Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 76
“…Quem é você?”
A voz de Kim Hyeon estava tensa e firme, reagindo às palavras ásperas do homem.
Seo-Ryeong estava tão atônita que nem conseguia pensar em fechar a boca escancarada. O que está acontecendo? Sua mente congelou em descrença, e suas pálpebras se contraíram, como se negassem a realidade diante dela.
Enquanto isso, Lee Wooshin lidava com Kim Hyeon com calma.
“Esse vigarista nojento… de onde ele tira coragem pra falar desse jeito?
“…”
“Dizendo que sente muito por ter ido embora, que foi sincero sobre o casamento.”
Com um sorriso de escárnio, Lee Wooshin se apoiou na mesa de jantar, o ombro tremendo sob a pressão. O homem, que pouco antes havia torturado alguém com óleo de cozinha vestindo um casaco impecável, enxugava casualmente as mãos engorduradas.
“Amava ela? Claro.”
Um riso seco escapou de seus lábios. A cabeça abaixada, a respiração mais pesada, como se tentasse segurar uma onda de náusea.
Pressionou a tela do celular na mão, como se pudesse sufocar a vida dali.
“Engraçado como essas palavras saem tão fáceis de você.”
“Seo-Ryeong, você está aí? Quem é essa pessoa?
A voz contida do marido trouxe Seo-Ryeong de volta do transe, e ela rapidamente desviou o olhar de Lee Wooshin.
Diante de uma situação que havia destruído completamente seu plano, sua mente lutava para acompanhar. Apesar disso, ela sabia que precisava assumir o controle do caos.
Enquanto se aproximava cautelosamente da mesa, uma mão escorregadia agarrou seu pulso com força de ferro.
“Sim, sua Seo-Ryeong está bem aqui, ao meu lado. E aí, vai fazer o quê a respeito?”
“…!”
Os olhos dele brilhavam com uma determinação fria e firme, ordenando silenciosamente que ela não interferisse.
Mas o que é isso? Ele invadiu, arruinou todo o meu plano e agora está agindo como se estivesse no comando? Como a situação pôde virar assim?
“Agora que você ligou, por que não continua? Fale mais um pouco.”
“…”
“Ainda se lembrando da pele dela? De onde tirou essa frase barata? Inventou sozinho ou alguém escreveu pra você? É quase risível. Gaslighting é o melhor que consegue fazer da sua suposta posição superior?”
“…Pare de interromper. Esta é uma conversa importante.”
“Que conversa?! Você acha que pode falar quando deixou ela daquele jeito?”
O rosnado súbito de Lee Wooshin fez Seo-Ryeong estremecer.
O que antes era uma ligação afetuosa se transformou em uma briga gritada. Sua mente se apagou novamente.
“Pode tentar o quanto quiser, mas nada do que disser mudará o quão bela Han Seo-Ryeong é.”
“…”
“Então fique aí e chupe o dedo.”
“Com licença, mas poderia se afastar? Quem é você pra se meter nos assuntos de um casal casado? Isso é entre nós.”
“…!”
Lee Wooshin, que disparava respostas sem parar, ficou em silêncio de repente. O maxilar se fechou no meio da frase, como um bandido pego de surpresa. O silêncio incomum encheu Seo-Ryeong de um pressentimento de perigo. Instintivamente, ela se preparou, olhando para o recipiente de óleo vazio.
A tensão se espalhou pelo silêncio na outra linha, onde até Kim Hyeon parecia desequilibrado.
Enquanto isso, Lee Wooshin inclinou a cabeça para trás, encarando o teto e respirando fundo. O sobe e desce rápido do peito largo era claramente visível.
“Você a abandonou e fugiu, não foi? Que tipo de casal você acha que é?”
“Por favor, coloque a Seo-Ryeong na linha. Se isso continuar, posso acusá-lo de obstrução da justiça.”
“Duvido que isso seja algo que deva ser dito depois de invadir a casa de uma mulher.”
“Repito: se você não está envolvido, afaste-se.”
“Quem disse que não estou envolvido?”
