Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 149
“‘Casei com um agente? Eu? Casada com um agente? E ainda estava planejando repetir! Maldito agente. Todos são iguais!’”
Os olhos de Seo-Ryeong faiscaram de fúria enquanto ela avançava, como se saltasse de um caixão. Mas seu corpo ainda entorpecido cambaleou, fazendo-a bater nos braços dele. Lee Wooshin, pálido, estendeu as mãos reflexivamente.
“Ugh!”
Um cheiro agora familiar invadiu suas narinas sensíveis. Desde que ele parara de usar perfume, a pele de Lee Wooshin sempre carregava aquele mesmo aroma.
Mas, mesmo com a mente girando, Seo-Ryeong mordeu a língua com força. Se não controlasse as emoções naquele momento, todas as resoluções que havia tomado até então se tornariam folhas de papel inúteis.
Embora as memórias recém despertas dominassem seus pensamentos, a traição do marido era igualmente vívida.
‘Controle-se, Sonya. Você sempre derrotou agentes antes. Isso é só mais uma luta.’
Ela mudou habilmente de assunto.
“Joo Seolheon, eu a vi, a vice-diretora! Foi ela quem me colocou aqui!”
“Está tudo bem agora. Sou eu. Respire devagar.”
“Essa vice-diretora… ela é a que…!”
“Shhh, acalme-se. Você levou um susto enorme.”
Lee Wooshin esfregava suas costas, mas a bochecha de Seo-Ryeong contra a dele estava estranhamente fria.
“Como você viu, a SNI está envolvida agora. Devemos sair daqui o quanto antes—”
Ele parou no meio da frase.
“Fala logo.”
Lee Wooshin franziu o cenho, recuando e estendendo a mão.
“Não engula, cospe, Seo-Ryeong.”
Terá mordido com força demais? O gosto metálico do sangue encheu sua boca. Incapaz de engolir a saliva misturada com sangue, ela segurou até que o homem, captando o cheiro, segurasse seu queixo.
De repente, o nariz ardeu. Sem perceber, Seo-Ryeong cuspiu o sangue e fechou os olhos com força.
“Aquela mulher… ela está usando meu rosto… meu rosto!”
Os dedos de Lee Wooshin deslizaram para dentro da boca dela. Os olhos afiados estreitaram-se enquanto examinava o ferimento da mordida, ainda segurando sua mandíbula. Estalando a língua, ele a puxou totalmente para fora do caixão.
“Se não conseguir andar, sobe nas minhas costas. Precisamos sair agora.”
“Por quê?”
“A situação não é normal.”
Seo-Ryeong fechou rapidamente a tampa do caixão, um gesto instintivo para impedir Lee Wooshin de ver o estojo do olho de Rigay. Ele a colocou no chão e falou com urgência:
“Envolver-se com a SNI aqui não nos ajudará. Você não ouviu? Heo Channa tá queimando computadores desesperadamente. A BLAST tá sendo invadida agora.”
“…”
“O Time de Segurança Especial também está sob investigação, e a SNI cercou a Igreja Daegyo. Se formos pegos, ficaremos dias em interrogatório. E ainda perderemos o voo.”
“Meu fone… não estou com ele.”
Seo-Ryeong tateou o ouvido vazio com dedos rígidos e lentos.
“O evento da Igreja Ortodoxa foi adiado. O CEO Kang já deu a ordem, e as equipes de segurança estão se retirando. Não podemos perder tempo aqui. Precisamos ir ao aeroporto. O antídoto tá funcionando?”
“E Rigay Viktor?” Enquanto ele se movia para carregá-la, ela disparou em pânico: “O cliente está em perigo.”
“O quê?”
“Já te disse. Joo Seolheon estava usando meu rosto!”
“…,”
“Não sei sobre invasões ou qualquer coisa do tipo. Mas por que a vice-diretora Joo Seolheon se disfarçaria de guarda-costas? Para se aproximar do alvo, é óbvio! Entre todas essas pessoas, fui designada para Rigay!”
A voz de Seo-Ryeong subiu com urgência inexplicável. Na verdade, ela mal se lembrava de Rigay, exceto pelo momento antes de escapar do Castelo de Inverno.
Mas aquele homem oco, mutilado… A pessoa quebrada que tentou se matar repetidamente… ela sentia que precisava vê-lo. Apenas uma vez.
Se Rigay realmente for aquele homem daquela época… o que aconteceu com as outras crianças de Sakhalin?
E Kia…
Ao pensar em Kia, seu mindinho latejou, como se lembrasse sozinho.
‘Se nos separássemos aos dez anos, ele já teria esquecido o passado. Então por que ainda está preso naquele mosteiro de Sakhalin? Ficar lá só traria lembranças terríveis.’
Uma mistura indescritível de dor e raiva cresceu em seu peito.
Nesse instante, seu ombro bateu na parede, e seus lábios distraídos foram engolidos.
“Seo-Ryeong, você está fazendo de novo.”
“Ngh!”
“Chamo seu nome, e você não responde. Fica apenas rodando tudo na sua cabeça.”
Mesmo virando o rosto do beijo indesejado, os lábios dele continuaram implacáveis. Forçada a ceder, sua boca foi dominada pela língua dele, que avançou até sua garganta.
