Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 160
Por fim, hoje, ela se casaria novamente com seu ex-marido, Kim Hyeon.
Desde o amanhecer, após um banho quente na banheira, Seo-Ryeong sentou-se na penteadeira e começou seus preparativos.
Usando apenas um roupão que moldava seu corpo, penteava o longo cabelo com o rosto frio e inexpressivo.
Escondeu a lâmina afiada dos pensamentos que trazia por dentro e, de modo mecânico — quase distraído —, passou o pente pelos fios.
Quando o som firme e ritmado de sapatos engraxados se aproximou, ela lançou um olhar ao espelho e viu Lee Wooshin parado ali, de smoking, segurando peônias brancas.
Sem dizer uma palavra, ele se aproximou, entregou-lhe as flores e tirou o pente de sua mão.
“Pra que é isso?”
“O buquê de que falei da última vez. Disse que o buscaria no aeroporto.”
“Não murcharam?”
Observando as flores exuberantes, surpresa, ela se lembrou de ter ouvido que as peônias brancas eram uma das preferidas das noivas.
Agora, vendo-as de perto, tinha de admitir que eram realmente lindas.
Ela não sabia quem as havia preparado, mas pensou que Wooshin havia sido incrivelmente cuidadoso ao trazê-las.
Homens acostumados a viver fora de casa geralmente eram descuidados com esses detalhes, mas ele tinha uma forma peculiar de ser atencioso nos momentos inesperados.
Seo-Ryeong aproximou as peônias do rosto e aspirou seu perfume suave.
Nesse instante, lábios mornos tocaram o topo de sua cabeça.
“Posso te ajudar a vestir o vestido?”
“O quê?”
“Pra mim, casamento significa isso: ficar diante de todos e jurar que só vou dormir com esta mulher pelo resto da vida. Declarar que sou o único que pode tocar a bainha da saia de Han Seo-Ryeong.”
“O que você…”
“Então, pensei que, se serei eu quem vai tirá-lo depois, também devo ser o primeiro a colocá-lo.”
“…”
“Coloque as mãos nos meus ombros.”
Ele se abaixou para que ela pudesse entrar no vestido com mais facilidade.
Seo-Ryeong enfiou as pernas quase sem pensar, movendo-se docilmente conforme as instruções do marido.
O zíper subiu, e os lábios dele roçaram novamente a parte de trás de sua cabeça.
Só havia os dois ali para o casamento — era tarde demais para formalidades.
Wooshin afastou seus longos cabelos para um lado, expondo a nuca limpa, e passou a mão sobre ela.
Seo-Ryeong se enrijeceu, mas não recuou.
Logo o vestido, caindo graciosamente até os tornozelos, se ajustou perfeitamente.
O reflexo no espelho mostrava uma mulher elegante e linda.
“Seo-Ryeong.”
Uma grande mão envolveu-lhe a cintura.
“Quando teremos uma linda criança parecida com você?”
“…!”
Sua nuca se enrijeceu. Precisava controlar a expressão, parecer a noiva tímida e feliz, mas aquelas palavras inesperadas fizeram a pele sob seus olhos tremer.
Pelo espelho, Wooshin a fitava diretamente. Ela não conseguia decifrá-lo.
“…Uma criança?”
“Bem, se você não quiser, eu não quero.”
“O quê…”
Seu rosto perdeu toda a compostura, incrédula, mas o olhar dele era sério, firme.
Um frio repentino percorreu-lhe o peito.
“Viver em zonas de guerra tira de você a vontade de ter uma família. É melhor que estejam mortos do que vivos. Já vi homens demais chorando por esposas e filhos arrastados embora, e me enojei disso. Por isso nunca quis uma família. Não precisava de uma.”
“…”
“Mas Han Seo-Ryeong, você…”
Ele olhou para o reflexo perfeito dos dois — noivo e noiva —, depois abaixou a cabeça.
Sua testa quente roçou insistente o ombro dela, e o aperto em sua cintura era tão firme que doía.
“Você me faz querer arriscar a vida de novo.”
“…!”
“Você me faz querer te proteger, mesmo que isso me custe tudo.” as veias grossas nas costas das mãos entrelaçadas saltavam sob a pele. “Talvez por isso eu queira colocar neste mundo uma criança como você.”
A voz grave dele vacilou um pouco.
“Só porque seria seu filho, este mundo miserável talvez parecesse um lugar um pouco melhor. Quero mostrar a essa criança o seu rosto, o seu sorriso, o seu perfume. Me gabar dizendo: este é o mundo que eu consegui ter.”
“…”
“Vou garantir que nossa família não se desgaste, nem seja infeliz.”
Ele franziu o nariz avermelhado e escondeu o rosto outra vez, mas a expressão desmoronada já estava toda exposta.
O hálito quente contra a nuca dela era escaldante, como metal derretido.
Precisava fazê-lo baixar a guarda.
Não podia estragar o clima.
E, ainda assim, sua boca se moveu por conta própria.
“E se, por mais que tentemos, não acontecer?”
Pensou: Provavelmente não posso engravidar.
Este corpo, exaurido até o limite por tanto tempo — nada saudável poderia brotar nele. Infertilidade, ou quase isso.
