Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 31
O canto dos lábios dele se curvou num sorriso lento — como se uma lembrança antiga o tivesse alcançado.
Havia algo ali… um lampejo de cobiça cintilando em seus olhos enrugados.
“Não consegui contratar nenhuma mulher porque não apareceu nenhuma realmente boa. Mas há várias funções em que o trabalho feminino é útil — mesmo que não seja exatamente para esse tipo de serviço. Ainda assim… encontrei uma que achei bem interessante.”
Kang Taegon soltou uma risada satisfeita, mexendo o gelo derretendo em seu copo.
“Fria e calma… isso mesmo, dura como o gelo.”
Seus olhos se estreitaram. Mesmo depois de tê-la avaliado, ele ainda não conseguia entender aquela mulher.
Era difícil explicar — mas ela parecia simplesmente mais resistente do que a maioria.
Mesmo depois de ter apanhado tanto quando jovem — algo que nunca imaginou que viveria — Seo-Ryeong nunca se partira por completo.
Havia uma dureza no olhar dela, uma força que nem soldados experientes costumavam ter.
Taegon não pôde deixar de rir ao se lembrar da expressão absurda que ela fizera.
Ela era um enigma. Aquilo era natural… ou resultado de experiências ainda piores?
E, no entanto, apesar da personalidade forte, o passado de Seo-Ryeong era surpreendentemente apagado. Taegon se perguntava como ela tinha conseguido passar tanto tempo sem causar confusão.
“Se meu julgamento ainda presta, eu não vou desistir do treinamento no meio do caminho.” disse Taegon, com um tom sério.
“Ele precisa de uma guarda-costas mulher, alguém pra servi-lo pessoalmente — não outra pessoa qualquer.” o homem reforçou, desviando o olhar da vista panorâmica da cidade e pousando o copo vazio sobre a mesa com um tilintar seco.
“Qualquer uma competente já serve.” completou, batendo de leve na estátua de uma águia que segurava uma cruz no bico.
“Então nos vemos quando vier à Coreia. Acho que só nos resta esperar ela subir até aqui.” — concluiu, voltando o olhar para o monitor do computador, onde a foto de ficha criminal de Han Seo-Ryeong ocupava a tela inteira.
A orquídea de inverno — presente de Kang — havia florescido sozinha, abrindo suas pétalas delicadas sem precisar de água nem de limpeza.
Ela tinha lido as instruções que vinham junto apenas uma vez antes de trancá-las na gaveta, insegura se aquela oportunidade era verdadeira ou apenas uma armadilha bem disfarçada. Não queria correr o risco de tocar naquele panfleto uma segunda vez.
Ainda assim, o título em negrito na capa parecia chamá-la, despertando uma enxurrada de emoções confusas que faziam seu coração bater rápido demais.
“Por que isso tá acontecendo comigo…?” murmurou Seo-Ryeong, pressionando os dedos contra a têmpora, tentando conter uma tontura repentina.
A partir desse dia, ela se pegava olhando para a gaveta com frequência, como se algo lá dentro a hipnotizasse.
“Oh, estava admirando as flores de novo?” uma voz interrompeu seus pensamentos.
“…!”
Não… eu estava olhando pro panfleto esquisito embaixo.
“Por que não sai um pouco pra tomar ar e pegar um pouco de sol? Deve ser sufocante ficar presa no hospital o tempo todo. Espere, vou pegar um casaco e um xale pra você!” disse a cuidadora, num tom tão gentil que aliviou o humor de Seo-Ryeong.
Com o braço engessado e preso a uma tipoia, Seo-Ryeong saiu para o lado de fora. Era a primeira vez que se sentia realmente tranquila desde os dias em que andava pelas ruas da Tailândia com Channa.
Mas Channa ainda estava inconsciente, e isso pesava em seu peito. Seo-Ryeong queria muito poder vê-la antes de partir.
O vento frio do inverno cortava-lhe uma das bochechas, mas era uma sensação estranhamente familiar — tão fria quanto suas andanças sem rumo. Ela não tinha destino; apenas caminhava, seguindo o instinto dos próprios passos.
Nunca se metia em confusão e deixava os dias passarem enquanto trabalhava.
Era essa a rotina… até cruzar o caminho de Kim Hyeon.
Logo, Seo-Ryeong se viu sentada num ponto de ônibus, observando distraidamente as pessoas passarem. Desbloqueou o celular e encarou um álbum de fotos vazio.
Seu polegar deslizava na tela, como se tentasse traçar lembranças que já não estavam mais ali. Na mente, imaginava o homem que deveria estar ao seu lado…
“Então, o amigo do meu irmão me respondeu ontem…”
“Mentira!”
“E não para por aí. Ele começou a me mandar um monte de mensagens — e, tipo, com várias indiretas. ‘Você tá interessada em mim, né?’”
Um grupo de adolescentes uniformizados passou rindo e se empurrando, com aquela alegria vibrante e sem filtro de quem ainda não conhece o peso da vida.
