Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 44
“Eles vão te pressionar — e, como não podemos intervir, o peso da hierarquia vai cair sobre você. É bem possível que levem a Coruja junto nas viagens à Rússia.”
São Petersburgo, Rússia… Wooshin passou a mão pela bochecha rígida, pensativo.
“Você sabe o que o CEO Kang Taegon anda fazendo na Rússia?”
“Não. Só há registros de aeroporto. Nenhum detalhe das viagens foi documentado.”
“…Por enquanto, bom trabalho.”
Mesmo decidido a não se preocupar mais, a mente dele voltou a se enredar em mil pensamentos. Sua voz, já grave, afundou ainda mais, como se mergulhasse num poço d’água parada. Prestes a encerrar a comunicação, ouviu do outro lado:
“Ah… senhor, com licença! Mas a Coruja está bem? Ela não se machucou no treinamento, certo?”
A preocupação evidente na voz o fez esfregar o rosto várias vezes. Machucada? Segura? Wooshin inspirou fundo antes de responder, com calma.
“Ela está ilesa — e esse é o problema.”
“Não imaginei que a Coruja fosse se recusar a desistir tão teimosamente.”
A voz do outro lado soou sombria.
“A razão dela entrar pro time especial é o Kim Hyeon, não é? A taxa é alta, e o time não aceita contrato abaixo de trezentos mil dólares. Então ela quer resolver sozinha? O que será que pensa que vai conseguir entrando pra agência?”
“…”
“E me diga, senhor… a Coruja realmente não te reconhece? Mesmo estando ali, tão perto?”
Wooshin apertou os olhos com força, tentando conter a irritação crescente.
Idiota.
Ele cerrou as pálpebras, respirando devagar para não explodir. Do outro lado, WonChang continuava falando, completamente alheio ao esforço do superior em manter a calma.
“É que seu rosto tá muito diferente do Kim Hyeon, né? Acho que é por isso que ela não te reconhece! Bem, o senhor mesmo disse que, pra não ser descoberto, os cinco sentidos tinham que mudar completamente! E o senhor ganhou massa muscular dessa vez, não foi? Só um comentário…”
“…”
“Mas, convenhamos — a Coruja sempre se apaixonava perdidamente por tipos como o Kim Hyeon, né?”
Dessa vez, Wooshin nem respondeu. Apenas arrancou o fone do ouvido e o jogou sobre a mesa.
“Não há vergonha nenhuma nisso.”
A voz de Seo-Ryeong saiu quase num sussurro.
Treinamento em terra ou na água — ambos eram infernais. Mas uma coisa era certa: em terra, quando o corpo não aguenta, no máximo você vomita. Na água, porém…
“Merda, mas eu literalmente caguei.”
O homem falou, envergonhado, sem coragem de encará-la.
“Ninguém viu,” respondeu Seo-Ryeong, num tom sereno, quase maternal.
“Você viu…”
“Eu via isso todo dia no asilo onde trabalhava.”
“…”
“Todo mundo faz, uns até passam na parede. Não é nada demais.”
“Por favor, para.”
O exercício consistia em descer sete metros, dar um nó e subir de volta usando apenas uma válvula de ar.
Muitos desmaiavam no meio do caminho, e, naquele dia, um dos colegas voltou à superfície com “um pequeno acidente” nas calças — o que paralisou o grupo por alguns minutos.
Seo-Ryeong foi a primeira a notar e também a primeira a socorrer o homem, levando-o direto pro chuveiro, ainda em pânico.
“Foi só por causa da mudança repentina de pressão,” explicou, como se nada fosse.
Seria uma pena se ele desistisse por vergonha. Afinal, ele era o penúltimo colocado nos rankings — e Seo-Ryeong, a última. Ela precisava dele ali, abaixo dela, para não acabar no fundo da lista.
Então, não podia deixá-lo ir embora.
“Se for preciso, eu amenizo a situação pra ele…” murmurou.
“Todo tipo de excreção é valioso.”
“Pelo amor de Deus, para…”
“É sério! É importante pra saúde. Você devia se orgulhar do seu sistema digestivo. Claro, teria sido melhor se tivesse ido pro lugar certo… cocô pertence ao vaso, né…”
“Cala a boca!”
“Enfim — por que alguém que caga com tanta força ia fugir assim?”
O homem, cobrindo o rosto com as mãos trêmulas, ficou sem palavras.
“Você precisa definir seu objetivo.”
“Droga…”
“Vai desistir?”
“Não vou!”
Seo-Ryeong finalmente relaxou e se calou. Assim que ouviu o que queria, seu semblante voltou ao habitual — frio, indiferente, como se toda a compaixão de antes tivesse sido apenas um truque.
