Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 152
“Você se saiu bem, Zoya.”
O bebê chorou? Seus ouvidos estavam abafados demais para ter certeza. Exausta, ela apenas desabou sobre a cama.
Enrolado em panos brancos, o recém-nascido tinha minúsculas unhas rosadas — um vislumbre fugaz antes que ela desviasse o rosto.
Quando Rigay entrou às pressas, ofegante, Joo Seolheon disse que o bebê havia morrido.
O homem chorou por um longo tempo, em silêncio, até que por fim lançou um olhar de pena para a barriga inchada dela.
Joo Seolheon desejou que aquele ventre vazio murchasse depressa, mas ele não encolhia na velocidade que ela queria. Parecia um túmulo.
“Me desculpa… me desculpa, Zoya… por minha culpa… é tudo culpa minha…”
As lágrimas escorriam sem parar dos olhos de Rigay — mas, por baixo delas, havia um alívio inegável.
Joo Seolheon mordeu a língua com força, o gosto de ferro se espalhando pela boca. A dor era como uma âncora, impedindo-a de fraquejar.
Rigay ainda era um homem perigoso, e a missão dela estava longe de acabar.
Ela não podia permitir que outra mulher ocupasse o lugar de esposa dele.
“Quando terminar de chorar, volte pra casa. Eu ainda preciso de você.”
Voltaria à Coreia em glória — nada como seus pais, pobres e exaustos de tanto criar filhos.
Mesmo através da dor lancinante, tudo o que Joo Seolheon conseguia pensar eram nas vantagens que ganharia.
Quando ouviu que o bebê havia sido entregue em segurança ao mosteiro de Sakhalin, nunca mais perguntou sobre ele.
Joo Seolheon não comprara sequer um item para o bebê, e ao caminhar pela casa vazia, obrigava-se a seguir em frente.
Mesmo durante a recuperação, sob os cuidados atenciosos do marido, o leite descia incessantemente.
Todas as madrugadas, ela se sentava no vaso, atordoada, espremendo mecanicamente o leite do próprio corpo.
Aos poucos, tudo voltava ao que era antes.
O marido já não passava noites fora, e o corpo dela, enfim, voltava à forma anterior.
A mulher que ela julgara ser amante de Rigay, afinal, era a esposa de Ivan Solzhenitsyn — uma jovem mãe que criava um filho pequeno.
Mesmo ao descobrir que o agente Damon havia mentido para provocá-la, ela não sentiu nada.
A relação deles foi sendo costurada aos poucos, como se nada tivesse acontecido.
Mas Rigay não suportava ouvir o choro de recém-nascidos, e toda vez que o som ecoava, Joo Seolheon estremecia.
Ela franzia o cenho, como se fosse apenas incômodo, mas havia criado o hábito de encarar, por longos minutos, as unhas rosadas de bebês que via por aí.
E assim permaneceu ao lado de Rigay, envelhecendo com ele.
Rugas finas começaram a surgir onde antes havia apenas juventude.
Agora, mesmo ao ver crianças, seus seios já não doíam.
“Um circo?”
Ela olhou sem expressão para o convite que o agente Damon lhe entregara.
Era um espetáculo apreciado pelos siloviki — os ex-membros da KGB — e pela oligarquia russa, a elite corrupta e abastada que se misturava à máfia e à política.
KGB (Komitet Gosudarstvennoy Bezopasnosti): principal agência de segurança e inteligência da União Soviética entre 1954 e 1991.
Os siloviki eram os homens do exército, das agências de segurança e do complexo militar industrial.
Os oligarcas, os magnatas que haviam se expandido até dominar a política e o submundo.
A decadência deles era lendária — e aquele tipo de circo era o reflexo disso.
Os dois entraram em uma mansão, os rostos escondidos por máscaras ornamentadas.
O olhar dela foi atraído pelos tetos altíssimos, abobadados.
Anjos infantis pintados entre pombas brancas — uma obra-prima.
Então, o espetáculo começou.
“…!”
Joo Seolheon mordeu o lábio, sufocando um grito.
O que via era puro horror.
No palco, gritos ecoavam enquanto membros eram arrancados — e, ainda assim, os convidados batiam palmas com elegância.
Ela quis se levantar, fugir dali, mas Damon segurou firme seu joelho.
“…”
O olhar dele dizia tudo: se ela demonstrasse nojo, seria a última coisa que faria.
Engolindo o enjoo, ela endireitou as costas e resistiu.
Quando o massacre — mais do que um espetáculo — finalmente terminou, o palco ensanguentado foi limpo com óleo.
Logo, chamas o engoliram, subindo alto o bastante para aquecer até o segundo andar.
Os convidados soltaram suspiros delicados, quase encantados.
Então, duas crianças surgiram, penduradas no trapézio.
A explosão de aplausos e gritos atingiu seus ouvidos como um trovão.
Os belos gêmeos, de aparência quase de bonecos, não demonstravam medo do calor que subia do fogo.
