Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 87
“De qualquer forma, é um alívio que nada tenha acontecido.”
Nesse momento, Jin Ho-jae se aproximou, balançando o copo térmico, e rapidamente ocupou o assento ao lado dela.
Ele tomou um grande gole do shake de proteína, deixando uma marca branca nos lábios — como bigodes de gato. A cena a fez sorrir, mas, por algum motivo, uma das bochechas começou a arder.
Quando ela estava prestes a virar a cabeça na direção do olhar que sentia, Yoo Dawit gemeu e desabou sobre a mesa. Pelo volume dos músculos sob a regata, mesmo com o frio do dia, dava para saber que ele tinha malhado pesado desde cedo.
Seo-Ryeong olhou para o piercing em forma de cruz na orelha do veterano e, de repente, falou:
“Aliás, você disse que estudou em seminário, não foi?”
“Sim,” confirmou ele, e então, ergueu o tronco lentamente.
“Ontem vi um padre, e a roupa dele era meio estranha.”
“Estranha como?”
“Era preta, com um padrão vertical que ia do peito até os joelhos.”
“…!”
A testa de Yoo Dawit se franziu. Num robe de padre?, murmurou para si mesmo.
“Tinha uma cruz e algo que parecia o bico de uma águia, misturados com umas letras.”
“Seria isso aqui?”
Ele pegou o celular, deu alguns toques na tela e mostrou uma imagem. Eram vários padres usando chapéus quadrados e estruturados. No centro, um bordado dourado — talvez uma águia, talvez apenas um símbolo.
Quando ela assentiu, Yoo Dawit prendeu o cabelo longo num rabo de cavalo frouxo com um elástico e disse:
“Essa é a Igreja Ortodoxa Russa. Mas a filial de Sakhalin é considerada herética.”
“Herética?”
“Provavelmente por causa do tom radical.”
“…”
“Eles apoiam guerras abertamente. A União Soviética perseguiu religiões por décadas, mas essa filial sobreviveu quieta e cresceu. Hoje em dia, dizem que está tão enfraquecida que virou só uma sombra do passado.”
Na verdade, o padre que ela tinha visto nem era tão importante assim. Mesmo assim, o rosto dele — com os olhos frios e o jeito estranho de falar — continuava voltando à mente. E toda vez que lembrava, uma sensação de desconforto a tomava.
“Mas você viu um padre de Sakhalin?”
“Sim. Ele causou uma forte impressão.”
“Pela roupa?”
“Não. Pelo próprio padre. Foi completamente impróprio. E então…” Seo-Ryeong coçou a têmpora, hesitando em continuar, mas acabou falando num tom calmo:
“Ele simplesmente lambeu a minha bochecha.”
Ao ouvir isso, houve um estrondo vindo da janela. Mas Seo-Ryeong nem teve tempo de ver o que foi, porque todos pararam o que faziam e correram até lá.
Ki Taemin, que estava com uma máscara de massagem nos olhos, saltou da cadeira, e Jin Ho-jae engasgou com o que bebia.
“Espera aí — você tá falando do tarado do evento? Aquele do banheiro feminino?”
“Sim.”
“E por que você não o prendeu?!”
Ki Taemin explodiu, a voz bem diferente da calma que mostrava no fone, mas Seo-Ryeong apenas deu de ombros.
“Ele saiu rápido. Não aconteceu mais nada,” respondeu, levando a xícara aos lábios.
Então Yoo Dawit, que estava pensativo, falou de repente:
“Deixa eu acrescentar uma coisa. Em Daniel 2:44 está escrito: ‘Ele esmagará todos os reinos e os destruirá, mas ele mesmo subsistirá para sempre.’ A filial de Sakhalin é obcecada por esse versículo. Cada grupo religioso o interpreta de um jeito. E se eu puder compartilhar mais da minha reflexão…”
“Ah não, lá vem ele de novo!” Jin Ho-jae gemeu, abanando a mão. “Falar desse jeito me dá dor de cabeça!”
“Desabafa tudo lá no grupo, cara!” resmungou Jin Ho-jae, fazendo careta.
Enquanto os dois discutiam, Seo-Ryeong olhou ao redor discretamente, tentando se afastar do assunto.
E foi então que seus olhos se cruzaram com os de Lee Wooshin, que encarava a janela. Apesar da barulheira dos colegas, ele emanava uma calma fria e distante, completamente alheio à confusão.
Mesmo vendo só suas costas, ela teve a sensação de captar o humor dele. Será que ele… está irritado? Seo-Ryeong franziu levemente as sobrancelhas.
“Mano, lê logo um manual de fabricação de bomba, vai ser mais divertido!” disse Jin Ho-jae, rindo, enquanto se recostava na cadeira e entrelaçava as mãos atrás da cabeça.
“Aff… eu só lembro daquele primeiro-ministro russo. Sol… Sol alguma coisa. De uma família famosa, casou com uma coreana bem mais nova, né? Uns dez anos de diferença, ouvi dizer.”
“Doze,” corrigiu Ki Taemin, ajustando a máscara nos olhos.
De repente, Lee Wooshin, que ainda estava parado, estalou o pescoço para os dois lados.
Ele inspirou fundo e se moveu, desconfortável. A cada movimento, as omoplatas se destacavam sob o uniforme justo.
Seo-Ryeong ficou observando aqueles gestos sutis por um tempo, até voltar o olhar para o grupo de agentes.
Jin Ho-jae arrastou a cadeira e se inclinou para perto dela.
“Espera aí! Agente Han Seo-Ryeong , você não conhece essa história?” perguntou animado.
