Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 2
A energia estava desligada.
“Em seguida, ouvirá um bipe. A cobrança será feita para o correio de voz.”
Ela sentiu as pernas fraquejarem.
Eram quatro da manhã. O marido não atendia o telefone.
Nove horas haviam se passado desde que ele saíra do trabalho — como uma máquina, pontual, às sete da noite — e cortara todo contato.
Seo-Ryeong mordia as unhas sem perceber. Elas se partiram, e o sangue escorreu entre os fragmentos. O cheiro metálico invadiu suas narinas. Então começou a roer as outras, perdida no vazio.
Como as coisas chegaram a esse ponto?
“Provavelmente não é nada.” Foi o primeiro pensamento. Depois veio: “Talvez tenha surgido algo urgente no trabalho.” E, por fim: “Deve ter sido mandado de última hora numa viagem a negócios e está num jantar da empresa agora.”
Ela tentava se agarrar a pensamentos racionais e comuns, com medo de deslizar para fantasias sem fundamento — ‘Ele deve ter outra mulher…’ — que logo viravam ‘Ele não te ama mais.’ Um caminho perigoso.
Para não se perder nessas ideias, ela se agarrou ao que aprendera com o psiquiatra: respirar, esperar.
Seo-Ryeong inspirou fundo, esperando. Esperando que ele abrisse a porta, que entrasse primeiro. Que rompesse a escuridão.
“O número que você discou é inválido ou está bloqueado para chamadas recebidas. Por favor, verifique e tente novamente.”
Quando ouviu a mensagem, e o número da empresa apareceu como desconectado, o pânico a dominou.
“Mas… o quê?”
Um sorriso frio lhe escapou. O marido trabalhava numa pequena empresa de equipamentos médicos. Aquele número fora o próprio ele quem lhe dera.
Será que a empresa faliu?
Então… ah, então é isso.
Seo-Ryeong inspirou fundo mais uma vez.
Mas não conseguia parar de bater os dedos na mesa. Tentava imaginá-lo ocupado, correndo de um lado pro outro.
Deve estar atarefado, sem tempo nem pra comer. É isso. Não posso incomodá-lo. Outras esposas confiam em seus maridos. Eu devia fazer o mesmo.
Pensamentos bons. Ela precisava pensar coisas boas.
Como num transe, foi até a cozinha. Queria fazer algo — qualquer coisa. Pensou em preparar uma sopa quente de brotos de feijão, para quando o marido voltasse cansado.
Apesar dos avisos dele sobre os riscos de cozinhar sendo deficiente visual, Seo-Ryeong tinha talento natural. Geralmente, a casa já estava em ordem quando ele chegava.
Lavar os brotos primeiro, depois picar as pimentas-verdes…
Mas, conforme o tempo passava, a ansiedade crescia. A respiração ficava curta, o peito apertado.
Então — ah! — soltou um gemido. A lâmina havia escorregado e cortado um pedaço do dedo.
Sem pensar em pegar um casaco, agarrou a bengala e enfiou os pés nas pantufas. Lá fora, a garoa fina caía. Tap, tap, tap — o som da bengala batendo no chão, apressado, desesperado.
“…Meu marido parece estar desaparecido—”
Molhada da cabeça aos pés, o corpo tremia. A voz, fina e vacilante como a de uma formiga, quase se perdia no ar.
Mas, assim que entrou na delegacia, os policiais saltaram como molas.
“Larga a faca!”
“…O quê?”
“De quem é esse sangue?!”
O som era ensurdecedor — rádios chiando de um lado, passos correndo do outro. Sentindo a aproximação dos policiais, Seo-Ryeong deu um passo para trás.
Não, esperem — meu marido está desaparecido!
“Larga a faca! Dominem essa mulher!”
Instintivamente, ela girou o corpo e acertou um deles com a bengala.
Thud! — o som seco de algo atingido no ombro.
“Oof…!” — o policial gemeu.
“Meu marido está desaparecido!” ela gritou de novo.
“Certo, entendemos… mas por favor, abaixe a faca!”
Só então Seo-Ryeong percebeu que ainda segurava a faca de cozinha com que cortara as pimentas.
As vozes masculinas soaram num coro nervoso enquanto ela, confusa, entregava a lâmina. Respirou fundo, como se acordasse de um sonho ruim.
Empurrou o cabelo grudado ao rosto e limpou a umidade. O ar parecia estranho — frio demais, mesmo para as quatro da manhã.
“Que sensação é essa…? Está gelado demais.”
“É sangue…”
“O quê?”
“Você é quem ligou dizendo que o marido sumiu, certo?”
“Sim! É um desaparecimento, por favor, façam alguma coisa!”
Os policiais se entreolharam. Nenhum respondeu de imediato. Apenas cochichos baixos preencheram o ambiente.
“Por favor, sente-se aqui.”
O arrastar metálico da cadeira soou doloroso.
“Vamos começar o registro. Nome da denunciante?”
O tom do policial não era caloroso, mas também não parecia indiferente.
“Tudo bem. Como podem ver, sou deficiente visual. Meu marido vestia sempre as mesmas roupas por semana. Hoje, uma camisa branca, terno cinza e gravata azul. E…”
Ela apertou a bengala com força, engolindo a amargura que queimava na garganta.
“Eu não sei como é o rosto dele. Mas há uma foto — nossa foto de casamento — em casa.”
“Desde quando não há contato com seu marido?”
“Faz cerca de nove horas.”
“Hmm…”
O policial coçou a cabeça, hesitante.
“Talvez não possamos agir imediatamente. Só é possível abrir uma busca oficial depois de 24 horas sem contato.”
“…”
“Na maioria das vezes, as pessoas voltam pra casa sozinhas. Mas, se houver indício de crime, começamos a agir na hora.”
“Crime…?”
O corpo inteiro de Seo-Ryeong estremeceu. Não sabia se era pelo frio que drenava seu calor, ou pelo eco sombrio daquelas palavras.
“Por exemplo… quando tentam disfarçar um assassinato como um caso de desaparecimento.”
“….!”