Jogavam-se um em direção ao outro sem hesitar.
“…!”
Só de assistir, Joo Seolheon sentiu o fígado se partir em dois.
Sob o teto pintado de querubins alados, crianças idênticas àquelas figuras agora voavam no ar, segurando as barras do trapézio.
Quantos anos tinham?
À primeira vista, pareciam ter cinco ou seis, mas pela destreza dos movimentos, talvez fossem mais velhos.
Quanto tempo de treinamento seria necessário para executar acrobacias tão complexas com tamanha naturalidade?
Joo Seolheon observava, hipnotizada, enquanto eles se moviam em sincronia perfeita.
Quando um perdia o impulso e caía em direção às chamas, o outro o segurava e puxava de volta — e então os papéis se invertiam.
Mãos se encontravam no ar.
O público explodia em aplausos.
De repente, algo chamou a atenção dela — os pés.
Eram grossos, ásperos, calejados como patas de urso.
A partir dali, ela mal enxergou o resto da apresentação.
Toda a sua atenção se concentrou naquelas solas negras, queimadas.
Então, uma das crianças, com o tornozelo preso ao trapézio, esticou o braço em direção à plateia.
“…!”
O instante em que seus olhos se cruzaram pareceu suspender o tempo.
Cabelos negros. Olhos igualmente negros. Um rostinho pequeno, delicado como uma pedra polida.
Mas aqueles olhos — tão fundos e vazios — não pertenciam a uma criança.
Mesmo com as chamas lambendo a barra da roupa, o olhar deles continuava sereno, imóvel.
Seriam mesmo humanos?
As brasas que se desprendiam da saia caíam como pequenas estrelas cadentes.
Um desconforto crescente se espalhou pelo corpo de Joo Seolheon, mas ela cerrou os punhos, escondendo-o.
Então — fwoosh! — o vento soprou, e a criança estendeu uma flor em sua direção.
Mesmo com as mãos de outros se esticando para tomá-la, o rosto da criança permaneceu impassível.
Ah…
Sem pensar, ela aceitou a flor em chamas.
O toque breve foi áspero, quase dolorido — como podiam as mãos de uma criança serem mais rudes que as dela?
Ela não queria a flor. Queria segurar aquela mão.
Estavam perto o bastante para isso.
Seu olhar permaneceu fixo, atordoado.
“São tão habilidosos assim por causa do treinamento?”
“Parece que sim.”
As crianças voavam no ar com uma graça aterradora.
Joo Seolheon nem piscava.
“Essas crianças são da terceira geração Koryo-saram, do mosteiro de Sakhalin.”
“…!”
O quê?
O coração dela despencou.
“Lembra o que te contei sobre a Coreia do Norte? Enviam agentes femininas ao exterior para engravidar — tudo para diversificar sua rede de espionagem. As sementes que elas deixam para trás crescem e se espalham pelo mundo.”
“…”
“A Rússia também não desistiu do sonho eurasiático.”
“…”
“Eles não querem rostos siberianos. Querem cabelos pretos, olhos pretos — crianças que possam se misturar perfeitamente à Ásia.”
“…”
“Pra Rússia, essas crianças são ativos.”
Os convidados elegantes, ainda com xícaras de chá nas mãos, subitamente pegaram as hastes escondidas sob seus assentos.
Com delicadeza ensaiada, começaram a arremessá-las como lanças, ou a brandi-las como chicotes, contra as crianças.
Damon entregou uma vara afiada a Joo Seolheon — mas ela não se moveu.
Apenas continuou segurando a flor, agora carbonizada até o caule.
“Elas precisam ser endurecidas desde cedo. Assim, quando forem enviadas pela Ásia, estarão prontas. O país inteiro as cria como futuras operativas.”
“…”
“Agora, ainda são pequenas. Mas quando crescerem, serão agentes perfeitas, totalmente doutrinadas.”
“…”
“Elas se infiltrarão em cada canto da Ásia, obedecendo às ordens da Rússia. Mas entre elas, há uma semente nossa, Zoya. Uma armadilha artística. Acredito que essa única falha pode destruir todo o plano russo.”
Damon aplaudiu, observando as crianças fazerem uma reverência final.
“Zoya, você fez algo monumental.”
Joo Seolheon fechou os punhos com força.
Deveria estar feliz.
Deveria sentir-se vitoriosa.
“Quando voltar à Coreia, terá uma posição digna dos seus esforços. Uma tão alta que você jamais sentirá arrependimento. Promoções rápidas não serão problema. Parabéns, você suportou bem esse país amaldiçoado e congelado.”
Só então Joo Seolheon entendeu — ela era quem havia se tornado desumana.
Olhou para o topo, o lugar que tanto almejara, e lá estavam os anjos — inalcançáveis.
O preço para alcançá-los era mais terrível do que ela jamais imaginara.
O que criara não eram vitórias, mas pequenas criaturas trágicas.
E um dia, elas voltariam para julgá-la.