Doce Psicose (NOVEL) - Capítulo 99
O Serviço Nacional de Inteligência havia trocado secretamente os colírios de Seo-Ryeong, danificando seus olhos aos poucos, e a “Coruja” começou a enfrentar uma maré de infortúnios.
Eles foram apagando sua esperança aos poucos, preparando o terreno para que Kim Hyeon surgisse em sua vida como um salvador.
A missão prosseguiu sem problemas, e o tempo passou depressa.
Depois do casamento, ela começou primeiro a comer mais, depois a dormir mais. Corrigiu até seu jeito desajeitado de segurar os hashis, imitando o dele, e o hábito de dormir no chão deu lugar a noites em que se enroscava em seus braços, buscando calor.
Embora ele sempre tivesse desprezado perder tempo, passou a ficar com ela na banheira, conversando sobre qualquer coisa.
Alguns dias, enquanto dobrava a roupa lavada, sentia um vazio profundo — uma vontade súbita de sair correndo dali. Mas bastava ouvir a voz dela chamando:
“Hyeon…”, suave como uma brisa de primavera, e ele se levantava para lavar a louça.
Mesmo sem enxergar, ela ria com leveza. Envergonhada, o abraçava pelo pescoço com um carinho quase faminto.
E, todas as noites, ele a beijava com fome, incitando-a a se abrir para ele.
Ele agarrava seus seios com força, pressionando-se contra sua pele. Embora envergonhada, ela abria as pernas, mordendo os lábios para conter os gemidos.
Às vezes, ele não sabia identificar o peso que crescia dentro do peito, então puxava sua língua para um beijo profundo — e só o susto nos olhos dela já o levava à beira do limite.
Era apenas uma missão.
Ele precisava acreditar que era apenas uma missão.
O olhar dela frequentemente se desviava, evitando o dele. Mas quando traçava com os dedos a linha do pescoço dele, o ar brincalhão em seu rosto o deixava inquieto. E então, em momentos inesperados, o brilho afetuoso em seus olhos se tornava insuportável.
Como alguém como ele, um sobrevivente, poderia se envolver com a filha de Rigay Viktor?
Como um agente do Serviço Nacional de Inteligência poderia se apaixonar pela filha daquele desgraçado?
A cada estocada, seus pensamentos se fragmentavam. Como um homem possuído, ele agarrava a cintura dela e mergulhava fundo.
Mesmo quando o desejo se tornava quase doloroso, ele diminuía o ritmo, atento à expressão dela — para não comprometer a missão.
Sentia nojo de si mesmo por fingir gentileza.
Conforme a vida de casados avançava, as rachaduras nas paredes que havia construído cresciam a cada dia — e, a cada dia, ele as tornava mais espessas.
Aquela parede jamais poderia ruir.
Enquanto beijava os lábios da Coruja, só conseguia desejar que aquela missão miserável terminasse logo.
“Retirada.”
A ordem tão esperada chegou numa manhã.
“Rigay Viktor sofreu um incidente de segurança.”
“O que isso quer dizer?”
Wooshin perguntou, saindo do quarto com cuidado para não acordar a esposa adormecida. Pela fresta da porta, viu-a se mover na cama. Mais uma vez, havia chutado o cobertor. Mesmo sério, ele clicou a língua.
“Rigay tentou suicídio.”
“…!”
“As autoridades tentaram salvá-lo, mas parece que algo deu errado em seu cérebro. Dizem que virou um completo idiota. Ah, e o agente que enviamos à Rússia morreu. Rigay agora está internado em um hospital psiquiátrico de segurança máxima.”
“….”
“Bastante inesperado, não? Ele era um neurocientista respeitado. E agora, de todas as coisas, perdeu a mente. A vida é estranha, não acha? Ha-ha… Agora não faz mais sentido continuar. Que ironia.”
Ele ouviu o som de um isqueiro pelo telefone, seguido de uma voz aliviada. Talvez pela sensação de missão cumprida, ou talvez por prazer em saber do destino patético de Rigay. Ou ambos.
