Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 159
Quando ela disse que usaria um vestido preto em vez de branco, Lee Wooshin a observou por um momento e, em silêncio, apenas assentiu.
Apressada, Seo-Ryeong pegou emprestado um vestido preto da dona da hospedaria. Ao ouvir a situação, a mulher bateu palmas, animada, dizendo que tinha um vestidinho preto de uma marca de luxo, guardado há mais de sessenta anos no fundo do armário.
Era um sheath dress sem mangas, com um elegante decote arredondado, ombros nus, ajustado na cintura e caindo de forma lisa até os tornozelos.
A dona comentou, com certo orgulho, que o modelo havia se tornado ainda mais famoso por ter sido usado por Audrey Hepburn — e então acariciou com saudade sua barriga agora arredondada.
“Naquela época, eu também…”
Depois de um almoço tardio, Seo-Ryeong subiu a colina ao lado de Wooshin. Tinha passado dias correndo sem parar à procura de Kim Hyeon, então aquele breve momento de descanso parecia irreal.
Ela olhou para o homem que fora seu marido o tempo todo — e que, no dia seguinte, se tornaria outro marido. Os lábios ressecados se curvaram num sorriso torto. Segurando firme a mão inconfundível de Kim Hyeon, apontou para o céu.
“Instrutor, olhe. Os pássaros estão se reunindo.”
Na encosta, pessoas se juntavam para chamar os pássaros que levariam os mortos. Rasgavam o tórax do cadáver, retiravam as entranhas com as mãos e as espalhavam, depois esmagavam a cabeça com uma pedra grande para facilitar o banquete das aves.
Alguns desviavam o olhar, cobrindo o nariz e a boca com lenços enquanto choravam. Mas Seo-Ryeong apenas ergueu o rosto e observou o bando que se aproximava.
Então é a isso que vocês respondem… o cheiro de carne e sangue apodrecidos.
Seus olhos se estreitaram.
“…”
“…”
Wooshin observava a cena em silêncio, depois inclinou a cabeça como em uma prece muda. Seo-Ryeong não sabia por quem ele rezava — e tampouco se importou em perguntar.
Não havia necessidade de dizer nada: ambos sabiam muito bem o tipo de lugar que haviam deixado para trás.
Ela fechou os olhos por um instante, depois voltou a encarar o corpo mutilado.
O funeral só terminaria quando a carne desaparecesse e restassem apenas os ossos. O que significava que, enquanto o corpo fosse devorado, eles estariam celebrando o casamento ali perto. Parecia-lhes apropriado.
Seo-Ryeong tornou a fechar os olhos e fez sua própria oração silenciosa.
Wooshin saiu com o dono da pousada para comprar cordeiro para a festa do dia seguinte. Sozinha no quarto, Seo-Ryeong olhou para o próprio reflexo no espelho com uma estranha sensação de distância.
Você cresceu, Sonya. Viveu o bastante para se tornar adulta. Esfregando as bochechas, tocou o próprio rosto como se aquelas feições fossem de outra pessoa.
Toc, toc. A dona da pousada entrou, segurando uma vela perfumada.
“O vestido serviu bem?”
Ao ouvir o russo casual, Seo-Ryeong respondeu no mesmo idioma:
“Bem o bastante para eu ter que me controlar pra não roubá-lo.”
A mulher arregalou os olhos e, em seguida, caiu na risada.
“Não conte ao meu marido”, brincou Seo-Ryeong, levando o dedo aos lábios. “Senão ele vai achar que tive um caso com um russo.”
A dona prometeu guardar segredo, ainda rindo.
“Mas tem certeza de que está tudo bem usar um vestido preto num casamento? Se eu disse algo fora de hora…”
Seo-Ryeong balançou a cabeça. A ideia de um funeral acontecendo ali por perto era complexa, mas só por causa do que ela havia testemunhado — nada de que a mulher precisasse se desculpar.
“A propósito”, disse a dona, com um sorriso gentil, “você e seu marido parecem ter um ótimo relacionamento.”
“Nós parecemos?”
“Ele não tirava os olhos de você!”
“…”
“Quando pedi pra ele me avisar se algo acontecesse, ficou alisando a mão desta velha e rindo com aquele sorriso maroto… Ele não é um homem comum. Aposto que você teve trabalho com ele.”
“Muito.”
As rugas quentes da dona se aprofundaram quando ela riu.
“Venha, vou lhe mostrar a casa.”
Seo-Ryeong a seguiu, observando o interior antigo. A mulher lhe mostrou cada detalhe do jardim onde a festa seria realizada — um ponto central de onde os convidados poderiam assistir do segundo e terceiro andares.
Mais entusiasmada que a própria noiva, ela contou:
“Meu marido tocava um pouco quando jovem. Passou os últimos dias polindo o tar.”
Seo-Ryeong apenas sorriu de leve.
“Mas tem certeza de que está bem deixar completos estranhos festejarem com vocês?”
“Sim. Quero que lembrem só por um instante… o suficiente pra esquecer assim que virarem as costas.”
