Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 29
Eventualmente, Seo-Ryeong voltou para o quarto do hospital e se deixou cair na cama, dando leves tapinhas no próprio quadril. Lançou um olhar indiferente para o braço enfaixado.
As palavras de Lee Wooshin sobre a compensação não pareciam mentira — ela mesma podia confirmar isso agora.
Por algum motivo, ele havia lhe dado um sermão disfarçado de preocupação sobre “como viver dali pra frente”, e, no final, sua conta bancária fora generosamente preenchida com o pagamento de risco e uma quantia de consolação pessoal. Era o suficiente para viver tranquilamente por alguns meses, sem precisar se preocupar com as contas.
Mas…
Ela havia entrado naquela empresa com um único propósito: fazer algo ruim por causa de Kim Hyeon. Ser expulsa assim, de repente, a enchia de uma frustração inevitável.
Seo-Ryeong ficou encarando a TV, que falava sozinha, alta demais.
“Park Mo, filho do deputado Park Kwang-doo, recebeu cerca de cinco bilhões de wons em indenização ao deixar a Empresa A, envolvida em um escândalo de favorecimento no projeto de Seorim-dong. Park Mo, que trabalhou cinco anos na equipe de compensações, ocupava o cargo de subgerente no momento da demissão… o valor excessivo da rescisão, desproporcional à sua posição e tempo de serviço, gerou controvérsias…”
Seo-Ryeong apenas deu de ombros, deixando que a voz ritmada do repórter entrasse e saísse de seus ouvidos.
O caminho que ela vinha traçando em direção ao marido havia, de repente, chegado a um beco sem saída. Só esse fato já era o bastante para sugar sua energia, deixando-a apática e sem forças até para pensar.
E com o braço direito ferido, a ausência de Kim Hyeon parecia ainda mais dolorosa.
Ela não conseguia evitar lembrar do cuidado meticuloso dele, da ternura com que a tratava — tudo isso agora parecia uma ilusão distante. Aqueles dias no hospital eram uma tortura. De vez em quando, soltava um suspiro longo, carregado de saudade.
De repente, a porta do quarto se abriu sem bater.
A primeira coisa que ela viu foi uma bengala preta e elegante. O detalhe de uma águia entalhada perto do cabo deixava claro que era um acessório caro.
O homem de terno, já na casa dos quarenta, entrou com um sorriso enviesado assim que a viu.
“Senhorita, seus olhos parecem ainda mais vivos, mesmo depois de tudo que passou.”
“…Quem é o senhor?”
Sem responder, ele adentrou o quarto com um sorriso torto.
O modo como ele se sentou no sofá, com o olhar dizendo “Por que está de pé? Sente-se”, fez Seo-Ryeong obedecer quase automaticamente.
O homem parecia acostumado a exercer esse tipo de pressão silenciosa — ou talvez as pessoas ao seu redor simplesmente cedessem antes que ele precisasse pedir.
Ela se viu obrigada a sentar-se de frente para ele.
“Sou Kang Taegon, CEO da Blast.”
“…!”
Os olhos de Seo-Ryeong se arregalaram. O CEO? O que alguém como ele estaria fazendo aqui?
Percebendo o espanto dela, ele continuou, como se tivesse lido seus pensamentos.
“Viemos visitar a Channa e ficamos curiosos sobre quem a salvou.”
“Ah… entendo.”
Mesmo desconfortável com o título, ela assentiu. Kang Taegon observava atentamente, seus olhos ganhando um brilho curioso.
“Quase perdemos um ativo muito valioso. Você segurou firme a nossa Channa até o fim…”
“…”
“Isso foi realmente… inesperado.”
Ele passou a mão pelo queixo, examinando-a de cima a baixo com olhos clínicos e frios — típicos de quem está acostumado a avaliar pessoas como se fossem contratos.
Bastou um olhar para que ele parecesse medir sua altura, peso e até o tamanho das roupas.
“Vim pessoalmente agradecer. Channa é uma peça-chave da nossa empresa — alguém que eu trouxe a dedo. Se tivesse sido assassinado na Tailândia, o prejuízo seria imenso. Há contratos que só ele poderia cumprir.”
“Channa… é um gigante, e eu nem sabia.”
Mas então, por que Lee Wooshin mandou que eu a abandonasse?
Se o próprio CEO estivesse no comando da operação, Seo-Ryeong tinha certeza de que ele teria ordenado o resgate de Channa, mesmo que isso custasse a vida de alguém.