Naquele momento, o olhar de Lee Wooshin se fixou em Seo-Ryeong. Ele inclinou levemente a cabeça, como se ponderasse suas palavras, e então esboçou um sorriso leve.
Seu típico humor despreocupado e irresponsável escorreu agora, como pipoca que não pode mais voltar para o saco.
“Não percebe que eu preenchi o seu vazio hoje à noite?”
“…!”
Seo-Ryeong, horrorizada, empurrou o braço dele, quase arranhando-o, mas ele apenas riu, completamente despreocupado, firme como um poste cravado no chão.
“Quando as coisas se embaraçam em assuntos de outros, acabam se tornando nossos problemas também, não é, querido marido?”
“…”
Acabou… Este jogo já estava perdido. Seo-Ryeong ficou parada, congelada, chocada demais para respirar.
Sua mente queimava, os olhos secos pela intensidade da situação. Tocou a testa, encarando Lee Wooshin, que destruíra completamente seu plano cuidadosamente arquitetado.
Quando tudo deu errado? Foi quando o Instrutor encontrou o óleo de cozinha? Não, talvez quando Kim Hyeon fez aquelas observações irritantes. Não, na verdade, talvez tenha sido o momento em que ele tocou a campainha.
Seo-Ryeong fechou os olhos com força, reprimindo a frustração, sem saber exatamente de quem estava com raiva. E sofrer esse constrangimento diante de Kim Hyeon, de todas as pessoas…
Ela lançou um olhar frio entre o celular e Lee Wooshin.
Era uma causa perdida. Nesse caso, talvez fosse melhor…
Melhor sacrificar um pouco de carne e reivindicar seus ossos. Seu olhar calculista se fixou em Lee Wooshin, sombrio com intenção.
- Ditado que significa permitir uma derrota temporária em prol de uma vitória maior à frente.
“Dizem que “até o pio do coruja soa bem aos próprios ouvidos”.
“…!”
A expressão de Lee Wooshin endureceu de repente.
“Significa que até o grito irritante de uma coruja soa agradável aos próprios ouvidos. É usado para alertar aqueles que se superestimam, sem perceber suas fraquezas. Você também deveria ter cuidado.”
“….”
“Por favor, coloque a Seo-Ryeong na linha.”
A súbita menção à coruja parecia estranha e fora de lugar, mas parecia servir como aviso a Lee Wooshin por seu comentário imprudente sobre casos.
Seo-Ryeong piscou no meio desse impasse estranho. Por algum motivo, a pressão em seu pulso se intensificou ainda mais.
Ela olhou para Lee Wooshin. As veias na mandíbula dele saltavam como raízes, e os cantos de seus lábios se curvaram em um sorriso frio. Sem pensar, sua boca se abriu instintivamente.
“5632… 2321… 5483-”
Seo-Ryeong recitou rapidamente os 21 dígitos da sua conta de Macau, mordendo o lábio em seguida.
Recuar faz parte da estratégia. Por um momento, ela escondeu sua confusão, engolindo a raiva quente que queimava dentro de si.
Ela sabia. Desde o começo, sentiu que algo estava errado com Kim Hyeon naquele dia. Percebera desde que ele a culpou pelo que aconteceu.
Mesmo na noite antes de desaparecer, Kim Hyeon agiu de forma estranha, mais agressivo que o habitual durante o sexo. Não era normal.
Então, como poderia realmente julgar quem Kim Hyeon era de verdade?
A partir de agora, teria que montá-lo como se juntasse migalhas de pão.
Por isso permaneceu em silêncio, incapaz de responder, apenas ouvindo. A doce ilusão de que Kim Hyeon seria sempre gentil em qualquer situação começava a se quebrar.
Ele também era apenas um agente que agia inteligentemente conforme suas circunstâncias. Essa foi a dolorosa lição do dia.
O que eu amava em Kim Hyeon todo esse tempo?
De repente, um vazio e medo surgiram dentro dela. Talvez o preço de amar uma ilusão e uma mentira fosse essa caminhada interminável pela neblina.
“Até nos encontrarmos de novo.”
Não morra. Os lábios de Seo-Ryeong se moveram algumas vezes antes de desligar abruptamente, como fugindo da ligação.
