Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 36
“Ou vocês menosprezam mulheres ou têm medo delas.”
Embora Lee Wooshin estivesse sentado, abaixando seu nível de olhar, sua expressão de desprezo pelos recrutas era nitidamente visível.
Ele parecia indiferente, até demonstrando sinais de aborrecimento. Ainda assim, o ar continuava pesado, quase como se tivesse gravidade própria. Ninguém ousava se opor a ele quando ele mostrava suas emoções assim. Esse era o poder que ele exercia.
“Mas, pelo alvoroço, parece ser o segundo caso, não é?”
Franzindo a testa, estalou a língua.
“Não se trata de desconforto com a recruta Han Seo-Ryeong; são os seus instintos primitivos que parecem vê-la apenas como uma mulher, tratando-a como um macaco mimado. Isso é que me irrita.”
A repreensão pairou no ar, deixando Sung Ulkchan sem palavras.
“Naturalmente, vocês se sentem intimidados. Encarar o próprio reflexo todo dia pode ser assustador. Mas não conseguir enxergar sua colega apenas como colega revela falta de inteligência e compreensão cultural.” O instrutor fez uma pausa, mantendo um tom polido.
Um silêncio sufocante tomou conta do alojamento, cada recruta intimidado demais até para se mexer. Cabeças baixas, rostos corados sob o peso da repreensão.
“Se entenderam, desempacotem suas coisas rapidamente.” Com isso, o instrutor se levantou, sendo recebido por um coro de “Sim, senhor!” e “Sim!” vindo de todos os cantos do quarto.
Todos estavam rígidos com a disciplina militar, e o ar congelado parecia aos poucos se dissolver.
Se não fosse Lee Wooshin ter parado bem à frente dela…
“Então, qual é o seu plano?” O tom de Wooshin era irritante, mas seu olhar perfurava Seo-Ryeong com precisão cirúrgica. Ela fechou e abriu os punhos, sentindo o peso do escrutínio.
“Dar um quarto separado, como sugerido, resolveria tudo?” Ele se moveu, mãos nos bolsos, transmitindo uma energia nervosa. Havia uma provocação sutil na pergunta, um desafio. “Você realmente acha que essa é a solução?”
Os olhos deles se encontraram, pupilas negras se abrindo como um mar turbulento e profundo.
“Mas como não há quartos vagos, se você tiver um, será compartilhado com um instrutor.”
“…”
“E esse instrutor é o que está à sua frente agora.”
Sua postura fria, pontuada por um leve movimento nos cantos da boca, era um afronta a todos. Mas, por algum motivo, Seo-Ryeong sentiu um incômodo mais profundo, uma sensação de má sorte que ia além do simples desrespeito.
“Chega, não me olhe assim,” retrucou, firme, mas com uma ponta de desafio na voz.
“Quantas vezes por dia você precisa vê-los nus?” ele insistiu, com um tom zombeteiro.
“Não me importa,” respondeu ela secamente, recusando-se a deixar que suas palavras abalassem sua determinação.
“Então vai trocar aqui também?” ele perguntou, com olhar penetrante.
“Sim,” afirmou, com voz firme. “Você disse que é problema de inteligência se não enxergar seus colegas como colegas.”
Houve um instante de compreensão nos olhos de Lee Wooshin, seus lábios se curvando brevemente antes de voltar à expressão fria habitual. Um olhar que sugeria que seu julgamento estava obscurecido por algo mais sombrio, algo distorcido.
Uma faísca desconhecida acendeu entre eles ao manterem o olhar, uma batalha silenciosa de vontades acontecendo na intensidade daquele encontro.
“Ok. É sua escolha resistir aqui,” murmurou com um sorriso zombeteiro, embora por baixo, uma nitidez permanecesse, palpável no ar.
Naquele momento, Lee Wooshin tirou algo do bolso e lançou na direção de Seo-Ryeong. Reflexivamente, ela estendeu a mão e pegou o objeto antes que caísse no chão.
Era uma pequena adaga, seu peso familiar na mão enquanto ela a segurava com firmeza, os dedos se fechando instintivamente ao redor do cabo.
Lee Wooshin examinou o grupo com um sorriso, voz carregada de uma diversão sombria.
“Se houver qualquer assédio ou abuso por parte de seus colegas, use isso primeiro e depois faça o relatório.”
A respiração de Seo-Ryeong ficou presa na garganta, choque e descrença a dominando. Mas antes que pudesse reagir, a voz de Lee Wooshin cortou o silêncio novamente.
“Recruta Han Seo-Ryeong, não misture suas prioridades,” advertiu, suas palavras mantendo peso que perdurou no ar mesmo depois de ditas.
Seu rosto frio lançou um olhar rápido em Seo-Ryeong antes de se afastar.
“Se algum de vocês for esfaqueado, está fora daqui sem mais delongas, Sung Ulkchan.”
“Sim, senhor…!”
Os olhos de Lee Wooshin percorreram os rostos endurecidos de cada um de seus homens, mas ele não dirigiu o menor olhar a Sung Ulkchan, chamado tão diretamente.
“Se algo acontecer entre você e Han Seo-Ryeong, será um esfaqueamento, nada mais.”