“Continuar a missão seria desperdício de verba. Você deve se retirar o quanto antes.”
“E a Coruja…”
A respiração de Wooshin falhou. Ele tocou a garganta, nervoso, antes de finalmente dizer:
“…A Coruja vai simplesmente ficar assim?”
“Se você sumir rápido, os olhos dela vão se recuperar. Do que está falando?”
“….”
“Uma garota que nem sabe o rosto do próprio marido. O que ela pode fazer? Mesmo que chore ou grite, vão achar que enlouqueceu. Do nosso ponto de vista, esse é o desfecho mais limpo e conveniente.”
“….”
“Um canteiro de obras perde dois bilhões de won se o trabalho atrasa um único dia. É por isso que não param nem quando um operário morre. Três milhões cobrem o custo de uma vida. Então por que iriam adiar o cronograma por causa disso? Vamos pelo caminho mais barato. Faça o que faz de melhor: desapareça sem deixar rastros.”
Essa frieza ignorava completamente a situação da Coruja.
“Desgraçada.”, cuspiu Lee Wooshin.
“O que disse?”
“Vou me retirar em dois dias.”
“Ótimo… Você vem agindo fora do personagem há tempos. Deve estar sendo difícil.”
Quando as emoções ameaçaram vir à tona, ele as trancou mentalmente, como quem sela uma tampa de bueiro, impedindo que qualquer coisa escapasse.
“Parece que alguém está de mudança.”, comentou Seo-Ryeong um dia.
“Ah, é? Por quê?”
“Tem estado um pouco barulhento. Ouço uns baques de vez em quando, talvez embalando caixas.”
“Tem estado tão barulhento assim?”
“Só fiquei curiosa. Os vizinhos aqui costumam ser bem simpáticos.”
“Vai ficar quieto em breve.”, murmurou Lee Wooshin, quase para si mesmo.
“O quê?”
“Eu estou indo.”
Mas ele queria perguntar uma última coisa.
Se eu desaparecer sem deixar vestígios… você vai simplesmente continuar vivendo, como quem acorda de um sonho, esquecendo Kim Hyeon?
Aquele foi o último dia em que Seo-Ryeong ouviu a voz do marido.
“Por favor… me salve, Instrutor.”
Ele achou que ela estaria chorando, mas vê-la de verdade o fez sentir náusea. Wooshin congelou, suportando a dor ardente no peito.
Já a vira resistir muitas vezes, mas nunca a tinha visto se despedaçar assim.
Abraçando suas lembranças apodrecidas em vez de descartá-las, as emoções dela pareciam tão profundas que ele sequer conseguia alcançá-las.
Tinha subestimado a sinceridade da esposa. Fechara os olhos para os próprios preconceitos; e agora, o resultado de sua arrogância estava bem diante dele.
Aquele único pedido de socorro quebrou a muralha que ele levara anos para erguer.
“Por favor… me salve. Eu… eu não consigo respirar.”
“…!”
Naquele momento de vergonha absoluta, um nome se cravou em seu coração como um prego. Suas emoções incontroláveis ameaçavam transbordar, então ele mordeu a língua para contê-las.
Se eu disser tudo… se eu te contar a verdade, Seo-Ryeong…
Ele queria arrancar Kim Hyeon de dentro dela — nem que fosse matando-o. Enfurecia-se ao vê-la ainda presa àquele amor inacabado. Desta vez, queria pôr um fim definitivo nisso e devolver a vida de Han Seo-Ryeong ao que era antes.
Mas, ao ver o quanto ela havia desmoronado após perder o marido, reconheceu com dor o tamanho de sua própria imprudência.
Ainda assim, não havia como dizer a verdade.
Seo-Ryeong, eu conheço seu pai biológico. Eu sei o que ele fez. Lembro-me do momento em que tudo foi engolido pelas chamas.