Não precisava de exames para saber. Talvez fosse a alimentação precária da infância; sua primeira menstruação demorara anos a vir.
E, ainda assim, preocupar-se com isso agora parecia absurdo.
Tudo o que restava era deixar aquele homem.
“Então Han Seo-Ryeong será meu bebê.” Wooshin sorriu, rápido e astuto. “Eu ficaria bem com isso.”
“…”
“Vou te carregar nos braços pra sempre. O que há pra temer?”
A voz espessa roçou-lhe o pescoço num leve mordiscar.
Uma pontada de dor atravessou a têmpora, e Seo-Ryeong franziu o cenho.
Enquanto tentava estabilizar a respiração, alguém bateu à porta — era a senhoria.
“Vamos?”
Ele estendeu a mão.
Era hora de a noiva fazer sua entrada.
Em seu primeiro casamento — quando estivera tão envergonhada —, agora ela podia dizer que fora uma bênção não ter enxergado o futuro.
Se tivesse olhado Kim Hyeon diretamente no rosto naquela época, teria ficado vermelha como um tomate.
E desta vez…
“Uff…”
Os rostos sorridentes diante dela eram dolorosamente nítidos.
Pelo visto, a senhoria espalhara a notícia por toda a aldeia; de casais idosos de cabelos prateados a crianças pequenas, todos haviam se reunido para felicitar o jovem casal estrangeiro.
Os rostos de desconhecidos, irradiando afeto puro à noiva, faziam seu coração disparar.
Eles aplaudiam enquanto repartiam pratos cheios de carneiro e enchiam os copos.
As notas suaves do tar — um instrumento de cordas — flutuavam na brisa morna.
Sob as flores de glicínia pendentes, com seus cachos violetas caindo em cascata, Seo-Ryeong forçou um sorriso enquanto as bochechas tremiam.
Sua expressão devia estar divertida, pois risadas suaves ecoaram ao redor.
Wooshin, com um leve sorriso, mantinha os olhos fixos apenas nela.
O olhar tranquilo e o canto gentil dos lábios pareciam satisfeitos.
As mãos de Seo-Ryeong coçaram de vontade de arrancar aquele rosto presunçoso dali mesmo.
E, ainda assim, vê-lo tão impecável em um smoking fez algo em seu peito se agitar.
“Por que está me olhando assim?”
“Só… não consigo acreditar, por mais que pense.”
“Não consegue acreditar em quê?”
“…”
“Nunca volte atrás.”
Wooshin tirou uma pequena caixa do bolso, e ela não pôde evitar lembrar-se do primeiro casamento. Eles também haviam trocado alianças naquela vez, mas ela perdera a sua antes mesmo de tê-la admirado direito.
Tinha simplesmente ido lavar as mãos e o anel escorregara ralo abaixo, num banheiro público.
Ficara arrasada. Não suportava se sentir tão inútil e desastrada, sempre dando trabalho a Kim Hyeon.
Envergonhada demais para confessar, ficou em silêncio por dias — até que, certa manhã, ele apareceu dizendo ter perdido o próprio anel, tropeçando nas palavras para encobrir o gesto.
Ela soubera na hora o que ele havia feito — inventando um erro só para poupá-la.
Esse era o tipo de marido querido e gentil que ele fora.
“Peguei um número um pouco menor desta vez. Apertado, pra machucar um pouco.”
“…”
“E se pensar em como é apertado pra mim dentro de você, melhor ainda.”
Ela deu um leve soco em seu ombro diante da sobrancelha arqueada e sugestiva.
Ele tossiu, mas Seo-Ryeong, tomada por um turbilhão de emoções, apenas olhou para o anel de prata.
Era lindo.
O que só a fazia ter ainda menos vontade de usá-lo.
Mesmo assim, quando estendeu a mão, a pequena algema deslizou até o quarto dedo.
E aplausos ecoaram novamente entre os presentes.
“Não consigo mais viver sem Han Seo-Ryeong.”
“…”
“Você é minha única razão. O único motivo para fazer, ou deixar de fazer, qualquer coisa.”
Ele sorriu com elegância e, inclinando-se, segurou-lhe a nuca antes de engolir seus lábios tensos.
O beijo suave, que anunciava um novo começo, a fez fechar os olhos sem pensar.
Não era o primeiro beijo deles, mas havia algo de diferente.
O calor floresceu por dentro.
Primeiro e último. Começo e fim…
Ela abriu os lábios por vontade própria e inclinou a cabeça.
O calor se espalhou num instante.
A língua dele deslizou pelo espaço, trazendo junto seu calor, sua respiração áspera e terna, sua confissão impossível — tudo.
A saliva se misturou densa, seus lábios se colaram ainda mais.
Seus narizes se tocaram, mas ele não recuou.
“Eu te amo”, sussurrou ele, com as testas unidas.
Os aplausos ao redor ecoaram, depois pareceram sumir.
Os lábios se encontraram de novo, e o toque faminto dele deixou apenas ele vívido em seus sentidos.
Ela lançou um olhar de soslaio a uma águia cruzando o céu e fechou os olhos.
Wooshin parecia feliz.
E isso, por um instante, também deixou Seo-Ryeong feliz.
Finalmente… Lee Wooshin estava maduro.