Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 158
Uma melodia exótica fluía do rádio.
Como a região do Daguestão, sob domínio russo, utilizava o idioma azerbaijano, Seo-Ryeong captava algumas palavras familiares enquanto se lembrava do urso selvagem e das crianças do território ocidental.
Do lado de fora da janela do carro, passavam extensões infinitas de rochas irregulares e zonas de contenção vermelhas e brilhantes, mas Wooshin continuava dirigindo em silêncio, acelerando cada vez mais.
Os dois haviam passado cerca de dezessete horas entre o aeroporto e o voo antes de finalmente chegarem ao Azerbaijão.
Mesmo quando Wooshin cobriu Seo-Ryeong com um cobertor enquanto ela, exausta, fechava os olhos durante o voo, isso só serviu para deixá-la mais tensa.
A BLAST — a organização à qual ela pertencia — parecia estar à beira do colapso, e ela ainda tinha presenciado com os próprios olhos a cena do assassinato de uma alta funcionária da SNI… mas, estranhamente, ninguém os perseguia.
E o atirador que disparou aquela arma foi…
“Haaah…”
Seu parceiro não havia mudado nada. Aquilo lhe dava dor de cabeça e deixava um gosto amargo na boca.
Ela queria perguntar a Wooshin o que a chefe Joo Seolheon tinha em mente ao retirá-los de lá como se estivesse os protegendo, mas sabia que aquele não era o momento.
Ele ainda escondia sua identidade como agente da SNI, então ela não podia agir como se soubesse.
Pelo menos, não agora.
A estranha relação entre o chefe Joo Seolheon e Rigay, e o olhar atento de Kia sobre os dois… provavelmente ela teria que perguntar a Kia diretamente, já que também estava envolvido.
Esses pensamentos entupiam sua mente, mas, desde o momento em que embarcara no avião e viu o solo se afastando pela janela, tudo passou a parecer insignificante.
Seus ouvidos, resistindo à pressão, ficavam tampados, e suas emoções turbulentas começaram, pouco a pouco, a se acalmar. Todo o caos já parecia algo distante, como um sonho.
Ela mexia no rosário que Rigay havia forçado em suas mãos — uma pulseira com contas tão transparentes quanto vidro.
Logicamente, ela deveria tê-lo tirado de imediato, já que pertencia a um morto, mas, curiosamente, não sentia vontade de fazê-lo. Contar as contas, uma a uma, lhe trazia uma estranha sensação de paz.
“Instrutor.”
Seo-Ryeong apoiou o queixo contra a janela, observando a paisagem antes de falar de repente:
“Não acha que a gente tá parecendo fugitivos?”
“Hã?”
“Tipo… criminosos em fuga.”
“….”
“Nos filmes, os vilões sempre fogem assim. Aí acabam se ferrando e sendo pegos por um policial só porque avançaram um sinal vermelho.”
Ela se virou de propósito para olhar pelo espelho, mas nenhum carro suspeito os seguia.
Desapontada, deu de ombros — e Wooshin, que vinha calado desde o voo, soltou uma risada baixa.
Seu olhar pousou no leve arco dos olhos dele. Parecia o primeiro riso genuíno que via há muito tempo.
“Enfim, como é que a gente vai viver agora?”
“Preocupada em sujar as mãos?”
“Ah, fala sério. A gente pediu demissão sem ter um plano B! E os membros da Equipe Especial de Segurança? Não vão acabar presos, né?”
“Se tiverem azar.”
“Haaah!”
Ela encostou a testa na janela, bufando, e o olhar dele pousou firme sobre ela.
“Me diz uma coisa: eu pareço alguém sem dinheiro?”
“Que tipo de pergunta é essa?”
“Quando cheguei na Coreia pela primeira vez, eu tava quebrado… mas nunca pensei que fosse pobre.”
“Isso é algum tipo de vitória psicológica, é?”
Diante da incredulidade dela, o canto da boca de Wooshin se curvou em um sorriso sutil. Ele não parecia disposto a explicar mais, apenas girou o volante com naturalidade.
Mesmo em um país estrangeiro, ele parecia totalmente à vontade, o que fez Seo-Ryeong observá-lo com curiosidade.
“Instrutor… você já esteve aqui antes?”
“Já.”
A resposta inesperada fez os olhos dela se arregalarem.
“Este também é um território de guerra. Uma disputa territorial antiga com a Armênia evoluiu de guerra civil para guerra total. Agora há um cessar-fogo, mas ainda acontecem escaramuças.”
Seo-Ryeong assentiu em silêncio.
“Eles já violaram o acordo de cessar-fogo três vezes, lançando mísseis de curto alcance sem aviso. Quando você sugeriu vir pra cá em lua de mel, me deu dor de cabeça só de pensar. Por quanto tempo mais eu tenho que continuar te mimando?” Wooshin balançou levemente a cabeça enquanto a olhava.
Mas, apesar do tom de repreensão, havia calor em seu olhar suavemente amolecido — um afeto cuidadosamente contido.
“Precisava mesmo ser aqui? O outro lado mobilizou tudo… até mulheres e crianças como soldados.”