Ela se sentiu completamente exausta. Fechou os olhos, saboreando por um momento a memória vívida da voz do marido.
Mas o que importava era a partir de agora.
Dispensou os agentes, que não pareciam ter sobrado um fio de normalidade. Assim que a cena caótica se dissipou, a sala mergulhou em silêncio.
Seo-Ryeong, aproveitando o momento, deu um tapa no rosto de Lee Wooshin.
“—――!”
Uma sobrancelha dele se mexeu, mas a cabeça nem se virou.
“Você tem ideia do que acabou de fazer, Instrutor? Não vou me desculpar.”
O rosto de Seo-Ryeong se contorceu como se algo precioso tivesse sido roubado.
“Ele era meu marido! E você, Instrutor, que direito tinha de interferir ali?!”
Só então Lee Wooshin lambeu o canto dos lábios, como se finalmente sentisse a dor do tapa.
“Ainda está falando do seu marido depois de ouvir o que ele disse?” Riu friamente. “Quando me conheceu na BLAST, o que disse? Não me pediu ajuda quando bateu naquele desgraçado? Tudo bem, considere isso um benefício do emprego. E não diga mais uma palavra. Alguém aqui está me tirando do sério.”
Ele lançou um olhar afiado para Seo-Ryeong. Agora ela percebeu: ele nem tirou os sapatos ao entrar em sua casa. Deixando pegadas no chão, Lee Wooshin começou a caminhar em direção à porta.
Depois de me humilhar assim, você vai embora como se nada tivesse acontecido? Observando suas costas enquanto ele se afastava, Seo-Ryeong ficou ansiosa. Nem pensar.
Quando correu atrás dele, Lee Wooshin, no meio de abrir a porta, girou de repente, xingando baixo. A garganta dele tremeu ao falar.
“Você tem um bom senso pra essas coisas, Seo-Ryeong. Me diga: você realmente acha que aquele idiota é seu marido?”
“…!”
“Você passou por tudo isso só pra encontrar um cara como ele?”
“Não sei.”
“O quê?”
“Eu disse que não sei.”
Seu rosto estava sem expressão. Lee Wooshin estreitou os olhos, estudando-a.
“Não faço ideia de quem meu marido realmente é, ou que tipo de pessoa ele é. É por isso que estou assim.” Era a mesma história que contara a contragosto a Channa e Jung Pilgyu para conseguir ajuda, mas agora a sufocava. “Meu marido é um agente negro do Serviço Nacional de Inteligência. A ligação deixou isso claro.”
Sentiu-se estranhamente ferida, por revelar um segredo tão íntimo a Lee Wooshin, mas ele também era um homem de casamento fracassado. A vergonha passou rapidamente.
Felizmente, Lee Wooshin ficou calado, apenas com um leve espasmo no rosto.
“Fui enganada a me casar com ele desde o começo, e ele desapareceu num instante. Fiquei cega por anos por causa do pessoal dele. Não sei o porquê, mas de qualquer forma, preciso encontrá-lo; seja para interrogar ou seja lá o que for.
Lee Wooshin permaneceu parado, imponente diante dela.
“Dizem que ninguém jamais conseguiria encontrá-lo. Disseram para eu desistir, que era impossível pra alguém como eu, uma pessoa comum sem habilidades especiais. Agentes negros não deixam rastros… Nem um fio de cabelo, nem uma pista sequer.”
“…”
“Mas hoje, pela primeira vez, fiz contato com meu marido!”
Seo-Ryeong soltou um suspiro rouco, sobrecarregada pela tensão crescente.
“Ainda não entende? Eu poderia ter dito mais, poderia ter descoberto mais, mas você arruinou uma oportunidade perfeita, Instrutor!”
“Então…” Nesse momento, Lee Wooshin tirou o casaco que vestia e perguntou friamente: “Você ficou aí ouvindo aquele absurdo sobre como não pode ser amada sem mim? Está dizendo que você não pode receber amor a não ser dele, e se eu não tivesse vindo, teria ficado aí ouvindo aquelas bobagens?”
“…!”
“Seo-Ryeong, então você teria chupado pau o dia todo se seu marido mandasse?”