“Sua família não vem?”
Depois de uma pausa, Seo-Ryeong respondeu:
“Talvez… uma pessoa venha…” deixou a frase suspensa, olhando para o campo aberto além do terraço. “Por enquanto, somos só nós dois.”
“Pois eu vou assar o cordeiro como ninguém! Sabe por que chamam este lugar de Terra do Fogo? Chamas saem do chão como lança-chamas e nunca se apagam — já dura quatro mil anos! É por isso que os casais vêm pra cá… dizem que vão se amar por quatro mil anos. Você veio ao lugar certo!”
A bochecha de Seo-Ryeong se contraiu, quase num espasmo. Quatro mil anos… com Wooshin…
“Dizem que é por causa do gás”, disse Seo-Ryeong, “uma mistura natural de metano, enxofre e oxigênio…”
Percebendo a pressa em corrigir, a dona sorriu com malícia.
“O que foi? Quatro mil anos é tempo demais pra você?”
“Ah, bem…”
“Claro que é! O amor é bom só por um tempo… Depois que o marido gruda, vira um estorvo. Quanto mais velha a mulher, mais quer viver sozinha. Mas o que pode fazer, menina? Já está fisgada.”
Suspirando, ela deu um tapinha no ombro de Seo-Ryeong.
“O noivo é alto e bonito, mas te encara demais. Se continuar assim quando envelhecerem, você vai enlouquecer vivendo com ele!”
Como para reforçar o aviso, olhou para o relógio.
“Olhe pra mim, tagarelando…! Consegue voltar pro quarto sozinha? Preciso ir até o campo de caça do meu marido.”
“Campo de caça?”
Os olhos de Seo-Ryeong, até então apáticos sob as flores de glicínia, se aguçaram. A dona apontou para um jipe antigo.
“Há um campo de caça aqui perto. Era do meu marido, mas vai ser demolido. Vamos limpar o terreno e construir uma segunda casa.”
Seo-Ryeong segurou o braço dela com gentileza.
“Pode me mostrar também?”
Quando voltaram do passeio pelo campo de caça, o jipe ainda sacolejava. Seo-Ryeong estava exausta. O lugar guardava armas antigas e tranquilizantes para animais… parecia mais útil do que imaginara.
De volta ao quarto, sentou-se na cadeira de balanço e adormeceu. Pela varanda aberta, a brisa acariciava sua pele — até que, de repente, o movimento de seus cabelos cessou. Alguém a havia erguido.
“—”
Ah… é o Hyeon? Não… o Instrutor.
Nem sabia a quem havia chamado. Mesmo meio sonolenta, aninhou-se mais fundo em seus braços. Ele hesitou por um instante, depois a abraçou com força e se deitou com ela na cama.
Mãos gentis afastavam seus fios de cabelo, alisavam-lhe as sobrancelhas. Fazia cócegas — mas também dava sono. Então suas cabeças se encostaram, respirações se misturando. Era um instante de conforto.
Quis abrir os olhos, mas o corpo e a mente — ainda enfraquecidos pelo veneno — estavam completamente esgotados.
A mão que acariciava seu rosto desceu até o queixo. Quando tocou a nuca, arrepios finos correram por sua pele. Seo-Ryeong se mexeu, murmurando entre sonhos:
“Amanhã…”
“Amanhã o quê?”
“Faça amanhã…”
“Ora, veja só,” ele respondeu, divertido. “O que faremos amanhã?”
“A primeira noite…”
O homem riu baixo, inclinando-se sobre ela. O hálito quente roçou seu pescoço.
“Uma pessoa devia ser ou má, ou fofa… não as duas coisas ao mesmo tempo.”
Os lábios tocaram de leve suas narinas e, logo depois, morderam o canto da boca. Beijos pequenos e contínuos se seguiram, um após o outro.
Não deveria ser assim — mas era quente, e era feliz. O calor constante de Kim Hyeon, de Lee Wooshin, a envolvia por completo.
“Hoje ouvi muita coisa da dona da pousada…” Wooshin puxou o cobertor até o pescoço dela e murmurou, a voz profunda como um lago. “Um dos pontos turísticos daqui se chama Torre da Donzela. Sabe por quê?”
Nenhuma resposta.
“Dizem que havia uma princesa que amava um homem, mas foi forçada a se casar com outro príncipe. O príncipe mandou construir uma torre pra conquistá-la — e ela cresceu até a altura que tem hoje. Mais tarde, a princesa dançava no topo da torre e…”
Wooshin parou, apertando-a mais contra o peito.
“Ela pulou.”
Olhou para as cortinas que ondulavam na brisa escura.
“Ninguém aqui parece saber como o príncipe viveu depois disso.”
Encostando os lábios em seus cabelos, sussurrou baixinho:
“Mas por que eu acho que sei, Seo-Ryeong…”
Ao longe, o som das aves de rapina devorando os corpos ecoou mais alto.
“Minha Coruja… sinto muito, mas você não vai a lugar algum.”