Por um instante, Seo-Ryeong teve certeza de que, se o mosteiro de Sakhalin e o Castelo de Inverno ainda existissem, também teriam sido arrastados para essa guerra. Afastando os pensamentos sombrios, ela respondeu:
“Dizem que este é o País do Fogo, um presente dos deuses.”
“Deuses, é?”
“Dizem que além das colinas existe uma chama eterna, que nunca se apaga. Também é uma das regiões mais antigas habitadas pela humanidade: tem mais de 400 mil anos. Não te impressiona? Que ela continue acesa, faça chuva ou neve? Eu queria ver isso com você.”
“Isso é só gás. Metano, enxofre e oxigênio se combinando pra criar uma chama natural…”
“….”
Quando ela o encarou em silêncio, Wooshin não aguentou e caiu na risada. Seo-Ryeong, irritada, beliscou o lóbulo da orelha e abaixou o vidro da janela.
O vento entrou forte, bagunçando seus cabelos longos — e, surpreendentemente, o céu estava completamente limpo.
A casa nos arredores da cidade ficava em plena zona de barreira refletiva, bem longe da capital.
Assim que chegaram ao antigo prédio reformado, agora transformado em pousada, o ar se encheu do aroma da culinária local.
No pátio, espetos de cordeiro chiavam sobre o fogo, e fileiras de kebabs douravam dentro de um forno de barro.
Eles descarregaram as malas do porta-malas, observando os terraços arqueados. O lugar era redondo e branco, lembrando o Palácio dos Xás de Shirvan.
Seo-Ryeong planejava realizar uma cerimônia simples no jardim da frente, onde floresciam glicínias roxas em profusão. Imaginava assistir ao pôr do sol avermelhado, trocar votos de eternidade e selá-los com um beijo.
Até mesmo Wooshin, que no início havia torcido o nariz para o destino, arqueou as sobrancelhas em aprovação diante da paisagem tranquila e exótica, cercada pela natureza.
“Bem-vindos!”
Uma mulher de rosto acolhedor e cabelos grisalhos correu até eles, cumprimentando-os em inglês hesitante. Quando deram seus nomes, ela exclamou:
“Ah, vocês são o casal que vai se casar!” e os envolveu num abraço entusiasmado. Era a dona animada que havia oferecido seu belo jardim com tanto entusiasmo ao telefone.
“Mas, senhora… que cheiro é esse?”
“Oh, não está acostumada ao cheiro de kebab?”
“Não, não é isso.”
A expressão de Seo-Ryeong se fechou enquanto ela observava o entorno. Uma sombra passou sobre eles — e, ao erguer os olhos, ela se deparou com aves de rapina enormes, de bicos abertos. Suas asas eram tão grandes e silenciosas que quase não faziam som ao voar.
“Oh, céus…”
A dona se assustou ao ver o olhar dela.
“Você consegue sentir o cheiro dos corpos?”
“Corpos?”
As sobrancelhas de Seo-Ryeong se ergueram.
“Como estamos nos arredores, há comunidades zoroastristas por aqui.”
No início, a mulher se atrapalhou no inglês, mas logo misturou russo à conversa. As orelhas de Seo-Ryeong se aguçaram, mas ela fingiu não entender e se virou. Wooshin interveio, traduzindo calmamente.
“Mas o que isso tem a ver com cadáveres?” Ela fez uma careta, confusa. Lee Wooshin alisou um fio solto de seu cabelo e explicou: “É uma religião antiga, que floresceu na Ásia Central. Os seguidores consideravam o fogo sagrado, então não cremavam nem enterravam os mortos. Achavam que isso profanaria o fogo e a terra. Por isso, faziam enterros celestes.”
“Enterros… celestes?”
“Eles deixavam os corpos para os pássaros devorarem.”
“…!”
“Se você coloca um corpo no alto de uma colina, os abutres aparecem.”
“Ugh.” Ela fez uma careta.
“Eles acreditam que as aves carregam a alma dos mortos para o outro mundo.”
Pelo que sabia, esse costume já havia sido proibido, mas aparentemente alguns ainda o praticavam em segredo. A senhora olhou para a colina baixa e murmurou:
“Pena dos recém-casados. Nossa pousada costuma receber visitantes que vêm para funerais. Isso te incomoda?”
“Não, tudo bem.”
Seo-Ryeong fitou as aves carnívoras empoleiradas nos galhos com uma expressão indecifrável. Elas esticavam o pescoço bruscamente e abriam o bico para soltar gritos agudos — sons cortantes que ecoavam no ar. Então a dona, em voz baixa, confidenciou:
“Dizem que, se o olho direito for devorado primeiro, o morto vai para o paraíso como uma alma virtuosa. Se for o esquerdo, cai no inferno como um pecador.”
Ao ouvir aquilo, Seo-Ryeong não soube por quê, mas a imagem da chefe Joo Seolheon e de Rigay surgiu em sua mente.
A dona entregou-lhe a chave, mostrou o quarto e recomendou que descansassem bem.
Mais tarde, Seo-Ryeong abriu a mala sobre a cama e ficou muito tempo olhando para o vestido branco que havia trazido de casa. Assim que entrou no quarto, inspecionou cada canto — o teto, debaixo da cama, até dentro da chaleira — antes de finalmente falar, como quem toma uma decisão:
“Acho que vou trocar por um vestido preto.”
O rosário em seu pulso tilintou suavemente.