Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 151
“Meu pai é… o líder do ramo de Sakhalin.”
Rigay revelou isso com uma expressão vazia ao despertar na cama. Cobriu o rosto inteiro, como se quisesse esconder a própria vergonha.
“Por ser o filho biológico do líder… estudei de forma diferente dos outros irmãos e consegui entrar na universidade.”
“…”
“Mesmo que essa culpa me sufoque, um dia terei que herdar o legado dele. Voltarei para Sakhalin assim que terminar a pesquisa em andamento. Mas… se eu tiver um filho…”
Ele esfregou o rosto, como se o simples pensamento fosse insuportável.
“Por isso pensei que viveria sozinho o resto da vida, Zoya. Mas então eu te conheci… e me apaixonei. Sinto muito por dizer isso, mas eu não quero. Não quero passar Sakhalin adiante para o meu filho.”
Depois disso, o homem deixou de comer, trancou-se na sala de orações e não saiu o dia inteiro.
Joo Seolheon ficou diante da porta firmemente fechada, lembrando-se das palavras do agente Damon — talvez ele estivesse certo. Mesmo sendo sua esposa, ela ainda não havia chegado ao cerne de Rigay.
Casou-se com aquele homem reservado à base de persuasão, sedução e insistência, mas no fim, não conseguiu ultrapassar o limite. De certo modo, isso era trágico — e a fez rir, vazia.
Se era assim, então que fosse até o fim.
“Querido, quer que eu… me livre dele?”
Ela lançou a pergunta como quem atira uma isca, e a porta, que antes não se abria, se escancarou de repente.
Sim, esse tipo de homem não cedia à luz — mas ao vento que arranca os casacos.
O tempo todo, ela havia sustentado uma farsa de amor que nunca combinou com ela. E agora via que tinha escolhido o caminho errado. Por mais que tentasse, ele só sabia sorrir de forma desconfortável — e quando sofria, era a única hora em que mostrava quem realmente era.
“Você é um covarde.”
Como esperado, ele empalideceu.
Quando não recebeu resposta, ela completou com frieza:
“Se é isso que você quer, eu faço.”
“Zoya…”
Ela não sabia quão extremista era o ramo de Sakhalin, mas a doutrina contra o aborto era universal. Joo Seolheon olhou o rosto do marido — tomado pelo medo — com uma expressão impassível.
Era uma gravidez indesejada. Para ela, um feito, mas ao ver o rosto pálido dele, o estômago revirou. Estranhamente, não sentiu alegria alguma.
“Já cometi pecados demais, Zoya. Não posso apagar todos eles…”
“O que você está dizendo?!”
“Meu pai plantou pessoas por toda parte. Assim que sua barriga começar a aparecer, a notícia vai chegar até ele.”
Ele cobriu o rosto, tomado pelo medo e pela angústia. E, de certo modo, Joo Seolheon sabia — havia um cálculo preciso em empurrar Rigay até o limite da loucura. Afinal, até sua esposa havia sido colocada ali por outra pessoa. Ela apenas manteve o semblante neutro.
“Zoya… será que poderíamos… entregar nosso filho para adoção na Coreia?”
“Não. Vamos para os Estados Unidos juntos”, ela apertou o gancho com firmeza. “Se odeia tanto Sakhalin, vamos fugir. Há outras opções.”
“Deixei meus irmãos lá. Quer que eu fuja sozinho?”
O semblante dele escureceu. Joo Seolheon não conseguia compreender aquela culpa — nem aquela cegueira.
Um homem que obedece ao pai, mas não busca a própria terra natal.
Um homem preso à doutrina de Sakhalin, mas que acredita que seu filho não deve sofrer o mesmo destino.
Ela o observou, encarando a contradição que o mantinha aprisionado.
Adoção?
Se o filho não existia para ele, a gravidez não tinha sentido algum.
Então ela endureceu o coração.
A partir daquele dia, Rigay começou a acordar todas as noites coberto de suor, como se fosse perseguido por pesadelos.
Nos dias em que recebia cartas do pai, ficava parado no meio do corredor, sem rumo, em silêncio.
Depois, calava-se por completo e abria apenas a Bíblia, toda rasgada.
Vê-lo assim era frustrante — e patético.
“Por favor, Zoya… não posso ser como meu pai. Seria melhor que essa criança fosse feliz de outro modo. Vamos mandá-la para adoção na Coreia. Eu te imploro. Eu não devia ter um filho. Eu não quero ter um filho.”
Enquanto ele se atormentava com o pensamento dos irmãos que deixara para trás, a raiva subia dentro dela: como ousa virar as costas para o próprio filho?
Por meses, Rigay evitou olhar nos olhos dela — ou para a barriga crescente. Sempre com a cabeça abaixada.
