Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 63
“Droga… você!”
Sung Ulkchan, que até então avançava contra ela feito um lunático, finalmente hesitou.
Mas ele ainda não conseguia acreditar no que via — uma faca cravada em sua perna. Olhou, atônito, alternando o olhar entre a coxa ensanguentada e Seo-Ryeong.
“O que foi que você fez comigo?”
“Esqueceu? Quando um colega comete assédio, quais são os procedimentos que devo seguir?”
“Ah, sua desgraçada! Pirou de vez?!”
“Quem perdeu o juízo foi você. Mas não se preocupe, evitei atingir os nervos principais.”
“O quê?”
“Mas isso ainda não é suficiente.”
Quando tentou puxar a lâmina de volta, Sung Ulkchan mudou de expressão num instante, implorando com o rosto contorcido:
“Não tira, não tira!”
Seo-Ryeong assentiu com uma expressão generosa — e então puxou a faca. Com a mesma calma, enfiou-a no outro joelho dele.
“――!”
A boca de Sung Ulkchan se abriu, mas nenhum som saiu. Ele apenas agarrou o joelho e tremeu, com as veias saltando no pescoço, enquanto o sangue jorrava das fibras musculares rasgadas.
“As pessoas sentem medo em situações imprevisíveis e irracionais. Você aprendeu isso comigo durante o treinamento de recuperação, lembra? Então, pra inverter a situação, precisei me esforçar um pouquinho.”
“….”
“Você quebrou as regras. Eu, não. Agora, vou usar você como peça de cena e ganhar esse jogo.”
Seo-Ryeong pegou uma pedra que prendia uma lona impermeável.
Achou que seria mais fácil arrastá-lo se ele desmaiasse. Mas, quando hesitou, Sung Ulkchan — com o rosto distorcido de raiva — tentou avançar novamente, gritando:
“Sua desgraçada!”
Como mal conseguia mexer as pernas, só pôde balançar os braços, tentando agarrá-la. Instintivamente, Seo-Ryeong acertou-lhe a testa com a pedra.
“Maldita…” — ele ainda xingou, até que seus olhos viraram e o corpo desabou.
Ao segurar o corpo inerte, Seo-Ryeong tocou o nariz sem motivo algum. Sentia-se estranhamente leve. Passou o sangue do ferimento dele no próprio rosto, como se fosse tinta de guerra, e pisou em sua virilha antes de se erguer.
Era uma manhã revigorante.
Swish— Swish—
A cada passo, uma linha vermelha se desenhava sobre a neve.
Ela arrastava Sung Ulkchan amarrado como se fosse um trenó, seguindo adiante com determinação. O peso de um homem adulto era grande, mas não impossível de suportar.
“Hmm, hmm, hmm…”
Seo-Ryeong cantarolava baixo, ajustando o nó da corda enquanto atravessava a neve funda.
Nos bolsos, levava bem guardados alguns laços de arame e uma caixinha de fósforos modificada por ela mesma.
O kit de sobrevivência que os instrutores haviam fornecido fora completamente transformado — agora era um kit de combate.
Quem nunca brincou assim na infância? Fazer lançadores com lápis e elásticos, catapultas com prendedores de roupa, estilingues com cabides… Seo-Ryeong aprontava todas no orfanato, sempre guerreando com os garotos mais velhos.
Quando chegou a um ponto adequado, alongou os ombros e olhou ao redor. O silêncio era absoluto — nenhum sinal de gente por perto.
Amarrou o homem inconsciente ao tronco de uma árvore e tampou sua boca com um feixe de galhos envoltos em pano. Ao redor, a neve já estava manchada de sangue.
E então bang!
Ergueu o braço e disparou um sinalizador. O som ecoou alto, idêntico a um tiro, assustando os pássaros nas redondezas.
A luz avermelhada subiu ao céu, mas a nevasca tornava difícil saber quem a veria.
“Ei! Esse cara foi esfaqueado!”
“Sung Ulkchan! Acorda, cara! Quem fez isso com você?!”
Ao ouvirem o disparo — algo que nunca deveria acontecer durante o treino —, três ou quatro membros da equipe correram até o local.
Ficaram momentaneamente em choque ao ver o companheiro ensanguentado, mas logo começaram os primeiros socorros.
“Meu Deus, quem foi o desgraçado que fez isso?!”
Aplicaram pressão para conter o sangramento e removeram a mordaça de sua boca.
Um dos integrantes, observando os arredores com atenção, comentou em tom tenso:
“Ei… não parece que tem mais alguém aqui além da gente?”
“O quê?”
“Se não, quem teria disparado o sinalizador se esse cara tá todo amarrado?”
“….”
Um silêncio gélido, mais frio que o vento, se espalhou entre o grupo.