Seo-Ryeong os observou e, de repente, se levantou.
Ela sabia exatamente pra onde queria ir.
Ginásio da Escola Feminina Jiseul
A simples menção do nome trouxe uma enxurrada de lembranças inesperadas.
Com o rosto neutro, ela olhou para a placa gasta que identificava sua antiga escola antes de decidir entrar e caminhar pelos corredores familiares. O prédio estava quase vazio — a maioria das alunas já havia ido embora —, o que facilitou encontrar o ginásio de ginástica.
Ao abrir a porta, uma onda de nostalgia a envolveu. O cheiro do lugar — mistura de madeira, pó e giz — fez memórias antigas borbulharem.
Cada equipamento parecia congelado no tempo: o solo, o salto, as barras assimétricas, a trave… tudo parecia sussurrar fragmentos de um passado distante. O sol atravessava as janelas, iluminando partículas de poeira suspensas no ar — como se o tempo tivesse parado.
O toque da madeira, o pó de magnésio gasto, o aroma sutil de tamarindo — tudo ali parecia guardar um pedaço da vida que ela havia deixado pra trás.
Quando as luzes começaram a acender uma a uma, Seo-Ryeong percebeu um grupo de jovens atletas lideradas por uma mulher de apito pendurado no pescoço.
Os olhares das garotas se voltaram pra ela, arregalados, misto de surpresa e curiosidade diante da presença inesperada de uma estranha naquele ginásio silencioso.
A mulher se aproximou devagar, com uma expressão confusa e um toque de incredulidade.
“Você é… Han Seo-Ryeong?”
“…!”
“Han Seo-Ryeong? A verdadeira Han Seo-Ryeong?”
“Sim. Mas quem…?”
“Não lembra de mim? Eu era a vice-capitã do clube de ginástica no ano em que você saiu da escola!”
“Ah…”
Ao ouvir isso, o rosto da mulher começou a parecer vagamente familiar.
“Uau! Te ver aqui de novo… por um instante achei que estava vendo um fantasma!”
A mulher parecia genuinamente empolgada.
“Faz tantos anos! Te reencontrar aqui, justo no departamento de ginástica! É tão inesperado que eu nem sei por onde começar!”
“…”
“Como você tem estado? Aliás, eu sou treinadora aqui agora. Costumo ouvir sobre as outras meninas, mas sobre você… nunca nada.”
A pergunta direta pegou Seo-Ryeong de surpresa — ela percebeu o quanto sua vida tinha se despedaçado em pouco tempo. Constrangida, forçou um meio sorriso.
A treinadora, ainda animada, chamou as alunas:
“Ei, meninas! Venham aqui! Nossa veterana voltou!”
As estudantes se aproximaram correndo, empolgadas.
“Como o tempo passa… parece que foi ontem que a gente usava esses uniformes.”
Enquanto as garotas faziam aquecimento, tirando os agasalhos, Seo-Ryeong ficou as observando em silêncio por um momento.
“Meninas, comecem com aeróbico e depois vão pros exercícios de agilidade!” ordenou a treinadora, enquanto tentava conversar comigo.
Seo-Ryeong riu baixinho, lembrando dos velhos tempos. A conversa seguiu com atualizações sobre o time, nomes e histórias que ela mal conseguia recordar.
Até que a treinadora bateu palmas e disse:
“Ah, você soube das novidades sobre a Joo Daeun?”
“…”
Seo-Ryeong levou um instante pra lembrar quem era.
“Ela largou a ginástica e foi fazer faculdade de teatro e cinema. Agora vive aparecendo na TV. Criou toda uma imagem, sabe? Sempre fala da promissora carreira de ginasta que teve quando criança, toda vez que participa de um programa. Eles vivem pedindo gravações da nossa escola, mas tudo se perdeu há anos… então a gente sempre recusa.”
Ah, ela…
Se lembrou da colega que tinha caído da barra e quebrado a perna pra trás.
Seo-Ryeong deixou escapar um sorriso torto.
“A garota que quebrou a perna, certo?”
A treinadora piscou, meio sem reação.
“Você… lembra por que ela quebrou a perna?” perguntou, ajeitando a franja, desconfortável.
Aquele era um dia que ela nunca havia esquecido.
Na época, o Colégio Jiseul era conhecido por formar ginastas de elite — um oásis de talento em meio ao deserto da ginástica coreana.
E todo mundo conhecia Joo Daeun e Han Seo-Ryeong, as duas calouras mais promissoras.
Joo Daeun, filha de dois medalhistas olímpicos, era vista como um prodígio desde criança. O clube girava em torno dela.
Mas foi sua colega, Han Seo-Ryeong, quem quebrou a hierarquia silenciosa.
mariaviei26@gmail.com
O ruim de novel é que eles nunca lhe dão detalhe sobre as aparência dos figurantes 💔