“Olha, romance é minha especialidade!” disse Jin Ho-jae, todo empolgado, arremessando o copo vazio em direção a Yoo Dawit. Ele se inclinou mais, apoiando as mãos no encosto da cadeira dela, de modo que seus rostos ficaram à mesma altura — bloqueando completamente a visão que ela tinha de Wooshin.
“Então, esse cara… chamavam ele de o cérebro da Sibéria, na era soviética. Mas…” Ele coçou o queixo, pensativo. “Quando jovem, esse primeiro-ministro levou pra casa uma garota asiática menor de idade. A família dele surtou, claro. Foi um escândalo enorme. Mas o sujeito era teimoso… não ligou pra nada, nem ameaça, nem aviso. Casaram, tiveram um filho e viveram bem. Mas o problema foi…”
“Todo mundo, pra fora.”
A voz fria interrompeu tudo.
Os agentes se viraram ao mesmo tempo para encarar o líder da equipe.
Lee Wooshin os olhava com os olhos cortantes e ordenou:
“Todos, menos a Agente Han Seo-Ryeong, saiam.”
Sua voz era curta e firme.
“Fechem as persianas e trancem a porta.”
Quando o último agente saiu, o silêncio tomou conta da sala, sufocante.
Lee Wooshin apoiou uma pasta sobre a mesa, levantou e abaixou o arquivo repetidas vezes, sem desviar o olhar dela.
Deixar alguém de pé, sob o peso do silêncio, era um tipo de tortura. Seo-Ryeong engoliu em seco, e só então ele falou, num tom baixo:
“Você disse que o padre lambeu sua bochecha.”
“Hã?”
“Qual lado? Esquerdo ou direito?”
Aproximando-se, Lee Wooshin agarrou seu rosto com força e o puxou para si.
“Agente Han Seo-Ryeong, eu realmente odeio esse tipo de coisa.”
“…”
“Então olhe nos meus olhos e diga claramente: onde e como ele te lambeu?”
“Ah!”
Antes que ela pudesse responder, a palma grossa dele começou a esfregar com força o rosto dela.
“Ugh!” Um gemido escapou de seus lábios. A mão dele era tão áspera que parecia querer arrancar sua pele.
Seo-Ryeong tentou se soltar, mas ele manteve o semblante severo, implacável. Incapaz de suportar, ela gritou:
“Foi do lado esquerdo! Ele ainda puxou meu cabelo, mas o que isso importa?!”
Ele parou.
Mas…
“Ele puxou seu cabelo?”
De repente, o ar pareceu esfriar.
Mesmo com as lentes neutras, os olhos de Lee Wooshin tremiam — algo dentro dele vacilou.
Um frio cortante se espalhou pela sala.
De perto, o olhar dele parecia desfocado.
“Eu também me assustei um pouco. Nunca vi alguém vestido de padre agir assim,” ela disse, quase se justificando.
“O padre…”
Ele começou a falar, mas parou. Virou o rosto de lado, fechou os olhos e soltou um suspiro contido. Os músculos tensos roçaram o braço dela.
Quando os abriu novamente, o rosto estava impassível.
“Você chegou a falar com aquele desgraçado?”
“Eu xinguei ele, mas…”
Ela engoliu as palavras, lembrando-se do chute que dera.
“Tentei contê-lo na hora, mas ele só lambeu minha bochecha e foi embora.”
“…”
“Foi meio nojento, pra ser sincera.”
De repente, uma força apertou o rosto dela. Ele não vai…?
Assustada, Seo-Ryeong tentou empurrá-lo, mas ele parecia nem perceber a força que usava.
Então, sem aviso, ele inclinou a cabeça e mordeu a bochecha dela com força. Sugou até deixar uma marca circular.
“――!”
Ela tentou acertá-lo com o joelho, mas ele desviou facilmente.
Com um estalo úmido, ele a soltou.
A bochecha dela ardia, vermelha, marcada pelos dentes dele. Ela o encarou, atônita, sem conseguir fechar a boca.
“Achou que eu estava brincando?”
“O quê?”
“Eu disse pra você olhar só pra frente. Não pra outro homem.”
“…!”
Os cílios dela tremeram. Talvez Wooshin já estivesse estranho desde o momento em que olhava pela janela. O calor que emanava dele parecia se espalhar, deixando o coração dela em descompasso.
“Por que você continua mexendo com a minha cabeça assim?”
“…”
“Você faz ideia de quanto me tira do eixo? É mordida de um, lambida de outro… e quando eu não tô por perto, te espancam até quase estourar as veias.”
O olhar dele pousou nos hematomas que ainda desbotavam em sua pele.
“Eu não gosto disso.”
“…!”
“Eu odeio ficar parado, assistindo como um estranho.”
O que… o que ele estava dizendo? O rosto de Seo-Ryeong escureceu, confusa, incapaz de processar aquilo. Isso não pode estar acontecendo.
“Eu devia ter tudo pra mim. Mas tô aqui, feito um idiota, sem poder dizer uma palavra.”
O olhar afiado dele endureceu — parecia ter chegado a uma decisão.
Wooshin voltou até a mesa, abriu a gaveta de baixo e tirou uma pistola pequena. Carregou o pente com um clique seco e a entregou a ela. O peso frio da arma a fez estremecer.
“Não posso simplesmente marcar essa bochecha, né?”
Ele se aproximou, e o cheiro do sabonete dele preencheu o ar.
A mão grande segurou sua face, puxando-a até que suas respirações se misturassem.
“Se você odeia, então atira em mim.”
Ele soltou o ar com força — e, em seguida, seus lábios colidiram com os dela, invadindo-a sem hesitação.