Sempre esperta, Seo-Ryeong — escondida atrás de uma árvore caída — brincava com a caixinha de fósforos nas mãos.
O resultado de uma batalha não se define pelas baixas, e sim pelo medo que ela causa. Espalhar o pânico era uma tática eficaz.
A neve caía densa, limitando ainda mais a visibilidade.
“Cara, não fala essas coisas, tá me dando arrepio!”
“Qual é, perdeu a coragem agora?!”
“É esse o seu espírito de soldado, mesmo com uma arma na mão?!”
“Tô falando sério! Tem alguma coisa nessa floresta além da gente — seja um maluco ou… sei lá!”
Jingle— jingle—
Nesse instante, tanto os que prestavam socorro quanto Seo-Ryeong congelaram.
Entre a neblina branca, uma silhueta grande começou a surgir.
Um arrepio percorreu a espinha de Seo-Ryeong. Ela prendeu a respiração.
Thud, thud. Os passos lentos e pesados carregavam uma irritação quase palpável.
Ela soube, instintivamente, que o homem que esperava havia finalmente chegado. Mas, quando ele surgiu, sua boca ficou seca. Um nervosismo inédito fez suas mãos tremerem.
“Quem… ousa chamar o instrutor a essa hora da manhã?”
Lee Wooshin não fez questão de esconder o mau humor por ter o sono interrompido.
Vestia um casaco camuflado que se misturava perfeitamente à paisagem rochosa, coberto por uma manta de galhos e palha — o que o fazia parecer ainda maior, quase como um yeti.
Yeti: também conhecido como o “Abominável Homem das Neves”, criatura lendária das montanhas do Himalaia.
Com o gorro branco cobrindo a cabeça e o pescoço e a pele pálida, ele parecia mais uma estátua viva do que um ser humano.
Ao avistar Sung Ulkchan, retirou os óculos escuros. O olhar afiado percorreu o corpo inconsciente do subordinado e o sangue na neve fez seu cenho se franzir. Todo o vestígio de sono desapareceu.
“Quem é o imbecil que ousa desrespeitar um instrutor desse jeito?!”
“Instrutor!”
Enquanto os membros da equipe gritavam, Seo-Ryeong se levantou, bagunçando de propósito o cabelo antes preso.
O rosto, já manchado com o sangue de Ulkchan, completava o disfarce. Ela ofegava enquanto emergia da neve.
“Ugh…”
Cambaleou, como se fosse desabar.
“Por favor… me ajuda…”
“Mas que diabos é aquilo?”
“Ali— ali na frente!”
“Espera… é você, Han Seo-Ryeong?”
O vento frio soprou, e o silêncio se instalou. O grupo ficou pasmo diante daquela visão.
Dizem que a vitória depende de quanto você consegue baixar a guarda do inimigo, não é, instrutor?, pensou ela.
Apontou com um pulso trêmulo na direção por onde viera, as lágrimas escorrendo pelo rosto coberto de sangue.
“Tem um homem ferido… o assassino fugiu.”
Desabou na neve, e os soldados correram para ampará-la antes de partirem na direção indicada, seguindo o rastro de sangue.
Seo-Ryeong então ergueu os olhos marejados para Lee Wooshin, que permanecia imóvel.
A neve caía dos galhos sobre seus ombros cobertos de camuflagem.
“Você.”
Lee Wooshin puxou o capuz, revelando o cabelo preto despenteado pelo vento.
“Aquele sangue…” — murmurou, franzindo o cenho enquanto se aproximava.
No meio do branco absoluto da paisagem, ele se destacava com uma presença escura e densa — impossível desviar o olhar.
Mesmo que outros tivessem o mesmo tom de cabelo, havia algo diferente nele.
Parado ali, contrastando com o fundo de neve, parecia uma pintura viva — e aquilo fez o coração de Seo-Ryeong acelerar.
Um homem que parecia o dono de um castelo de inverno.
“Foi difícil chegar até aqui…” — ela murmurou, enfiando a mão no bolso.
Rápida, decidida, sem hesitar.
Apagou a expressão frágil e saltou em sua direção.
“Deu trabalho arrastar aquele desgraçado até aqui!” — gritou, atirando a caixinha de fósforos modificada contra o ombro dele.
Era perfeita para causar uma explosão repentina e ensurdecedora.
“――!”
Ela havia colado a lixa da caixa nos palitos com fita médica.
Ao atingir uma superfície dura, as cabeças dos fósforos acendiam, liberando gás e provocando uma pequena explosão.
Parecia um brinquedo, mas o barulho era ensurdecedor.
Bang!
Como esperado, os galhos presos ao corpo de Lee Wooshin pegaram fogo imediatamente.