Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 144
“Revise o arquivo aqui e depois vá embora.”
Os dois ficaram em silêncio enquanto voltavam os olhos para o tablet que Kang Taegon havia entregue. Tirando o nome, todas as informações pessoais do cliente estavam completamente em branco.
Enquanto examinavam o plano da operação e o layout interno, o olhar de Wooshin se desviava para os próprios joelhos. Ele folheava as páginas como se nada estivesse errado, os olhos secos se movendo rápido demais — tão rápido que duas ou três folhas passavam de uma vez, dificultando acompanhar.
Momentos assim lembravam Seo-Ryeong, de novo e de novo, de que ele havia sido um agente negro da SNI. O nome que ele abandonara — Kim Hyeon — surgiu sem que ela quisesse. Seu humor azedou.
“O problema é que há uma grande probabilidade de a SNI estar de olho nesse evento. Nós posicionamos nossa equipe de segurança para cobrir os pontos cegos do local, mas o líder de equipe Wooshin vai precisar se sentar entre os convidados da SNI e ficar de olho neles.”
Kang Taegon gesticulou em direção à muleta de Wooshin enquanto dava as instruções.
Um silêncio estranho pairou entre os dois enquanto voltavam para casa.
Seo-Ryeong sentia a raiva subir no estômago só com o cheiro dos móveis novos da casa nova, e precisava de um esforço considerável para se manter calma.
Além disso, Wooshin — que nem usava direito a muleta — segurava sua mão com tanta força que começava a suar.
Assim que a fechadura da porta clicou, o homem finalmente abriu a boca. Mas Seo-Ryeong, que antes pressionara a mão contra o peito dele, balançou a cabeça, cortando-o.
“Nem diga isso.”
“…O quê?”
“Você ia dizer algo tipo ‘fica fora disso’ ou ‘isso é preocupante’, não ia?”
“Eu nem falei nada ainda”, ele se defendeu.
“Dá pra saber só de olhar pros seus lábios. Preciso ouvir esse tipo de sermão de novo do instrutor?”
Lee Wooshin soltou uma risada seca e passou a mão pelos cabelos. Uma ruga de desagrado se formou em sua testa lisa.
“Ter uma guarda-costas mulher pra proteger de perto um cliente homem e cuidar de todo o protocolo sozinha… não parece suspeito? Entrar num quarto só com um velho, ajudá-lo a se vestir, levá-lo ao banheiro, alimentá-lo. Mesmo pra um superior, isso soa estranho — e, pra um noivo, é simplesmente ridículo pra caralho.”
“…”
“Pela lógica, por que um cliente idoso pediria especificamente uma guarda-costas jovem?”
“Disseram que ele não está em plena consciência.” Ela repetiu friamente o que ouvira do CEO Kang Taegon. Ao escutar isso, Lee Wooshin torceu um sorriso no canto dos lábios e a puxou mais perto. Sua coxa pressionou entre as pernas dela. “Se ele não está em plena consciência, a Han Seo-Ryeong costuma prestar mais atenção, é isso?”
“O quê…?”
“Se tivesse me contado antes, eu teria insistido mais, Seo-Ryeong.”
“Ugh… solta.”
Seo-Ryeong estremeceu com a coxa firme roçando de propósito entre suas pernas. Ultimamente, Lee Wooshin reagia intensamente até aos menores gestos, sufocando-a daquele jeito.
Mesmo tendo sido ela quem sugeriu o casamento primeiro, e mesmo suportando o jeito bruto e possessivo dele, Wooshin continuava forçando os limites — e aquilo tocava algo gelado dentro dela. Seo-Ryeong pressionou o plexo solar dele e continuou:
“Dizem que o cliente continua se machucando.”
“Ah, esse aí? Vendo algo assim, a Han Seo-Ryeong não sente um pouco de pena?”
“E qual o problema nisso?”
“…”
“É perfeitamente normal. Se você se corta, claro que vai sair sangue.”
“Não é isso que eu quis dizer… ah, esquece.”
Seo-Ryeong observou o homem que de repente a puxou para um abraço apertado e soltou um suspiro pesado, então acrescentou em voz baixa:
“O pior é a ambiguidade. Se for pra descartar algo, faça de vez. Se for pra manter, segure firme. Mas quando alguém age de um jeito que não é nem uma coisa nem outra… é porque tem outro motivo por trás, não é?”
Lee Wooshin engoliu em seco e voltou a encará-la. Enquanto ele a fitava imóvel, o sensor de movimento não detectou nada — e a luz apagou de repente.
Os dois, mergulhados na escuridão, só se procuravam com os olhos.
“O que exatamente o CEO Kang Taegon mandou você fazer?” ele perguntou, decidido.
“Nada demais. Só disse pra eu relatar cada palavra que o cliente disser, sem perder nada. Parece que há algum problema com a memória dele. Não sei qual, mas a empresa está tratando tudo como informação.”
