Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 67
Como se não bastasse, o estômago de Seo-Ryeong roncou alto.
“Ugh…”
Mesmo naquele momento constrangedor, seu corpo congelado começava a se aquecer lentamente. Ela se viu buscando mais calor, mais próxima da pele de Lee Wooshin.
Sob o queixo dele, onde o pulso batia forte, Seo-Ryeong pressionou inconscientemente a bochecha gelada contra o ponto mais quente.
Em resposta, Lee Wooshin, sem demonstrar surpresa, aproximou ainda mais a cabeça. Uma sensação estranha percorreu seu corpo.
“Instrutor, você tem filha por acaso?”
“O quê?”
“Não, é que você parece muito familiar segurando alguém assim.”
Wooshin fez uma expressão de exasperação e franziu profundamente a testa:
“O que você pensa de mim, agente Han Seo-Ryeong?”
“O quê?”
“Você me vê como um homem com esposa infiel, descontando o trabalho, e agora, um pai divorciado?”
“Ah… bem…”
Diante da resposta hesitante, Wooshin fechou os olhos com força, cerrando a mandíbula.
Ao suspirar, Seo-Ryeong sentiu a tensão sair do corpo dele. Ele falou como se liberasse um cadeado, ainda de olhos fechados.
“Não tenho filha, mas minha esposa–”
Wooshin pausou, como se a língua tivesse travado. Ainda assim, Seo-Ryeong sentiu algo pesado cair no peito dele.
“Minha esposa era mais jovem que eu, e eu não era bom em nada, então a abraçava muito… acho que acabei me acostumando.”
Apesar do conteúdo terno, seus olhos se ergueram de forma abrupta, quase desafiadora.
“Isso é inesperado.”
“O quê?”
“Não pensei que você seria tão devotado à sua família.” Seo-Ryeong comentou seus pensamentos.
Ele soltou uma risada autoirônica, de significado indefinido.
“Então por que sua esposa te traiu, com um marido como você?”
“…” Wooshin abriu os olhos silenciosamente. Por baixo das pálpebras meio fechadas, suas pupilas afiadas encaravam Seo-Ryeong. A expressão, reprimindo a irritação, fez ela se arrepender das palavras.
A curiosidade havia escapado sem querer, mas parecia que pisou em uma mina. Tentando consertar, ela continuou rapidamente:
“Não, é só que você me lembra meu marido.”
“…!” Ele reagiu visivelmente. Pensando que fosse desagrado, Seo-Ryeong apressou-se a continuar:
“Claro, você é totalmente diferente. Meu marido devia parecer uma estrela do rock coreana nativa!”
“…”
“Mesmo assim, às vezes você me lembra ele.”
As sobrancelhas de Lee Wooshin se contraíram, mostrando descontentamento.
“Em um momento, você disse que diferente do Jin Ho-jae, eu não tinha nada de bom.”
“Disse, mas… você segura as pessoas de um jeito confortável.”
O cheiro diferente, o corpo musculoso, e principalmente as mãos ásperas que tocavam mulheres com descuido — tudo era estranho para ela.
Ainda assim, estar em seus braços fazia o medo desaparecer de um jeito semelhante ao que seu marido causava… Seo-Ryeong franziu o cenho e balançou a cabeça levemente.
Era prudente manter mil vezes a guarda contra essa sensação de complacência. Ela deliberadamente mencionou a esposa dele para traçar um limite no próprio coração.
“Você pensa na sua ex-mulher, instrutor?”
“…”
Ele a observou em silêncio. Depois, endurecendo a expressão, descartou a pergunta friamente:
“Por que falar do passado? Só vai me tirar o apetite.”
Os olhos dele, próximos aos dela, eram afiados como uma parede de gelo em ascensão.
Ela sabia, por experiência própria, que Lee Wooshin nunca se apegava a nada; ele ia embora a qualquer momento. A única coisa que segurava era o acordeão que carregou durante a semana infernal, mas mesmo esse seria jogado fora ao fim do treinamento.
Embora pregar peças nos agentes fosse comum para ele, sempre lia seus nomes nas plaquetas do peito, sem se importar em esconder sua indiferença para aqueles que treinava.
“Agente Han Seo-Ryeong, pare de remoer o passado.”
“…”
“Não há nada lá.” Wooshin olhou para o penhasco branco, evitando o olhar dela.
Havia um ar defensivo em seus olhos, enquanto flocos de neve pousavam no seu perfil marcado.
Observando a expressão complexa dele, Seo-Ryeong sentiu uma empatia súbita, uma dor compartilhada que havia tentado suprimir no enfermaria.
Sim, traição por um cônjuge confiável é algo que só se entende vivendo.
Uma vida quebrada da noite para o dia, um desespero de não se recuperar jamais, momentos em que o amor se torna insulto e perfura o coração. É uma violência que destrói por completo uma pessoa.
Seo-Ryeong mordeu o lábio, contendo a amargura crescente. Eles tinham algo em comum.
Seria por isso que as pessoas se reúnem e compartilham suas histórias?
Lee Wooshin, que talvez tivesse passado por falhas semelhantes, parecia inesperadamente humano e próximo. A sensação de camaradagem era mais forte do que ela imaginava.
