Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 41
“Ninguém aqui é um soldado honrado, nem um atleta limpo de doping. Você está na BLAST porque tem preparo físico, e as injeções de esteroides não são nada incomuns por aqui.”
“…”
“Temos até um treinador de drogas. Ele mistura comprimidos de Dianabol com Anadrol 50 e dá uma pitada de adrenalina pra dar um ‘up’. Tem muito idiota que vai pra missão turbinado de propósito.”
Ele franziu levemente a testa, mas o tom de voz era suave — quase um sussurro. O rosto relaxou, como se fosse oferecer algum tipo de consolo, e então apertou com força o ombro dela.
“…Eu sei. Se você estivesse dopada e confiante, pelo menos faria mais sentido pra mim.”
Em seguida, ele segurou o pulso dela. O calor do corpo dele pressionava os ossos finos dela, e então ele chacoalhou o braço — magro a ponto de parecer só osso e pele.
“Fico te observando e me perguntando que diabos você está fazendo—”
Lee Wooshin ergueu um canto da boca, o rosto inexpressivo.
“Sem drogas, não foi esforço demais subir naquelas barras com esse pulso?”
“……!”
“Eu até preferiria acreditar que você tomou uma injeção.”
Ele cravou as unhas na parte interna do braço dela, e a dor que atravessou o tecido foi aguda — como se tivesse enfiado um alfinete pra mantê-la imóvel.
“Prefiro pensar que você estava dopada. Assim meu coração ficaria mais leve.”
“O que quer dizer com isso?”
“Você é diferente.”
O olhar dele ficou fundo e duro.
“Mais perigosa. Mais instável do que quando nos conhecemos.”
Seo-Ryeong sentiu algo arranhar seus nervos.
A primeira vez que o encontrara fora no trabalho, e o máximo que tinham trocado de palavras foi dentro do carro, a caminho da fábrica. Ela era só uma funcionária levando marmitas, vestida como empregada doméstica — bem diferente do que era agora.
Ele murmurou no mesmo tom:
“Quer dizer que você ainda esconde muita coisa que eu não sei.”
“Não entendo por que acha que eu aguentar o treino vai ser um problema.”
“Porque vai ser um problema pra mim no futuro.”
“…”
“Se Han Seo-Ryeong não vacilar durante o treinamento…”
A postura dele tinha uma intensidade particular, mesmo sentado de costas pro sol. Embora às vezes parecesse desinteressado, certos assuntos o envolviam como um vórtice escuro — e ela era puxada junto.
Seria porque era mulher, ou aquilo significava algo mais profundo?
Seo-Ryeong esfregou os olhos, desconfiada.
“Pelo menos eu não estava dopada.”
“Uma pena.”
O olhar afiado dela se estreitou, avaliando se ele falava sério.
“Mas sempre há um jeito, se você confiar em mim.”
Lidar com ele era desconfortável justamente por isso — ele tinha o dom de abrir brechas nas pessoas, e Seo-Ryeong se sentia exposta sempre que estava por perto.
Ela sabia que sua imagem diante dele nunca foi boa.
Na primeira vez, estava com uniforme de cozinheira e faxineira. Na segunda, cheirava a ovo. Ele a demitiu por matar alguém em legítima defesa — e agora parecia determinado a provar que ela era tão podre quanto ele imaginava.
“Sempre tive dificuldade pra controlar meus impulsos”, ela confessou, revelando a própria fraqueza pro inimigo.
Aquilo ia contra tudo o que aprendeu no treinamento. Mas, por algum motivo, ela queria se sabotar — mostrar suas falhas e afastá-lo.
Cada vez que tentava superá-lo, ela trazia à tona esse lado vulnerável como se fosse uma arma. E, de certa forma, era rebelde — uma afronta direta às regras.
“Então, não tenho medo de muita coisa. Doença, ferir os outros… já me acostumei. E, sim, não me surpreendi por ter matado alguém.”
“…!”
“Só achei que isso aconteceria mais tarde.”
Ela abaixou o tom de voz, como se revelasse um segredo.
“Essa sou eu.”
Seo-Ryeong tocou de leve o uniforme de Lee Wooshin. Ele nem desviou o olhar — os olhos colados nela, como se estivessem grudados.
“Não tenho medo de nada. Exceto do meu marido.”
“…”
“Pratico ginástica desde muito nova, então esse treinamento não é nada pra mim.”
Ao ouvir isso, as sobrancelhas de Wooshin se juntaram devagar, pensativas. Parecia que ele estava processando algo novo — o que fazia sentido, já que era a primeira vez que ela falava sobre isso.
“…Desde criança?”