Parece que, naquela empresa, algumas vidas valiam mais do que outras — e a mulher que mandava Seo-Ryeong buscar comida ou limpar o chão era facilmente substituível.
Então o estranho é o Lee Wooshin, pensou ela.
Como ele pôde mandar que ela deixasse Channa para trás com tanta frieza? E por que, no fim, tentou salvar só a ela?
Aquilo a deixava inquieta.
“Tem alguma ordem pra mim?” perguntou Seo-Ryeong, direta. “Já assinei o contrato de confidencialidade.”
A resposta fez Kang Taegon rir alto.
“Não pretendo divulgar o que aconteceu na Tailândia. Imagino que era isso que o chefe Kang queria — confirmar o acordo.”
“Bom, fico feliz que tenha entendido rápido.”
O riso dele era cheio, satisfeito, como o de alguém que acabara de achar um peão útil no tabuleiro.
“Claro que o contrato é o mais importante, mas eu gosto de adicionar um algo a mais. Desejo humano é uma doença — precisa ser administrado pela vida toda.”
Seo-Ryeong o observou em silêncio.
“Às vezes, é bom oferecer um agrado. Um gesto de boa vontade.”
Ela não sabia, mas esse era o método de Kang Taegon para controlar pessoas. Segredos eram fraquezas — e para quem os carregava, ele oferecia tentações irresistíveis: exatamente aquilo que mais desejavam.
“Então me responda com sinceridade. Você tem algum desejo? Algo que queira de mim?”
Seo-Ryeong ficou muda por um instante diante da proposta direta. A resposta era a mesma que ecoava nela desde o início. Sempre fora uma só.
Kim Hyeon.
Reconstruir o caminho até ele.
“Você também… sequestra pessoas?” perguntou ela, calma.
“…”
O sorriso dele congelou por um momento. Depois piscou, como se tentasse confirmar se tinha ouvido certo.
“Depende da situação. Mas… isso seria um pedido formal para contratar a Blast pra algo assim?”
“Se possível, com a Equipe de Segurança Especial.”
“Posso saber quem exatamente você quer sequestrar?”
“A vice-diretora do Serviço Nacional de Inteligência.”
“…!”
O rosto de Kang endureceu.
“Não me importo se for um cargo ainda mais alto. Mas abaixo disso… não serve. Tem que ser um oficial.”
“Posso perguntar por quê?”
Ele parecia genuinamente atordoado — e com razão.
Afinal, apenas alguns poucos oficiais sabiam a verdadeira identidade dos agentes conhecidos como “agentes negros”.
Mas Seo-Ryeong resumiu tudo em uma única frase:
“Eu também quero fazer coisas ruins.”
Kang Taegon pressionou os lábios, pensativo.
“E há… outro pedido? Em troca de ter salvado Channa.”
Seo-Ryeong já tinha a resposta. Ela aproveitaria a situação, usaria a inconsciência de Channa como moeda de troca.
Apenas imaginar como se aproveitar daquela brecha já fazia seus olhos brilharem.
Então Kang a observou em silêncio e perguntou, num tom quase clínico:
“Senhorita… você tem pesadelos? Já apresentou sintomas de estresse pós-traumático?”
“Não, nunca,” respondeu Seo-Ryeong, confusa com a pergunta repentina.
Kang ficou em silêncio por um instante, depois a olhou como quem enxerga além da pele.
“É mesmo? Estranho. Depois de tudo o que passou… por que seus olhos ainda não estão quebrados?”
Seo-Ryeong pareceu surpresa — sua mão tremeu quando os dedos dele roçaram perto de seus olhos.
“Não estão quebrados?”
“Parece que não.”
Ele riu, coçando o queixo. Um brilho malicioso cintilou em seus olhos.
“Não gosto de gente que pega trauma. Esse tipo… humano demais… não serve pra esse ramo. Mas você — você parece ter se libertado completamente disso.”
Um sorriso satisfeito surgiu em seu rosto. O riso grave dele ecoou pelo quarto.
E Seo-Ryeong, por um instante, lembrou-se de Lee Wooshin — de suas palavras frias, do aviso para não olhá-lo mais.
Agora, ironicamente, parecia que tudo havia se invertido.
Ela ainda não sabia quem estava certo, mas uma coisa era clara:
no momento, ela precisava de Kang Taegon.