“Achuuu!”
Após uma série de espirros, Seo-Ryeong se encolheu ainda mais, tremendo. Cada respiração formava vapor na balaclava.
Ela finalmente puxou o suéter para fora, respirando o ar frio direto. Os lábios, já pálidos, agora ficavam azulados. Apesar do calor dentro do casaco, sentia dores estranhas e cansaço extremo.
Quando as pálpebras pesadas começaram a se fechar, smack! Uma picada aguda se espalhou pela bochecha.
“Agente Han Seo-Ryeong, fique acordada e continue falando.”
“Sim?”
“Se sua fala desacelerar ou a mente ficar turva, vou continuar te batendo.”
“Eu tô bem, sério.”
“Não se engane. Sua respiração já está lenta.”
Em algum momento, ele colocou os dedos sob o nariz dela e, agora, beliscava e estalava as bochechas. Sem pausa, Wooshin continuou estimulando a circulação de sangue.
“Não adormeça. Fique comigo.”
“Como você sabe, não comi. Só bebi água.” Ela pensava que precisavam apenas esperar o resgate, mas manter a sanidade com o corpo exausto era mais difícil do que imaginava.
Até ela sentia o coração desacelerar, os músculos endurecendo. O cansaço que a pressionava era muito maior do que quando estava sozinha na montanha.
Não pode estar acontecendo. Preciso entrar para a equipe especial e fazer muita coisa ruim. Preciso vigiar Lee Wooshin até o fim. Preciso fazer meu marido horrível pagar… Nos pensamentos sonolentos, Seo-Ryeong divagava.
Então, sacudindo a cabeça com força, abriu os olhos.
“Instrutor, acho que minha boca tá congelando. Só quero ficar quieta, por favor, não belisque minhas bochechas.”
“Não, continue falando e se mexendo.”
“…”
Apesar das bochechas beliscadas, a consciência dela começava a diminuir.
“Agente Han Seo-Ryeong, consegue me ouvir?”
“…”
“Disse, não fique parada.”
“…”
“Diga algo, mesmo que seja besteira. Não pode desmaiar aqui.”
“…”
“Han Seo-Ryeong! Fale qualquer coisa e mantenha o foco…!”
“Shh. Quieto.” Ela respondeu aos gritos do instrutor, mas a voz saiu arrastada, a pronúncia embaralhada, a visão cada vez mais turva.
Grandes flocos de neve caíam no rosto dela e derretiam. Se ficassem sentados assim por horas, seriam dois bonecos de neve?
“Se não falar direito agora, vou te morder.”
“Huh?”
“Avisei. Fique acordada e mova os lábios para falar.”
“…”
“Não se arrependa depois. Levanta.”
Alguém tocou suas sobrancelhas. Ao abrir os olhos, encontrou o olhar firme dele.
Ele observava atentamente a pele dela, pressionando sob a garganta com olhar frio e analítico.
Ainda bonito… pensou Seo-Ryeong, olhando nos olhos dele, que lembravam flores de gelo, tão próximos.
Nem todos os olhos são tão bonitos. Como eram os de Kim Hyeon?
Tentar lembrar algo que nunca viu era como imaginar um buraco vazio onde a foto do casamento deveria estar.
Ela franziu a testa, tentando focar a visão turva.
Tenho que me manter alerta. Não posso acabar assim. Finalmente, conseguiu abrir os lábios congelados.
“Então, instrutor… temos… bastante tempo e estamos entediados.”
A respiração deles se misturava no ar frio.
“Vamos… falar sobre nossos cônjuges.”
Ao dizer isso, Lee Wooshin exalou forte e plantou seus lábios grossos sobre os dela, trêmulos. O calor da respiração se misturou.
Ele abriu mais a boca, transferindo seu calor. O ar quente entrou, preenchendo o espaço entre os lábios pressionados.
Ela sentiu a umidade da saliva, mas a língua dele não se moveu, apenas roçou a superfície dos lábios dela.
“Mm…” O encontro labial era apenas pela sobrevivência. Nem terno, nem brusco — um beijo contido, permitindo apenas respiração artificial.
Quando o interior escorregadio dos lábios dela foi sugado, até o geralmente frio Lee Wooshin respirou mais fundo.
Sons abafados surgiam de vez em quando, mas ele parecia se controlar meticulosamente.
Ainda assim, a respiração se misturava. Os lábios congelados dela começaram a descongelar.
O que tá acontecendo agora? Recuperando um pouco de clareza, Seo-Ryeong tentou se afastar. Mas ao enrijecer o pescoço, a cabeça foi imediatamente segurada.
“Mm!”
Com uma mão, ele segurou firme sua cabeça pequena, mordendo os lábios dela com força suficiente para impedi-la de se mover.
Franzindo o cenho, Lee Wooshin abriu os olhos e, por algum motivo, a encarou. Ele inclinou a cabeça, encontrando instantaneamente o ângulo perfeito para eles.
Foi só então que o fogo estranho e desconhecido nos olhos dele, que sempre trazia calor, começou a arder silenciosamente.
Os olhos dele transmitiam um desejo sinistro.