Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 56
“Já pensou que talvez você também seja um desses perdedores?”
Diante das palavras calmas de Seo-Ryeong, os olhos de Sung Ulkchan, que já estavam fulminando, se arregalaram ainda mais.
O corpo magro dela tremia incontrolavelmente, e a respiração estava ofegante, mas seu rosto não mostrava nenhum sinal de distorção.
“Uma semana é mais longa do que parece.”
“O quê?”
“Com certeza vai ter gente que vai desistir por conta própria dessa vez também. Então, se eu fosse você, Sung Ulkchan—”
“…!”
Ao ouvir seu nome ser dito com tanta precisão, Sung Ulkchan franziu as sobrancelhas.
“Usaria esse seu gênio ruim pra tentar ser um pouco útil,” disse Seo-Ryeong, mesmo com os dentes batendo.
“Do que você tá falando agora…”
“Use essa sua natureza falsa e mesquinha pra alguma coisa boa, só por uma vez.” O olhar firme de Seo-Ryeong, focado apenas no objetivo, se cravou em Ulkchan. “Não sei como a gente vai conseguir trabalhar junto, mas talvez eu saiba como dar um jeito nos outros.”
Eles perderam a noção de quanto tempo já estavam dentro da água gelada. Gritaram ordens até a garganta ficar em carne viva e remar até os ombros quase saírem do lugar.
Quando finalmente contornaram o mar, o sol já estava nascendo. Receberam as refeições nas pás e comeram com as mãos. No primeiro dia, todos comeram chorando.
Durante o dia, ainda carregavam o bote montanha acima, e à noite, voltavam pro mar, sem descanso.
Seo-Ryeong rangia os dentes contra a dor que parecia rasgar seus tendões enquanto segurava o bote de borracha. Cada passo era um fardo sob o peso esmagador.
Quando parecia que ela desabaria a qualquer instante, Lee Wooshin subiu no bote e começou a tocar um acordeão, virando todo mundo do avesso.
Mandava segurar os remos, marchar, fazer exercícios da UDT — sessenta movimentos de manhã e mais sessenta à tarde — empurrando-os sem um minuto de pausa.
Sem direito a ir ao banheiro, tinham que se aliviar nas próprias calças. Seo-Ryeong comia o mínimo possível para não precisar evacuar.
Durante o jantar, quando serviram canja de frango quente, ela estava com tanto frio que não conseguiu comer — em vez disso, espalhou o caldo quente pelo corpo pra se aquecer.
A palidez do rosto agora tinha voltado a ganhar um tom sombrio. Eles corriam com o sol nos olhos.
Por três dias, Seo-Ryeong repetiu a rotina sem dormir. A mente, que normalmente era tomada por pensamentos sobre Kim Hyeon, agora estava estranhamente vazia.
Na manhã do quarto dia, começaram o trabalho nos manguezais. Lutando contra a lama venenosa que inchava e avermelhava a pele, seus rostos ficaram pretos, exceto pelos dentes brancos reluzindo.
Depois de três dias sem dormir, cobertos de sujeira, os membros começaram a chegar ao limite.
“Se alguém dormir, os instrutores vão afundar o rosto na água.”
Assustada com o aviso, Seo-Ryeong fez uma careta feroz. Lee Wooshin propositalmente tocava música clássica, pronto pra pisotear qualquer um que cochilasse.
Ele é maluco…? Ela mordeu a língua, resistindo à vontade de vomitar.
Durante toda a Semana do Inferno, Lee Wooshin agiu como se não conhecesse Seo-Ryeong, mas seus olhares ocasionais eram indecifráveis. Cada vez que seus olhos se encontravam, parecia que ele a observava não como uma pessoa, mas como uma presa.
Aquele olhar analítico, como se lesse um relatório, a incomodava mesmo em meio à exaustão física.
Apesar de estarem enfrentando o inferno juntos, Seo-Ryeong não conseguia se livrar da sensação de que estava em um patamar completamente diferente — sozinha.
“Dong Jiwoo, Han Seo-Ryeong, de pé.”
Droga… acho que dormi mesmo. Ainda meio fora de si, os pensamentos se atropelavam.
A partir da quinta-feira, as lembranças começaram a sumir.
Andando, eles dormiam; e depois disso, dormiam em qualquer coisa que fizessem. A linha entre sonho e realidade desapareceu, e os membros se moviam só por instinto. Foi a partir daí que começaram a surgir de verdade os que viam coisas que não existiam.
“Ei, ei! Por que aquela baleia tá abrindo a boca?! Corre todo mundo…!” gritou um trainee no silêncio.
Alguns, com os olhos turvos e assustados, puxavam os colegas e entravam em pânico — até mesmo em terra firme, achando que fantasmas os perseguiam.
Observando o caos, Seo-Ryeong riu discretamente. Finalmente, sua chance havia chegado.
“Sung Ulkchan.” Chamando suavemente, o olhar severo dele se suavizou um pouco em resposta.
“Ah, tá de brincadeira…”
Enquanto os membros se moviam de forma trôpega por causa da falta de sono, o olhar de Seo-Ryeong se tornava mais afiado.
“Eu te disse, é a única coisa que sei fazer.”
Atacar o inimigo no ponto mais fraco era uma tática básica. Seo-Ryeong vinha esperando pacientemente aquele momento desde o primeiro dia da Semana do Inferno. Ela sabia que acabariam sendo colocados uns contra os outros da forma mais brutal possível.