Era uma indicação clara de que ele permitia que Han Seo-Ryeong se defendesse dos homens.
Seo-Ryeong olhou para suas costas largas e mordeu o lábio discretamente.
Em um momento, ele se intromete com grosseria; no seguinte, limpa o ambiente impuro e caótico do alojamento com a mesma habilidade.
Cada aspecto daquele homem era irritante. Especialmente sua capacidade de manipular pessoas tão facilmente.
Sua voz clara ecoou pelo quarto.
“A BLAST tradicionalmente divide seu trabalho entre segurança terrestre e marítima, então quero que se concentrem em suas habilidades básicas e condicionamento físico durante este treinamento.”
Ele parecia prestes a dispensá-los. Lee Wooshin permaneceu à porta, como se seus assuntos estivessem resolvidos.
Pegou a maçaneta e girou.
“O assédio, como alguns podem saber…”
Alguns homens estalaram e reagiram imediatamente. De perto, seus rostos ficavam rapidamente pálidos.
Os dois soldados ao lado conversavam baixinho:
“Treinamento de assédio das Forças Especiais…” Seo-Ryeong leu seus lábios.
Lee Wooshin sorriu doce como sempre e confessou:
“Apenas lembrem-se disso. Quanto mais valioso o membro, menos facilidade eu dou.”
Seus olhos, semicerrados, miravam profundamente Seo-Ryeong.
Naquele momento, ela percebeu como um aviso implícito do que aconteceria se vacilasse.
“Se algum dia quiser desistir, toque o sino no escritório do sargento e vá embora.”
O olhar de Lee Wooshin permaneceu firme.
“Você não é uma recruta alistada ou uma fugitiva a ser trancada se fugir. Para os que chegaram até aqui, mesmo eu não posso detê-los pela força, certo?”
Seo-Ryeong engoliu a ironia sutil direcionada a ela, enquanto afiar sua determinação por dentro.
Mesmo se chegasse o momento em que realmente não pudesse aguentar, teria que suportar enfrentando aquele cara. Nunca permitiria que as coisas acontecessem do jeito que Lee Wooshin queria.
Seo-Ryeong cerrou os dentes mais uma vez.
“Droga,” murmurou, silenciosamente amaldiçoando.
Primeiro dia de treinamento da BLAST.
“Huff… huff…”
Era uma corrida de três quilômetros. Enquanto ofegava, sentia o gosto de sangue na garganta.
As botas militares que ainda lhe eram estranhas já machucavam seus calcanhares, e os pulmões pareciam prestes a se esmagar.
Lee Wooshin estava sentado no veículo à frente dos recrutas, sem qualquer equipamento de proteção, apoiando o queixo na mão como se estivesse entediado.
Ele despejava um fluxo de palavras abusivas aos homens, quase sem fôlego.
“O que fizemos para merecer já sermos porcos cozidos?”
“…”
“Quantos quilômetros vocês correram no máximo?”
Ele zombava dos recrutas, encharcados de suor.
“Se vão tropeçar assim, deveriam estar na academia de balé, não correndo!”
Gritou em voz baixa, batendo o punho no corpo do carro.
Com o início do treinamento real, Lee Wooshin abandonou sua postura cortês habitual. Ele deliberadamente minava a confiança dos recrutas, atacava sua autoestima e não hesitava em lançar insultos pessoais.
“De agora em diante, sigam o instrutor. Eu sou um inútil inadequado!”
De fato… O que era mais insuportável que o esforço físico era seu olhar de desprezo e insultos.
“Sou um inútil!”
“Coloquem mais força e gritem mais alto,” ordenou Lee Wooshin.
“Sou um inútil!”
“Todos os idiotas moles se reuniram aqui? Por que tantos idiotas sem cérebro…!”
“Sou apenas um pedaço de lixo inútil e tremendo!”
Enquanto os recrutas xingavam com veemência, Lee Wooshin sorria amplamente.
“Isso mesmo, nunca vão esquecer essa apresentação pessoal.”
Lee Wooshin minava deliberadamente o senso de eficácia deles, acariciava o ego e fazia ataques pessoais.
Às vezes, ele primeiro destruía a força mental com insultos ferozes e depois virava o jogo, fazendo alguns deles caírem diante dele.
“O que diabos os pais deles fizeram? Nunca foram criticados antes?” Seo-Ryeong se perguntou. “Todos agem como se tivessem perdido seu calcanhar de Aquiles.”
Do ponto de vista de Seo-Ryeong, era completamente incompreensível.
O olhar de Lee Wooshin passou para Seo-Ryeong, que arrastava suas botas militares mal conseguindo acompanhar a fila. O rosto magro de Wooshin estava parcialmente coberto pelo alto-falante vermelho.
“Han Seo-Ryeong, suas botas estão grandes demais?”
“Não…!”
“Se estiver cansada, pare. Não faltam homens aqui para te carregar.”
“……!”
As têmporas de Seo-Ryeong se apertaram. À primeira escuta, poderia soar afetuoso, mas não passava de humilhação.
Corada de frustração, ela tentou espremer uma resposta seca enquanto a garganta parecia estar sendo torcida. Suas botas militares já lhe causavam bolhas nos calcanhares, e os pulmões pareciam prestes a explodir.