Memória… informação… O rosto de Wooshin endureceu, gélido, enquanto processava as palavras.
“Você sabe por que há tão poucas guarda-costas mulheres na BLAST? Havia algumas, claro, mas a maioria foi contratada de forma extraoficial — e todas foram enviadas pra Rússia. Agora, todas estão desaparecidas.”
“O quê?”
Rússia? A palavra ficou presa em sua garganta.
“Provavelmente receberam a mesma missão que você, Han Seo-Ryeong. E depois foram eliminadas.”
“…!”
“Deve ter sido informação de nível máximo. E se for o caso, você está em perigo igual.”
O tom firme dele carregava certeza. Ao apertar seus braços, a urgência tremia através da pele em contato.
O sensor do hall voltou a acender. As sombras sutis sob o nariz de Wooshin destacavam-se enquanto ele aproximava o rosto do dela.
“Mesmo agora, ainda acha que estou me metendo demais?”
“…”
“Se esperava se casar com um homem compreensivo, sinto muito. Eu não confio nesse tipo de empresa. Nunca deixaria minha Seo-Ryeong nas mãos de quem a trataria como um recurso descartável.” Por um momento, as palavras dele, cuspidas entre os dentes, a pegaram de surpresa. “Vou te dar um ponto eletrônico no dia anterior à missão.”
De repente, Wooshin a ergueu e colocou seu pé sobre o dele, começando a mancar em direção à sala.
“Espera, instrutor…!”
“Seo-Ryeong tende a fazer mais quando mandam ela parar, então é assim que vou te proteger. Se for entrar no quarto daquele viúvo, mantenha uma linha direta comigo.”
“Por que tanto exagero?”
“Tenho que ser rigoroso. Quer que eu vire viúvo logo depois do casamento?”
O corpo dela tremeu. Instintivamente, quase desviou o olhar, mas manteve o contato. Sentindo o formigamento no pé, Seo-Ryeong mudou de assunto — mas, ao mesmo tempo, preocupada com a dor dele, passou os braços em volta de seu pescoço para aliviar o peso.
“O Rigay Viktor era só um criminoso?”
Mas que barulho é esse agora…? Wooshin arqueou uma sobrancelha, genuinamente surpreso por ela não saber. Seu rosto endureceu, e o maxilar definido se contraiu.
“Você lembra das conversas da equipe de operações especiais?”
Na hora, as vozes dos instrutores vieram à memória dela. Tinham comentado sobre uma família inteira morta em um acidente — o fim de uma linhagem. Era a família de um primeiro-ministro russo. A esposa do primeiro-ministro era coreana…
Mas o que ela lembrava com mais clareza eram as expressões alegres dos colegas, fofocando.
“A tragédia da família Solzhenitsyn. Aquele cliente foi quem explodiu a mansão.”
“…!”
“É difícil chamá-lo de simples criminoso, dado o tamanho da fama dele.”
Lee Wooshin soltou uma risada vazia. Seo-Ryeong não perdeu a leve mudança no sorriso mascarado do homem.
Quão notável alguém teria de ser para destruir completamente a família de um primeiro-ministro? Que tipo de malícia estaria por trás disso?
Seo-Ryeong mergulhou em pensamentos que nada tinham a ver com ela. Wooshin estalou a língua e a sentou à mesa de jantar.
“E lembra do que dizia o arquivo? Onde era o evento?”
“Ah… na Igreja Ortodoxa Coreana de Daegu.”
“Boa memória. Isso significa que, se o azar for grande, você pode dar de cara com o Kia.”
Naquele instante, o coração dela tremeu como se tivesse acabado de roubar algo.
“Pra ser sincero, eu planejava fazer um escândalo maior, mas me contive — afinal, preciso manter a imagem de noivo. Já gastei minha cota de azar, não quero arriscar mais.”
Kia pode ir também?
Aquilo não era desconforto, nem medo — era expectativa.
As coisas que Kia dissera antes, que pareciam puro delírio, começavam agora a fazer sentido. Seo-Ryeong quase deixou escapar um sorriso.
Quando foi mesmo que Kia percebeu tudo?
Se se encontrassem de novo… se realmente voltassem a cruzar caminhos…
Foi nesse momento que uma mão áspera segurou o queixo dela. Wooshin olhou fundo em seus olhos. O frio entre os olhares se entrelaçou.
Seo-Ryeong encostou os lábios nos dele.
Era pouco mais que um gesto simbólico — um selo de cera derretida para silenciá-lo.
Mesmo assim, Wooshin se agarrou a ela como um homem se afogando.
Sua língua quente preencheu o vazio da boca dela, roçando o céu da boca úmido e roubando-lhe o ar.
Seo-Ryeong fechou os olhos com força e se imaginou de vestido de noiva.
Em algum canto exótico do mundo, ela o enfrentaria e juraria eternidade.
E a única testemunha disso…
Seria Kia.
Ela precisava encontrar Kia.