Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 65
Han Seo-Ryeong havia sido a infeliz mordida — mas, à medida que Lee Wooshin se aproximava, um sentimento de perigo crescia dentro dela, como se fosse ser mordida de novo, e pior.
Os olhos dele, pálidos e translúcidos sob a luz do sol refletida nas lentes, tinham uma frieza cortante — a mesma de uma espinha de tubarão — que fez um arrepio percorrer a espinha de Seo-Ryeong.
Wooshin a perseguia com ferocidade, um largo sorriso estampado no rosto, como alguém tomado por dopamina. O olhar dele, totalmente focado na caça, fez o suor frio escorrer pelo rosto dela.
Por alguma razão, a simples ideia de ser alcançada por ele parecia significar o fim.
Tomada por esse instinto, Seo-Ryeong correu descontrolada pela trilha da montanha, os músculos das pernas prestes a explodir.
“Até onde eu vim…?”
Na ansiedade, até seu senso de direção pareceu congelar por um instante.
“Han Seo-Ryeong, para! Não vá mais longe!”
A voz dele ecoou logo atrás.
Antes que percebesse, Lee Wooshin já a tinha alcançado — as unhas dele arranharam a nuca dela. E, ao mesmo tempo, o chão cedeu sob seus pés.
“――!”
Tudo aconteceu num piscar de olhos.
O solo, que ela jurava ser firme, desabou, revelando um penhasco íngreme.
Antes mesmo de entender que o ponto onde pisara era apenas uma crosta de neve sobre um buraco, seu corpo despencou sem resistência.
O estômago se revirou, o enjoo veio na hora.
Ela mexia os braços e pernas em desespero, mas nada encontrava para se segurar. O pavor era tanto que até esqueceu de respirar, a boca aberta num grito mudo.
Então é assim que eu vou morrer. Sem sentido algum.
Sem nem ver o rosto do meu marido uma última vez.
O peito de Seo-Ryeong queimou de raiva — mas, de repente, uma dor rasgante atingiu seu ombro.
“Ugh!”
“Por que diabos você tá fugindo? Acha que montanha coberta de neve é brincadeira?” O grito de Lee Wooshin saiu rouco, quase irreconhecível — sua voz familiar agora soava brutal. “Merda, tava planejando morrer bem na minha frente, é isso?!”
O primeiro detalhe que ela viu foi o padrão de camuflagem militar.
Wooshin estava pendurado num galho que crescia na lateral do penhasco — com a outra mão, segurava firme o pulso dela.
“Instrutor…”
Os olhares deles se cruzaram — ambos cheios de desespero.
Ela o encarou, sem acreditar que ele a estava impedindo de cair.
O olhar dele, no entanto, já avaliava o vazio abaixo, calculando o que fazer.
Seo-Ryeong estava viva por um fio — e esse fio era a mão de Wooshin.
Ambos estremeciam, cada um por um motivo diferente.
Mas logo a mão que segurava seu antebraço começou a escorregar.
“Ah!” O coração dela despencou junto com o grito.
“Droga.” Wooshin cerrou os dentes, o pescoço vermelho, as veias saltadas como raízes.
A força do aperto dele tremia sob a pele.
Mas o peso de duas pessoas vestindo roupas de inverno era mais do que o esperado.
Com a respiração irregular, ele ordenou entre dentes:
“Cerra os dentes e sobe nas minhas costas.”
“O quê?”
“Faz o que você sabe fazer melhor. Não tem tempo!”
Quando ela hesitou, ele respirou fundo, forçando a voz a ficar firme:
“Você já ficou em segundo lugar alguma vez nas subidas de corda, usando só as mãos?”
“….”
“Então você consegue.”
“Mas eu nunca escalei uma pessoa antes!”
“Eu te seguro. Para de reclamar e sobe!”
A ordem fria o fez parecer inquestionável.
Seo-Ryeong reagiu instintivamente — recompôs o corpo que pendia solto.
Tirou o casaco para aliviar o peso e pôs a adaga e o fio entre os dentes.
“Solta. Solta!”
“O quê?”
“Solta minha mão!” Ela sacudiu o braço preso.
Wooshin piscou, confuso por um segundo, mas logo entendeu.
Engoliu em seco, o pomo-de-adão subindo nervosamente.
Mas a hesitação durou pouco.
Ele cravou as unhas no braço dela — o mesmo que segurava como uma corda de salvação — e, num olhar afiado, foi soltando o aperto.
