Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 39
Seo-Ryeong observava, impressionada. Era uma boa estratégia. Logo todos começaram a copiar.
Mas, para ela, era diferente. Mesmo entre tantos, era como se fosse invisível — ninguém a chamava, ninguém a ajudava.
O frio mordia sua pele, as roupas encharcadas drenavam seu calor. O treinamento tinha virado uma luta real pela sobrevivência. Alguns homens já desmaiavam, sendo carregados para as macas por instrutores.
“Você está fora,” anunciou Wooshin, batendo com o megafone na nuca de um deles. “Falha no mergulho, hipotermia, fratura, colapso, pânico — todos dispensados. Aqui não criamos soldados aos poucos. Selecionamos os prontos pra missão.”
Os homens voltaram a se mover freneticamente. Seo-Ryeong se aproximou e começou a orientar um deles.
“Não aí — desce uns dois centímetros!”
O soldado obedeceu.
“Entre os pulsos, passa por baixo… isso!”
“É aqui?!”
“Sim, puxa mais forte!”
O nó se soltou, e ele libertou as mãos, correndo para ajudar os outros. Seo-Ryeong suspirou de alívio.
“Com a sua ajuda, eu podia ter tirado meus cadarços também…” murmurou um deles.
“D-desculpa…”
“O quê?”
“Tá muito frio… eu acho que vou morrer…”
“Então vai pra dentro, antes que morra de verdade.”
Eles saíram correndo, pálidos.
Sozinha, Seo-Ryeong trincou os dentes, as mãos ardendo e vermelhas. Não sei se ainda sinto frio ou calor.
Os que conseguiram se soltar correram, e só alguns ficaram.
“Primeiros quatro na fila. O resto, fora,” ordenou Wooshin.
Ele a observava com um olhar curioso. Sadista, pensou. Com número ímpar, ela acabou sozinha — um resto.
Seo-Ryeong olhou o céu negro e estrelado. A visão a acalmou. É por isso que eu aguento tudo — pra alcançar essa estrela.
Sem frustração, começou a agir. Puxou os braços para trás, em um movimento calculado, quase como uma coreografia. Seus ombros estalaram, mas ela ignorou. Usando um truque antigo da ginástica, girou os pulsos e empurrou os braços à frente.
Alguns olharam horrorizados. Ela nem ligou. Usou os dentes para soltar o nó.
“Phew…”
Enfim livre, se levantou trêmula. Devia ter feito isso antes…
O vento agora parecia fresco, não cortante. Passar na frente de Wooshin foi indescritivelmente bom.
“Você…”
Ele tentou falar, mas ela já avançava, determinada.
Correu até os chuveiros — mas os homens já estavam lá, sob a água quente, enchendo o ambiente de vapor. Parou à porta, hesitante.
“Vai ficar aí e congelar até morrer?”
“…!”
De repente, algo pesado caiu sobre sua cabeça — um cobertor.
“Han Seo-Ryeong vem comigo.”
“O quê?”
“Ou vai ficar aí, com cara de pedra, enquanto os outros terminam o banho?”
Ela mordeu o lábio, tremendo.
“Tá hesitando ou quer espiar eles?”
“Eu… não é isso…”
Wooshin apenas virou as costas e a conduziu. Saíram do alojamento e entraram no prédio ao lado. Ali, o ambiente era diferente — mais limpo, mais aconchegante.
Ele abriu uma porta e a levou até o banheiro privativo.
“Pode usar esse chuveiro daqui pra frente.”
“O que é esse lugar?”
“Meus aposentos.”
Ela hesitou, desconfiada.
“Por quê?” perguntou ele.
“Prefiro não discutir com quem faz perguntas dessas…”
“Então, como posso ajudar?”
“Quero trabalhar pra você.”
Nesse instante, a água quente jorrou de repente. Ela se encolheu.
Wooshin ajustou a temperatura. Mesmo assim, o calor queimava — o frio ainda estava cravado em sua pele.
De repente, ele pegou a mão dela.
“…!”
Ela tentou se soltar, mas ele insistiu.
“Relaxa, você está congelada.”
“Isso não te diz respeito, e não sou a única aqui assim.”
“Se continuar desse jeito, nem a noite toda no chuveiro vai resolver.”
“Você pretende me fazer dormir aqui também?”
Ela suspirou e o deixou massagear seus dedos. Lentamente, o calor voltou. A tensão se desfez.
Por um breve instante, ela fechou os olhos — e se lembrou do marido. De quando iam ao mercado e todos diziam: “Seu marido parece tão confiável!”
Mas Lee Wooshin era o oposto — provocador, arrogante, impossível.
E ainda assim… há algo familiar nele…
“Abra os olhos.”
“…!”
A voz fria o fez estremecer.
“Não feche os olhos diante de um instrutor.”
Ela respirou fundo, voltando a si.
“D-desculpa…”
A água escorria por seu rosto e pescoço. O calor parecia reviver seu corpo e confundir sua cabeça.
Ela balançou os cabelos molhados e disse, firme:
“Instrutor, quero me limpar direito agora. Vai continuar aí?”
Ele respondeu com algo inesperado:
“Quanto você escondeu do seu marido, exatamente?”
“Por que está falando disso agora?”
Wooshin desligou o chuveiro.
“O quê—!”
Ela tossiu, surpresa. Tentou empurrar a mão dele, mas ele nem se mexeu. O ar frio voltou a cortá-la, fazendo-a tremer ainda mais.