Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 64
Seo-Ryeong rapidamente enrolou um laço de arame nos pulsos dele.
Mas o homem logo recobrou os sentidos, afastou as mãos dela e segurou seu pulso com força — quase num tom de repreensão.
“Tá tentando queimar o rosto do seu instrutor, é isso?”
Ele não demonstrava o menor medo do fogo que subia dos galhos em direção à sua orelha — apenas exibia um sorriso sinistro.
O olhar dele alternava entre a expressão calma dela e o corpo ensanguentado de Sung Ulkchan, até que pressionou a língua contra a bochecha, como se finalmente tivesse entendido o que estava acontecendo.
“Por que anda por aí com o sangue dos outros? Que nojo.”
Quando ele estendeu a mão em direção ao rosto dela, Seo-Ryeong sacou a adaga.
Lee Wooshin desviou facilmente, e ela mirou de novo nos pontos vitais.
Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso de leve, mas logo um sorriso satisfeito se espalhou em seus lábios.
“Até uma aluna precisa ser obediente. Nossa Han Seo-Ryeong é mesmo uma filha dedicada.”
“Ugh!”
“Valeu a pena ensinar você.”
Seo-Ryeong rangeu os dentes, tentando disfarçar o nervosismo.
Com o cobertor ainda pegando fogo sobre ele, abaixou-se para evitar a fumaça e atacou de novo o pulso dele, acertando-lhe a virilha com o cotovelo — mas Wooshin a empurrou com um chute no ombro.
Ela se levantou rápido e socou o abdômen dele.
Ele defendeu com o antebraço, e os dois repetiram a troca várias vezes.
Seo-Ryeong usava tudo o que aprendera, mas ele desviava de cada golpe com uma facilidade cada vez maior.
Frustrada, ela girou a perna para um chute lateral.
“Ainda assim, devíamos apagar o fogo juntos.”
“…!”
Em vez disso, ele segurou o tornozelo dela — e sua cabeça bateu na neve gelada.
O choque gélido a trouxe de volta à realidade, e ela imediatamente balançou o laço de arame que segurava.
Ele desviou rápido, mas ainda assim o fio cortou de leve os lábios dele. Wooshin passou a língua pela ferida, lambendo o inchaço.
“E pensar que você dizia que meu rosto era precioso… e agora vive tentando estragar ele?”
“Você mesmo dizia que meu rosto era bom demais pra desperdiçar. Então por que tá sujando o seu agora?”
“Ugh…!”
De repente, a coxa dele prendeu o quadril dela, imobilizando-a.
Seo-Ryeong tentou se virar de lado, cravando as unhas na neve pra escapar, mas ele nem se moveu.
As chamas continuavam a consumir o cobertor enrolado em seu ombro — e, em vez de se apagar com a neve, o fogo só ganhava força a cada rajada de vento.
O cobertor agora queimava com ainda mais intensidade.
“Argh! Que tal começar tirando isso logo?!” gritou Seo-Ryeong, assustada com as faíscas.
“Eu achei que a Han Seo-Ryeong tava tão preocupada com o instrutor que resolveu botar fogo nele de propósito.”
“…!”
“Pra quê apagar? Tá frio, o fogo é bom.”
“Seu cabelo! Cuidado com o cabelo!” Seo-Ryeong berrou, em pânico.
Ela pegou punhados de neve e começou a jogar contra as chamas — errando várias vezes e acertando direto a cabeça dele.
Mas as faíscas começaram a cair sobre as próprias roupas de inverno dela.
Wooshin clicou a língua, enfim tirou o cobertor em chamas e o enterrou na neve.
Seo-Ryeong observou o fogo se apagar e soltou os ombros tensos.
“E então? Onde você aprendeu esses maus hábitos?”
De repente, ele apertou ainda mais a perna dela com a coxa.
“Ugh…!”
Parecia ser devorada por um animal selvagem — o aperto era tão forte que o sangue quase não circulava.
“Esse instrutor nunca te ensinou a brincar com fogo usando caixa de fósforos.”
“…”
“Onde foi que você aprendeu esse truque sujo?”
A dor era insuportável. Seo-Ryeong mordeu o lábio, sentindo-se ridícula, presa entre as pernas dele. Resistir só ia destruir seus joelhos.
“Não vai responder, Han Seo-Ryeong?”
“Ugh…!”
“Quem foi o desgraçado imundo que te ensinou isso?”
“Sozinha, droga. Eu fiz sozinha.”
Ela sussurrou, ofegante, mas Wooshin não acreditou.
Ele apertou ainda mais, tirando-lhe o ar.