À medida que a barriga crescia, o desespero dele também aumentava, e o casamento mergulhou no pior.
Cada vez que um olhar temeroso pousava em seu ventre, Joo Seolheon sentia como se carregasse um monstro, e não uma criança.
“Quantas vezes tenho que repetir pra você não me olhar assim?! Eu disse pra não me olhar com esses olhos! Acha que eu carrego o filho de outro homem? Estou grávida do nosso filho, não criando um demônio!”
“Z-Zoya, me desculpa… eu não quis—”
“Então faça algo com esses olhos horríveis! Só de te ver eu me sinto miserável!”
“M-me desculpa…”
“Cada vez que você se afasta, parece que o que carrego dentro de mim não é humano! É insuportável!”
Rigay enxugou as lágrimas, murmurando desculpas — mas mesmo assim não se aproximou.
Fazia muito tempo que aquele sorriso tímido desaparecera.
Quando a gravidez chegou ao fim, as noites dele ficaram ainda mais longas. Um covarde patético. Um maldito fanático.
Ele dizia que estava preso à seita, e o agente Damon estava certo.
Naquele dia, Joo Seolheon fechou o notebook com raiva, interrompendo o relatório repleto de insultos.
Ela havia decidido ir para os Estados Unidos pelo bem da criança, mas o que a esperava era apenas o fim do casamento.
“Ouvi dizer que Rigay está vendo outra mulher ultimamente.”
O agente Damon entregou-lhe uma foto de paparazzi enquanto fitava o rio calmo.
Era uma jovem asiática de cabelo curto, andando ao lado de Rigay.
Seu coração afundou — mas ela apenas arqueou as sobrancelhas, irritada.
Não era uma foto só dos dois, mas os sorrisos trocados entre eles pareciam íntimos.
A mulher ora encostava a bochecha no ombro de Rigay, ora o tocava de leve, com uma expressão terna.
A cada imagem que folheava, o bebê chutava forte dentro dela.
“Mas quem é esse homem aqui?”
Ela apontou para a borda da foto.
“Ivan Solzhenitsyn.”
“Solzhenitsyn? Ele é da família do primeiro-ministro?”
“Sim. Único filho do primeiro-ministro Maxim.”
“E por que alguém como ele andaria com Rigay Viktor?”
Ela estreitou os olhos, desconfiada.
“Pelo que se sabe, eles foram colegas na Universidade de Moscou. Ivan é médico. Há várias ligações entre eles, mas estamos investigando os detalhes. Contudo…”
Damon lançou-lhe um olhar enquanto acendia um cigarro.
“Não é sua função descobrir com quem seu marido anda e me reportar?”
Joo Seolheon recuou, cobrindo o nariz e a boca com a mão.
“Como o solitário Rigay Viktor de repente começou a se encontrar com gente, e a esposa não sabe? Está ficando mole, Zoya. Será que você tem perfil pra ser mãe?”
As palavras cortaram fundo.
“As coisas não são mais como antes…”
Quem foi que trouxe aquele homem — que nem sabia limpar os próprios óculos — até aqui?
Quem fingiu ternura, contrariando a própria natureza, para suportar a mediocridade dele?
E agora… ele estava com outra mulher?
Aquela mulher também era médica, de Moscou.
Ela amassou a foto com força.
“Desde que a criança veio, o coração de Rigay se afastou.”
“Como eu disse antes, isso não está sob o meu controle. Rigay está em colapso por causa da gravidez. É algo que só se resolve… se a criança deixar de existir.”
“Então que seja assim.”
“…!”
Joo Seolheon instintivamente levou a mão à barriga pesada.
“De que adianta ter um filho… se mesmo assim você vai perder Rigay?”
“O que…?”
“Vamos dizer que foi um natimorto.”
Seus ombros enrijeceram.
“Zoya, não perca o foco. Assim que Rigay terminar a pesquisa, ele será um nome grande. Eu cuidarei do hospital.”
Ao voltar para casa, ela esperou dias pelo marido — que nunca apareceu.
Na mente dela, as imagens da mulher bonita e do sorriso de Rigay — aquele que já não era dela — se repetiam sem parar.
Naquela noite, ela suportou as dores do parto sozinha, a madrugada inteira.
Não queria um parto natural, mas cerrou os dentes até quase quebrá-los e expulsou a massa quente de carne.
Saiu de cabeça.
“Ah… ha… haha…”
Finalmente, ela obteve algo que não podia ser trocado por nada — algo inestimável.
Aquela criança seria a prova e a salvação dela.
Através daquele cordão umbilical, seria ela quem ascenderia ao topo.
Prova viva de uma missão secreta que a elevaria ao lugar mais alto.
Joo Seolheon desviou o olhar do rosto do bebê.
Quis apenas confirmar o essencial.
Era uma menina.