Seus olhos carregavam um brilho perigoso. Lee Wooshin lambia cada vestígio de sangue em sua boca, movendo a língua com força deliberada. Então, inclinando a cabeça ao nível de seus olhos, murmurou friamente:
“Você nem me olhou direito desde antes. Se continuar assim, vou parecer um desgraçado sem vergonha se forçando em uma mulher que não quer. Mas você foi quem me propôs primeiro, pirralha.”
“…”
“Por que continua me fazendo sentir fome de afeto?”
Seus olhos secos e sedentos se fecharam, antes de abrir novamente.
“Então? O que pretende fazer? Ir até lá?” Ele perguntou.
“…”
“Se aquela vice-diretora realmente estava usando seu rosto, precisamos sair daqui o quanto antes. Quem sabe do que aquela mulher é capaz? E você ainda não tá totalmente recuperada! Quem pode se preocupar com quem agora? Acha que os funcionários não notaram nada de estranho?”
“Então vou recuperar meu rosto.”
“O quê?”
Seo-Ryeong limpou os lábios úmidos com a manga.
“Se aquela mulher fizer algo usando meu rosto, como você disse, me recuso a assumir a culpa. Mas, pela experiência, a SNI é capaz de qualquer coisa. Quem sabe que armadilha ela tá preparando dessa vez? Então eu mesma vou arrancar meu rosto.”
Ela segurou firmemente a gola dele.
“Então sairemos juntos.”
Olhando fixamente para ele, fez sua exigência. As sobrancelhas elegantes dele se ergueram. Enquanto isso, o entorpecimento desaparecia, e seus joelhos cederam ligeiramente.
Lee Wooshin agarrou imediatamente sua cintura, murmurando que ela seria sua morte.
O calor das mãos dele, firmes na cintura e quadris, queimou repentinamente sua garganta. Dividida entre desejar mais calor e a vontade de afastar aquelas mãos, ela o puxou abruptamente para um abraço feroz.
Então, com os olhos arregalados, deixou o veneno escorrer em suas palavras.
“Eu te amo.” as costas do homem se enrijeceram, sua respiração parou. “Obrigada por me salvar. E me desculpe se te deixei preocupado.”
Como se a salvação existisse neste mundo, Seo-Ryeong escondeu o sorriso irônico, pressionando a testa contra o ombro dele. Foi a primeira vez que disse isso.
“Você é tudo que me resta agora.”
Não importava o que alguém dissesse, o tudo de Han Seo-Ryeong sempre foi ele. Isso era certo.
“Você não confia em mim?”
Uma força esmagadora, quase dolorosa, pressionou sobre ela. Encostada à parede, Seo-Ryeong encontrou os lábios dele com a própria língua.
Seus narizes se tocavam, a respiração curta e entrelaçada. Ele segurava suas bochechas, inclinando ainda mais fundo. Um gemido baixo e desesperado envolveu-a como um grilhão. Mas quanto mais sua mandíbula recuava, mais seu estômago queimava, até que tudo o que ela via era fogo, escuro e carmesim.
‘Essa felicidade nunca foi feita para mim.
Como pude ousar sonhar com uma vida comum carregando memórias tão horríveis?
O que preciso abandonar não é apenas este homem.
O nome Han Seo-Ryeong…
Isso também deve ser deixado para trás.’
Nesse momento, uma leve vibração ecoou pela parede.
Um único tiro. Joo Seolheon, tendo acabado de colocar a coruja dentro do caixão, encostou-se à porta e respirou fundo.
Uma tempestade de emoções complexas rugiu dentro dela, mas ela cerrou os punhos e avançou pelo corredor com passos medidos e deliberados.
Sua mão roçou a pistola silenciada na cintura. Era sua primeira operação de campo em trinta e três anos. Essa missão como dublê corporal, que ela mesma planejou e executou, podia muito bem ser a última.
“Chefe, você vai mesmo deixar o Agente Lee Wooshin ir assim?”
A voz cautelosa de Na Wonchang crepitou no fone.
“Não se preocupe com ele.”
“….”
“Wooshin pode ter saído da agência, mas no fundo, ele sempre será um agente. Vai passar a vida inteira carregando aquela coruja nas costas, protegendo ela. De certa forma, esse é um caminho ainda mais cruel. Sua afiliação não importa mais.”
E ela, mais que ninguém, sabia o quão severo seria esse caminho.
Na noite anterior, encontrara Lee Wooshin e lhe entregara um passaporte falso, aconselhando-o a deixar a Coreia com a coruja. Não tinha certeza de até onde aquele teimoso ouviria. Ele nunca a tratara com respeito, nem como superior.
A Caixa de Pássaros era apenas cortina de fumaça. Uma sub-operação dentro da missão que ela vinha preparando há trinta e três anos.
“….”
Um guarda estrangeiro abriu a porta, os olhos percorrendo lentamente o rosto de Han Seo-Ryeong.
Ela escondeu as mãos enrugadas atrás das costas e passou por ele. Quando exigiu a chave em russo, hesitou brevemente, mas o dispensou, alegando urgência.
O quarto estava totalmente escuro, nenhuma fresta de luz entrava. Seus dedos trêmulos empurraram a pesada porta.
Mesmo assim, Joo Seolheon o reconheceu de imediato: o homem encolhido, fechado em si mesmo.
“Rigay.”
Sua voz tremia enquanto se aproximava.
Nome da operação: Véu Vermelho.
Em 1990, havia sido sua primeira — e única — missão, designada quando tinha apenas vinte e três anos, como agente novata.
O objetivo: se aproximar de Rigay Viktor, estudante de pós-graduação da Universidade Estatal de Moscou.