“Se teve cérebro pra forjar um pedido de resgate falso, devia ter mirado direito. Quer se orgulhar de quê, se só provocou seu instrutor pela metade?”
“Me acorda de manhã, queima meu ombro, risca meus lábios e agora vai fugir com o rabo entre as pernas? Quem é o capturado agora?”
O olhar dele se fixou no rosto ensanguentado dela.
“Ser teimosa é bom, mas você precisa ler a situação pra ser estratégica. Quer morrer à toa?”
“…”
“Se eu fosse um inimigo de verdade, teria te agarrado primeiro. Aí quem tava pegando fogo seria você.”
A voz dele era fria, avaliando-a.
“Entendeu?”
“Sim…” Seo-Ryeong respondeu, engolindo a humilhação.
“Se não consegue terminar o que começou, vai acabar sofrendo as consequências — assim.”
Os olhares se encontraram de perto. Por alguma razão, ele parecia mais contido do que antes — e então, de repente, uma dor fria e aguda atingiu o rosto dela.
“Ugh…! O que você tá fazendo…?”
“E não esfregue sangue dos outros na sua cara.” Wooshin começou a limpar o rosto dela com um punhado de neve.
Era difícil saber se ele a limpava ou se estava lixando sua pele — o gelo arranhava como lâminas.
“Se veio do corpo de outra pessoa, por que você passa no rosto?”
“Para com isso!”
“Eu entendo o que quer dizer, mas é um hábito estranho. Então para.”
Ela tentou virar o rosto, mas as mãos dele não cederam.
Quando Seo-Ryeong fechou os punhos novamente, Wooshin franziu o cenho. Ele abaixou o rosto até quase encostar o nariz no dela, observando atentamente algo.
A voz dele saiu baixa, quase um murmúrio.
“Quer dizer isso aqui?”
Lee Wooshin puxou o colarinho dela de repente.
Seo-Ryeong estremeceu quando o vento frio tocou sua pele.
Ele esfregou o pescoço dela com insistência, como se tivesse achado algo estranho ali.
“Agh!” Seo-Ryeong gemeu de dor involuntariamente.
Wooshin inclinou a cabeça, intrigado.
Com a mão tensa, pegou outro punhado de neve e começou a esfregar o pescoço dela — agora, não o rosto.
O corpo dela tremia incontrolavelmente com o frio, e ela tentou resistir, mas quanto mais se movia, mais a pressão aumentava, queimando como fogo.
“Você foi mordida, Seo-Ryeong.”
A voz dele era neutra, mas carregava algo sombrio o suficiente pra gelar o sangue dela.
Ele a encarou fixamente.
“Algum desgraçado te mordeu bonito.”
“…!”
Naquele instante, Seo-Ryeong se lembrou de Sung Ulkchan lhe mordendo o pescoço.
Seus olhos se desviaram involuntariamente para um tronco de árvore próximo.
Wooshin percebeu — e sorriu de canto.
“Ah… então foi ali.”
O tom dele era suave, quase como se consolasse uma criança assustada.
“Pelo que vejo, não foi uma mordida profunda. Mas… ele te mordeu em outro lugar também?”
“O que… o que você tá dizendo?”
Com os braços a cercando, ele a olhou nos olhos.
“Esses desgraçados seguem uma ordem. Onde mais ele te mordeu antes de chegar no pescoço?”
“…!”
“Mostra onde foi.”
Ele soltou o ar, irritado.
“Não puxou sua roupa? Não passou a mão na sua pele? Não lambeu você com aquela língua imunda?”
“…!”
O rosto de Seo-Ryeong ardeu de vergonha.
“Você é linda pra caralho… cheia de marcas e vermelhidão. Vamos contar juntos, que o instrutor vai dar um castigo bem frio.”
Wooshin sorriu de modo quase generoso — e Seo-Ryeong, instintivamente, sentiu vontade de fugir.
“Mas e se o seu marido vir isso?” Wooshin sussurrou, fervendo de raiva. “Aquele marido fujão talvez volte pra te matar de ciúme, não é?”
Seo-Ryeong, em um impulso, enfiou uma bola de neve no olho dele.
Ele usava lentes, o que o deixou vulnerável.
Wooshin virou o rosto depressa, mas ela agarrou o pulso dele e o empurrou, virando o jogo.
Livre enfim, Seo-Ryeong saiu correndo sem olhar pra trás.
Por que diabos tô correndo se era pra eu capturar o instrutor?
Ela se perguntou, mas bastou ver a figura dele vindo atrás — como um tigre faminto — para apagar qualquer pensamento.
Sim… era por causa daquele rosto.
Aquele rosto insano.
Era o bastante pra fazê-la correr até as pernas queimarem.