Ao som do apito do instrutor, ela se pôs de pé automaticamente. Em segundos, o grupo, que estava disperso, se reuniu na piscina.
Na quarta semana de treinamento, Seo-Ryeong vinha passando por todo tipo de prova subaquática — prender a respiração, mergulhar cinquenta metros, recuperar objetos a quinze de profundidade.
Lee Wooshin continuava a tratá-la com brutalidade. Especialmente nas provas de apneia — ele pressionava a parte de trás da cabeça dela para dentro da água, como se a estivesse torturando.
Só a soltava quando ela estava prestes a desmaiar. Quando emergia, tonta e sem fôlego, a primeira coisa que via era o sorriso frio dele.
Uma raiva assassina subia em seu peito — e, por instinto, o punho voava.
Mas, tropeçando, acabava caindo junto com o tubo de oxigênio, em uma cena patética.
“Eu nunca pensei que fosse me humilhar tanto…” murmurou, corando só de lembrar.
“Quinhentos yuans hoje. Quem não me der cem de volta, leva punição.”
Wooshin estava com um lenço no pescoço e um adesivo térmico colado nas bochechas.
Ignorando o frio, soprou o apito com firmeza, ordenando que todos caíssem na água.
Eles mergulharam sem hesitar — já estavam acostumados. A meta era descer sete metros e recuperar as moedas do fundo.
Seo-Ryeong fez o mesmo. Rompeu a pressão da água com os braços e foi afundando, cada vez mais fundo.
Mesmo sem o melhor preparo físico, ela tinha um bom controle de respiração — o suficiente pra não ficar para trás.
Quando voltou à superfície com a moeda, percebeu que Wooshin também estava na piscina. Os recrutas, com o rosto meio fora d’água, observavam o movimento da boca do instrutor.
“Hoje, vamos aprender a fazer flutuadores improvisados.”
Ele mexeu na cintura, debaixo d’água.
O que ele tá fazendo? — pensou Seo-Ryeong, confusa.
Então, ouviu o clique da fivela se abrindo.
Seo-Ryeong piscou, perplexa, e antes que pudesse reagir, Wooshin ergueu a calça encharcada e disse:
“Os homens, sigam o instrutor. Tirem as calças.”
“……!”
Ele demonstrou como inflar a calça para transformá-la em um flutuador de emergência. Os outros, hesitantes, começaram a imitar o gesto, tirando as calças debaixo d’água.
Mas os olhares — disfarçados e constrangidos — foram todos em direção a Seo-Ryeong.
“…..”
Ela congelou. Por algum motivo, só o fato de hesitar já a fazia sentir-se derrotada.
“Agente Han Seo-Ryeong.”
O olhar de Wooshin a encontrou, firme e frio.
“Pretende se agarrar aos outros pra sobreviver, depois de dizer que queria trabalhar na minha equipe?”
Seu olhar cortante atravessou o dela, única entre todos que ainda não havia feito o próprio flutuador.
“Por que deveríamos aceitar alguém que nem consegue se salvar sozinha?”
“….!”
“Mas, levando em conta o seu constrangimento, vamos pular essa parte.”
Ele virou o rosto como se não fosse nada — sem ironia, sem sorriso, mas num tom calmo que soava como um teste. Ainda assim, isso a deixou mais nervosa do que qualquer humilhação.
Não é possível que eu seja expulsa por causa disso…!
“Não…!”
Mesmo hesitante, Seo-Ryeong tirou as calças. A água gelada atingiu suas pernas, arrancando-lhe um arrepio.
Conseguiu inflar o tecido e criar o flutuador, como os outros.
Quando se segurou na boia improvisada, o corpo finalmente relaxou. Depois de algumas repetições, o treino da manhã chegou ao fim.
“Dispensados.”
Wooshin foi o primeiro a sair da piscina, sacudindo a água do corpo como se ela não tivesse peso algum.
Os olhares o acompanharam abertamente — o uniforme colado ao peito e ao abdômen revelava os músculos bem definidos, e a cueca justa moldava o contorno das coxas e quadris.
À primeira vista, parecia uma roupa de natação, mas o detalhe do tecido úmido deixava tudo quase indecente.
Seo-Ryeong desviou o olhar, corando.
Os outros também saíram da água, tremendo de frio. Seo-Ryeong ainda estava perto da borda, segurando o flutuador, quando ouviu a voz firme atrás de si.
“Corram direto pros alojamentos, sem olhar pra trás.”
O apito soou.
“Você” — ele apontou para Seo-Ryeong — “não sobe ainda.”