“Eu não sei como sobreviver com eles, então só tô tentando bagunçar tudo.”
Ela explorava as fraquezas emocionais dos colegas, deixava-os sensíveis, semeava confusão e ampliava a ansiedade. Era tudo parte da sua estratégia — seu jeito de sobreviver à Semana do Inferno.
Naquele dia, Seo-Ryeong sabotou a canja de frango preparada para o almoço da equipe, jogando lama dentro da panela. O caldo grosso se misturou à lama, transformando o que seria um raro conforto em algo impossível de comer. Foi um ato deliberado para deixar todos famintos, quebrar o moral da equipe.
Os colegas recuaram, horrorizados com a crueldade dela, mas Seo-Ryeong apenas deu de ombros. Outras equipes fariam coisas piores — eles só precisavam começar.
Os instrutores sabiam dessas atitudes, mas faziam vista grossa. Ali, não havia leis militares, nem qualquer pregação sobre honestidade e ordem. Pelo contrário: observavam atentamente a equipe dela, avaliando sua disposição em usar qualquer meio necessário — como fariam em território inimigo real.
O clima de tensão atingiu o auge no meio da Semana do Inferno.
Seo-Ryeong revisou mentalmente as informações pessoais dos membros que havia decorado antes. Então, começou a mirar individualmente no líder de cada equipe e no membro mais vulnerável à manipulação.
Quando alguém da sua equipe mostrava fraqueza, ela não hesitava em dar um tapa no rosto. E quando era outra equipe, Sung Ulkchan fazia barulhos animalescos pra assustá-los.
Sung Ulkchan provocava quem tinha infecção nas pernas e ainda pisava de propósito nos tornozelos durante o treino na maré.
Quando os colegas estavam no fundo do poço, Seo-Ryeong espalhou boatos sobre a BLAST — dizendo que o pagamento era menor do que diziam, que não havia seguro, e que se alguém se machucasse, seria dispensado sem receber um centavo.
Aquela tática, somada à influência sutil e constante de Jiwoo sobre os membros exaustos, começou a dar resultado.
No fim, a equipe de Seo-Ryeong foi a única que não teve deserções.
Agora sim… está equilibrado, pensou ela, coçando o pescoço suado e sujo sem nem perceber, antes de sussurrar para Jiwoo:
“Então é assim que o jogo funciona…”
Finalmente, no domingo à tarde, duas horas antes do fim da Semana do Inferno.
O cheiro de sujeira pairava no ar enquanto o grupo se amontoava. Parecia uma estação de esgoto — corpos cobertos de lama e resíduos, e gente que já tinha se aliviado nas calças.
Era, literalmente, uma semana saída do inferno. O corpo de Seo-Ryeong estava moído, dolorido por causa do treino e por não poder se lavar. Da cabeça aos pés, até as unhas tinham perdido a cor.
Ainda assim, o fim do inferno estava finalmente à vista. No último dia tão esperado, Seo-Ryeong puxou Dong Jiwoo e sussurrou:
“Acho que vou desmaiar.”
“O quê?”
Nada tinha sido fácil até o final.
Seo-Ryeong sentiu uma tontura súbita, como se fosse cair a qualquer momento. Imediatamente abaixou a cabeça entre as pernas e respirou fundo.
Já tinha mandado pacientes fazerem isso no asilo. Era um método tosco, mas aumentar o fluxo de oxigênio no cérebro ajudava um pouco.
Pra se manter consciente, Seo-Ryeong começou a desenhar formas na terra com o dedo, respirando fundo pra tentar se concentrar. Mas seu corpo, já levado ao extremo, não respondeu a nenhum esforço. O som sumiu dos ouvidos, e sua visão começou a escurecer.
Não… como eu consegui aguentar até agora?
Sussurrando entre a consciência e o desmaio, forçou as palavras a saírem:
“Se eu parecer meio apagada, só finge que não viu.” Disse para Jiwoo, ao lado.
“Ei!”
“Age normalmente. Daí eu consigo levantar sozinha.”
Jiwoo a olhou como se ela tivesse enlouquecido, mas Seo-Ryeong, que já tinha avisado que desmaiaria, manteve a calma.
“Tá tudo bem, desde que os instrutores não percebam. Principalmente, nunca olhe nos olhos do instrutor Lee Wooshin. Com os outros tudo bem, mas com ele, nunca.”
“Ei…”
Como se o fusível tivesse queimado, o som sumiu completamente. Seo-Ryeong murmurou baixinho, nervosa, e mexia a terra com o dedo indicador.
“Eu consigo levantar… eu vou levantar…”
“Ei, Han Seo-Ryeong!”
“Não deixa ninguém perceber… Se descobrirem, a gente é expulso.”
Jiwoo só conseguiu emitir um chiado fraco pela garganta, sem nem ter força pra gritar. À primeira vista, parecia que Seo-Ryeong só estava descansando — mas por ter feito aquele pedido estranho instantes antes, ele entendeu imediatamente que ela realmente tinha desmaiado.
Jiwoo manteve a expressão neutra e começou a brincar distraidamente com a areia. Apesar dos ombros rígidos, o corpo torto e os cotovelos doloridos depois de uma semana no inferno, nada parecia fora do normal.
Mas, de repente, a garganta dele secou, e o coração começou a disparar sem controle. O suor frio escorreu pelo pescoço sujo.
O instrutor Lee Wooshin estava caminhando direto em sua direção.
mery
Mds, q azar💔. Tá bastante diferente do manhwa