Quando me levantei, afastando os corpos espalhados como azulejos, minha família já tinha virado cinzas. Então espero que você nunca toque — nunca abra — essa porta carbonizada. Espero que nunca olhe para este lado de mim.
Isso não tinha nada a ver com dever ou lealdade ao Serviço Nacional de Inteligência.
Se eu pudesse enterrar o fato de que fui Kim Hyeon…
Se você pudesse abandonar o marido, e eu, os documentos confidenciais…
Se pudéssemos esconder tudo bem fundo na terra — será que poderíamos viver como qualquer casal comum, reclamando de dinheiro e seguindo em frente como homem e mulher?
Os lábios cerrados de Wooshin se tensionaram.
“Por favor… me tire daqui…”
O homem, contendo um espasmo no rosto, estendeu a mão pálida. Quando toda a esperança dela desaparecesse, desta vez seria ele quem apareceria.
Ele a cegaria novamente, decidindo viver como um mentiroso eterno — ao lado dela, carregando a culpa e prosseguindo uma missão sem fim.
O cheiro de carne queimada grudava nele, como se fosse o único odor que lhe cabia.
O cheiro que atingia seu nariz era estranho. Seo-Ryeong segurava um atestado de óbito emitido pelo Serviço Nacional de Inteligência, sem nem saber de quem era o corpo despido da identidade de Kim Hyeon. Ela foi até o crematório.
Felizmente, não havia ninguém ali para chorar. Antes que o corpo entrasse no incinerador, ela jogou a foto do casamento.
Por algum motivo, achou ter ouvido a voz da Chefe Joo ecoar como uma ilusão, zombando — dizendo que aquilo não era o bastante, que ela não desistiria de Kim Hyeon tão facilmente.
Enxugando as lágrimas que se arrependeu de derramar, limpou os olhos.
“Instrutor, lembra do que eu te disse uma vez?” A voz dela, rouca e áspera, saiu baixa. “Eu disse que toda vez que falho, preciso fazer algo ainda mais perigoso.”
“…!”
“Acho que a vice-diretora não foi perigosa o bastante.”
“Han Seo-Ryeong.”
Wooshin a interrompeu bruscamente, tentando conter seus pensamentos distorcidos. Mas ela continuou, o olhar perdido em algum ponto distante.
“Será que preciso causar algo ainda maior que isso? O que tenho que fazer para o Kim Hyeon vir me encontrar?”
“…”
“O que o faria querer me segurar, me repreender, me condenar? Será que eu deveria jogar uma bomba caseira no Serviço Nacional de Inteligência?”
“…!”
“E depois disso… talvez seja esse país que o Kim Hyeon tanto ama?”
De repente, o olhar dele se endureceu.
“Até onde eles querem me empurrar?”
Seo-Ryeong se levantou do chão, onde estivera imóvel até então. O cheiro podre do cadáver e o odor ácido do crematório impregnavam suas narinas.
Ela se ergueu firme, querendo escapar daquele fedor — e da tentação de desabar junto.
Não podia ficar parada como os mortos, deixando-se manipular mais uma vez.
Não podia simplesmente fechar os olhos, calar-se e viver como eles queriam.
Seu ódio pela SNI, alimentado pela dor por Kim Hyeon, finalmente a consumiu.
“Vou começar a agir como uma louca agora.”
“…!”
“Do contrário, sinto que vou sufocar…” As pupilas, dilatadas e instáveis, focaram em Wooshin. Perto dali, o cheiro da fumaça do corpo queimando pairava no ar. “Você disse que seria verdadeiramente errado se eu dormisse com outro homem, não foi?”
O coração dela, distorcido pela traição, finalmente se partiu.
“Meus pensamentos não param de girar… Eu não consigo parar essas ideias sombrias… Minha mente parece pegajosa, cheia de algo sujo que não sai nem lavando. Eu só quero que tudo fique em branco por um momento. Então, por favor…”
Ela inspirou fundo, o ar pesado e amargo do crematório queimando sua garganta, e implorou:
“Vamos fazer juntos. Me faça sentir viva.”