Wooshin num tom doce, sem diminuir o ritmo intenso. O toque dele era insistente, quase possessivo. “Você realmente quer se casar com este instrutor?”
“Mas que droga, quantas vezes vai perguntar isso?”
“Pense bem antes de responder. Se casar comigo, não existe divórcio. Nunca haverá.”
O calor no quarto era sufocante. Ela gemeu, olhos cerrados, sentindo o corpo inteiro estremecer sob o dele — uma união tão profunda que chegava a doer.
Mesmo depois de se afastarem, ela ainda sentia a ausência latejante, o corpo vibrando em resposta.
“Ah…”
Wooshin segurou uma das pernas dela e a ergueu, os movimentos descompassados e desesperados. A respiração dos dois se misturava. Ainda assim, ela percebia algo diferente — uma necessidade, quase um medo de perdê-la.
E, entre cada toque, Seo-Ryeong se pegava pensando em outra coisa.
“Para onde devo ir agora?”
Foi ali que percebeu, com uma clareza cruel, que era uma órfã — alguém sem raízes nem destino.
Ouviu dizer que a ilha de Hwaido era famosa por suas árvores e pela música… talvez houvesse um sanatório lá. Ou talvez devesse fugir para o interior, bem longe de tudo.
“O que você está pensando, Seo-Ryeong?”
“Eh… nada…”
“Por que está me ignorando, noivo?” Ele ofegava.
“Não é isso…”
“Você que me pediu em casamento primeiro, e eu só estou respondendo.” Ele a envolveu com mais firmeza, o tom entre carícia e cobrança. “Quando quer marcar a data?”
“Assim que possível.”
“E a lua de mel?”
“México… El Salvador… Cuba…”
“Todos lugares perigosos.”
“Perfeitos.”
Alguns dias depois, o corpo dela ainda doía, os passos lentos e pesados — só então ele pareceu se acalmar.
Tap. Tap.
O som dos dedos de Kang Taegon batendo no braço da poltrona a trouxe de volta ao presente.
“Mas afinal, o que vocês dois estão… dizendo? O que é essa carta de demissão?”
Kang Taegon olhou para os dois, atônito.
Seo-Ryeong, mais magra e abatida, estendeu o envelope branco.
Não havia mais motivo para continuar naquele trabalho, agora que ela havia encontrado Kim Hyeon — e o mantinha ao seu lado.
“Desculpe, senhor Kang. Eu não devia ter vindo pessoalmente, mas meu instrutor…”
“Eu também preciso de autorização.”
Wooshin tirou outro envelope do bolso interno e deu de ombros, como se fosse inevitável.
“Líder de equipe Lee, o que é isso…?”
“Vou concluir as pendências e depois sair.”
Kang franziu a testa, soltando um suspiro pesado. Engoliu o chá fervente e pousou a xícara com força.
“A menos que essa empresa esteja realmente amaldiçoada, por que a equipe de segurança especial está em tamanha bagunça?!” gritou, lançando um olhar cortante a Seo-Ryeong.
“Han Seo-Ryeong, acho que você me deve.”
“…”
Ela apenas abaixou a cabeça em silêncio.
Era um estigma. Corria o rumor de que, sempre que Han Seo-Ryeong era enviada a uma missão, o índice de sucesso caía quase a zero.
O evento de criptografia pós quântica, o pedido em Sakhalin, o incidente do navio cargueiro na Guiné Equatorial — todos terminaram do mesmo jeito.
E, como todos os tripulantes desse navio haviam desaparecido e a carga fora totalmente apreendida, a BLAST sofreu perdas enormes.
Os funcionários até brincavam, dizendo que parecia uma maldição — e logo os cochichos viraram insinuações de que a própria Han Seo-Ryeong poderia ser a origem desse “azar”.
Como de fato usara a BLAST para fins pessoais, Seo-Ryeong não tinha como se defender, por mais que quisesse.
Por sorte, Kang Taegon não insistiu. Apenas a lembrou do último pedido.
“Espero que ainda se lembre do que eu disse da última vez.”
“Claro que lembro.”
Terrorista.
Era assim que ele o havia chamado.
Recordando o cliente VIP de passado obscuro, Seo-Ryeong pronunciou o nome em voz alta:
“Rigay Viktor.”
Clang!
Lee Wooshin derrubou a xícara com o joelho. O chá quente se espalhou, mas o súbito frio no olhar dele foi muito mais marcante.
Ele ficou encarando os lábios de Seo-Ryeong, como se não acreditasse que ela tivesse realmente dito aquele nome.
O silêncio pesado e o olhar endurecido diziam tudo.