“Sim.”
“Quão nova?”
“Uh…”
Seo-Ryeong, que até então falava naturalmente, parou por um momento. Quando… exatamente?
Ah… Ela usou o primeiro collant de ginástica no ensino fundamental, mas começou a competir mesmo e entrar pro time de ginástica no ensino médio.
Ela franziu o cenho. Então por que tinha dito muito nova?
Sentiu um incômodo breve com a própria fala, mas logo visualizou a lembrança nítida da equipe de ginástica da escola e deixou o incômodo de lado.
“Mas essas injeções… elas realmente deixam mais forte?” perguntou Seoryeong, num tom sutil.
Imediatamente, o rosto de Lee Wooshin mudou. Ele endireitou os joelhos, se levantou e virou as costas, como se tivesse acabado de perceber algo.
“Onde posso conseguir? Digo, em qual andar da empresa…”
“Não se empolgue, Han Seo-Ryeong. É só um comprimido vitamínico.”
“Mas você disse que os outros usam sem problema?”
Wooshin saiu sem responder, parecendo irritado.
“Senhor…!”
Ela o chamou num tom quase suplicante, mas ele só acenou de leve, como se fosse um incômodo, e foi embora.
No fim da rotina da manhã, o dormitório estava tomado pelo cheiro de Mentholatum — um bálsamo de mentol usado pra aliviar dores musculares.
“Se o instrutor te vir assim, vai te mandar embora. É sempre assim”, comentou um dos soldados no refeitório, olhando de canto pra Seo-Ryeong.
Ela estava enfiando o garfo furiosamente no primeiro prato decente que comia em dias. Mastigava com força, e o clima ficou pesado de repente.
Quando levantou os olhos, viu que todos a observavam com pena.
“Por que estão me olhando assim?” perguntou com a voz abafada.
Ninguém respondeu. Apenas abaixaram a cabeça e voltaram a comer.
Seo-Ryeong sempre era a última a comer, mas recentemente as coisas tinham melhorado — um pouco.
Os instrutores davam só cinco minutos pra cada refeição, então o refeitório era um caos. A educação à mesa era tão ruim que às vezes era impossível saber se algo era um novo acompanhamento ou resto de comida.
Isso porque a empresa não valorizava ordem — só cumprimento de tempo.
Fazia muito tempo que Seo-Ryeong não comia uma refeição de verdade. Não havia tempo para conversa. Segurou a colher com força e enfiou o arroz quente na boca sem parar.
Alguns largaram os talheres, sem apetite — mas ela não achou graça.
Os homens, que antes se achavam demais por ela ser mulher, agora se aproximavam com respeito.
Talvez o treino pesado tivesse quebrado as barreiras. Talvez fosse só empatia. Mas o olhar entre eles começou a mostrar algo humano — solidariedade e cansaço.
Nem sabia quando isso tinha começado.
Talvez no dia em que viram o sol nascer sobre o mar, juntos, pela quarta madrugada sem dormir.
Droga… só de lembrar disso, soltou um palavrão mentalmente.
Ela pensava em desistir várias vezes ao dia, mas engolia o impulso junto com o arroz.
Tinha confiança de que conseguiria aguentar — mas, na prática, estava à beira do desmaio. Cada vez que cerrava os dentes, lembrava-se de Kim Hyeon.
Por orgulho, por ego, e pela raiva de Lee Wooshin, aquele sádico que brincava com as pessoas como um lunático, ela não podia se dar ao luxo de desistir.
Agora corria cinco quilômetros todas as manhãs. Um dia, chegou a usar um cinto de quatro quilos porque Wooshin mandou.
O homem jogava moedas e parafusos no fundo da piscina e apitava sem se importar. O grupo tinha que mergulhar descalço, sem óculos, para pegar tudo.
Vômito e tontura já faziam parte da rotina, e os colegas corriam enjoados. Era uma sequência de treinos tão insana que ela sentia que ia enlouquecer.
Depois das corridas, os pés inchavam tanto que era difícil tirar as botas. Precisava desamarrá-las completamente para conseguir.
Não havia um só ponto ileso — calcanhares, joelhos, virilha, tudo doía. A maioria rastejava pra se mover.
Iam até a enfermaria, e o médico apenas molhava um chumaço de algodão num antisséptico vermelho e aplicava direto no corpo.
“Ugh…”
Ela mordeu o lábio pra conter a dor, enquanto, nos beliches ao lado, alguns colegas mais exaustos choravam baixinho.
“Subam pro telhado e sequem no sol!” ordenou o paramédico.
Nada de curativos. Era pra cicatrizar queimando, à moda BLAST.