No momento em que a mão dele afrouxou, Seo-Ryeong chutou as pernas pra cima e deixou o casaco cair.
Quando agarrou o quadril dele, até o corpo sólido de Wooshin balançou como um pêndulo.
O casaco desapareceu na queda, sumindo na neve.
“Ha… ha…”
Os dois respiravam pesadamente, quase no mesmo ritmo.
A partir dali, Seo-Ryeong começou a escalar pelas costas dele como um peixe subindo a corrente.
O corpo tremia no meio da nevasca, mas o frio já não importava.
“Bom trabalho.”
Agora, Wooshin segurava o galho com ambos os braços, conseguindo uma posição mais firme.
“Quando recuperar o fôlego, pisa no meu ombro e sobe.”
“O quê?”
“Não me faz repetir. Sobe.”
“…!”
“Se não consegue escalar essa distância curta, nunca vai saber usar o próprio corpo.”
Ele cortou qualquer protesto com um tom gélido.
O coração dela batia tão forte que parecia doer.
Mas não havia tempo pra discutir — ela precisava subir primeiro pra depois puxá-lo.
Assim que colocou o pé no ombro dele…
Crack―.
Um som seco e sinistro ecoou.
Com o rosto tenso, ela olhou pra cima.
O galho estava prestes a partir — a madeira exposta, branca, denunciava a ruptura.
“Instrutor!” Antes que pudesse dizer mais, outro crack! — e o apoio se quebrou.
Tudo aconteceu rápido demais pra reagir.
Tomada por puro instinto, Seo-Ryeong puxou a adaga da boca e cravou no gelo.
De relance, viu Wooshin fazendo o mesmo.
Os olhares deles se encontraram — e, por um segundo, parecia que conseguiam entender um ao outro sem palavras.
Uma estranha sensação de sintonia percorreu o corpo dela, deixando cada fio de cabelo em pé.
Mas a lâmina não penetrou — só arranhou o gelo com um som áspero.
Eles ainda estavam caindo, mas a velocidade diminuía pouco a pouco.
“Ugh…!”
Os dedos dela doíam, prestes a estourar sob a pressão.
Foi então que a palma larga de Wooshin cobriu sua mão trêmula.
Colado a ela como uma carapaça, a voz grave dele reverberou em seu corpo:
“Não solta.”
Ela reuniu força mais uma vez — mas a lâmina se quebrou com um estalo seco, levando junto toda esperança.
“――!”
O impacto a fez perder o chão — até que uma força puxou seu corpo, virando-a antes que batesse com tudo no solo.
Por um momento, tudo ficou escuro.
O estômago revirou, e o choque se espalhou como uma onda.
“Ugh…”
A visão foi clareando aos poucos.
Piscando, ela viu a nevasca ainda intensa, o vento cortando o rosto.
“Onde… eu tô?”
“Ah!”
Seo-Ryeong se lembrou do instrutor e se ergueu de um pulo.
O corpo todo doía, mas ela respirou fundo e se endireitou.
“Instrutor! Instrutor! Acorda, por favor!”
O cheiro familiar dele pairava ao lado.
As mãos dela tremiam levemente — pouco antes da queda, sentira o corpo ser virado à força.
Wooshin estava debaixo dela, servindo de almofada.
Os dois tinham caído em um pequeno platô no meio do penhasco — estreito, mas suficiente pra uma pessoa sentar.
O formato irregular da rocha tinha, milagrosamente, salvado suas vidas.
“Ugh…!”
Ouvindo um gemido fraco vindo de baixo, ela olhou depressa e puxou Wooshin mais para dentro da saliência.
As pálpebras dele se moveram lentamente.
Seo-Ryeong olhou para baixo — um emaranhado de arbustos espinhosos cobria o fundo do abismo.
Deveriam tentar subir o penhasco ou descer até o chão?
Ela não sabia. Nunca tinha passado por algo assim.
O cheiro forte e mineral da pedra a deixava ainda mais inquieta, e o frio do chão lhe atravessava o corpo.
Os cabelos estavam duros, quase congelando.
De tempos em tempos, pedrinhas e pedaços de gelo rolavam de cima.
O vento era cruel. O mundo inteiro parecia cinza.
Tremendo de frio, Seo-Ryeong tateou o arame que havia segurado com os dentes.
Enquanto murmurava baixinho, os dedos amarravam o laço em torno do pulso de Wooshin.
“Por agora… te peguei.”