O Túmulo do Cisne (NOVEL) - Capítulo 1
Oh, o demônio orou à lua,
pedindo que ela lhe concedesse um companheiro também.
Todos zombaram do seu desejo,
mas a lua não virou o rosto para o demônio.
Da lua vermelha, desceu um cisne,
e o demônio tomou o cisne como sua companheira.
✦✦✦
Anna, uma jovem criada da família Lohengrin, apressou o passo. A barra de sua saia preta esvoaçava atrás dela, deixando um longo rastro pelo corredor silencioso.
Ela tinha pouco tempo. Todos os criados haviam saído para receber o senhor da propriedade, o Marquês Rothbart Lohengrin. Embora ela também devesse cumprimentá-lo, não podia desperdiçar aquele raro momento em que os salões estavam vazios. Fingindo estar com dor de estômago, ela escapou em segredo.
Seu destino não era outro senão a ala proibida no centro da mansão. Era o quarto da falecida Marquesa, falecida há onze anos.
Enquanto Anna se apressava, fragmentos de informações sobre o Marquês e sua esposa vinham à mente.
Nascido como uma fera, destinado a se destacar dos outros, o Marquês Lohengrin era tão temido que até seu próprio pai estremecia diante dele. Como todos o tratavam com reverência e medo, ele cresceu sem conhecer o amor, como um homem excêntrico e mal-humorado.
Então, certo dia, uma mulher estrangeira apareceu de repente nas terras do Marquês. Seu pai, que administrava a propriedade na época, a encontrou por acaso. Com pena da mulher, que não tinha para onde ir, ele a trouxe para a mansão. Sem saber como lidar com a estranha recém-chegada, confiou-a aos cuidados de Rothbart, que tinha mais ou menos a mesma idade que ela.
O que se seguiu foi surpreendente. A estrangeira não temia Rothbart como todos os outros. Ela lhe respondia com clareza, sem hesitação e, quando ele agia de maneira caprichosa, ela o confrontava com indignação. A princípio, tal ousadia o deixou desconcertado; mas a confusão logo se transformou em curiosidade, e a estranheza em singularidade. Era inevitável que Rothbart, pouco a pouco, se apaixonasse por ela. E com o tempo, ela se tornou a Marquesa ao seu lado.
Contudo, quanto mais se ama algo, mais rápido ele escapa das suas mãos. Após dar à luz, a Marquesa enfraqueceu e, com o tempo, sucumbiu à doença. Já mal-humorado e relutante em manter as pessoas por perto, o Marquês tornou-se ainda mais recluso depois da perda da esposa, trancando tudo que trazia lembranças dela e, inclusive, o quarto da própria Marquesa.
Ele proibiu qualquer pessoa, exceto ele mesmo, de entrar, chegando a designar um mordomo, e não uma empregada, para cuidar da limpeza do quarto..
Nem mesmo a governanta, tampouco seu único filho e herdeiro, Svanhild, filho da Marquesa, tinham permissão para entrar.
Ainda assim, isso não significava que Svanhild jamais o tivesse feito. Rebelde e inquieto, certa vez roubara a chave do mordomo e mandara fazer uma cópia. De tempos em tempos, esgueirava-se sorrateiramente para dentro do quarto e depois se gabava para Anna do que via lá dentro, como quem se gaba de suas façanhas.
E era justamente essa mesma chave que agora estava nas mãos de Anna. Ela a apertava com força, escondida no bolso do avental. O frio do metal cravava-se em sua palma.
Assim como o destino das mulheres que ousaram olhar os aposentos do Barba-Azul, quebrar um tabu sempre trazia consequências terríveis. Ainda assim, como o que Anna procurava se encontrava naquele quarto proibido, ela não tinha outra escolha.
Dizia-se que o aposento permanecia intocado desde o dia da morte da Marquesa. Suas roupas, suas joias, seus pertences…
E seu diário.
Svanhild certa vez reclamara que a escrita era indecifrável. Anna ousava ter esperança. Talvez o diário estivesse escrito na língua natal da Marquesa, o idioma de uma estrangeira. Se assim fosse…
Não tinha certeza se ela conseguiria lê-lo ou se o diário continha o conhecimento que ela buscava.
Mas, enquanto houvesse a menor possibilidade, Anna precisava ver aquele diário com os próprios olhos.
Ela havia esperado por muito tempo por uma oportunidade de roubar a chave de Svanhild. E hoje, a oportunidade finalmente havia chegado. Não sabia quando teria outra chance, então sem hesitar, Anna agiu.
Ela retornaria ao seu mundo original, custe o que custar. Foi por isso que ela arriscou tudo para chegar àquela mansão, o “Túmulo do Cisne“.
✦✦✦
A grande mansão branca, erguida à beira do lago azul, exalava uma atmosfera estranhamente desolada.. Não era pela tinta que havia descascado, nem por causa da paisagem ao redor que foi deixada em ruínas, mas, ainda assim, algo no ar transmitia essa sensação. O apelido da mansão, algo que poderia ser encontrado em um romance de terror, ‘Túmulo do Cisne’, se encaixa perfeitamente a ela.
O apelido veio de um ancestral da família Lohengrin, que adorava caçar cisnes. Os cadáveres dos cisnes costumavam ser encontrados espalhados pelo terreno ao redor da mansão, e assim o nome permaneceu. Talvez, fazendo jus ao seu nome, nos últimos anos, centenas de cisnes tenham morrido em massa, misteriosamente, perto da propriedade.
Os moradores sussurraram que era porque o dono da mansão era um demônio, e rapidamente abafavam o assunto, insistindo que nada de bom poderia surgir ao se intrometer nos negócios de um demônio.
Foi naquela esplêndida e grandiosa mansão, nublada por rumores sinistros, que chegou uma carruagem preta.
A carruagem negra de quatro cavalos, adornada com cortinas sombrias, carregava a aura fúnebre de um cortejo anunciando a morte. Os cavalos, de olhos vendados, bufavam sob o peso da rédea, mais parecendo criaturas demoníacas do que simples animais.
Os portões de ferro, altos e entrelaçados como lanças cravadas no céu, abriram-se lentamente para receber seu mestre. A neblina se arrastava pelo chão, fria e silenciosa, enquanto as rodas da carruagem rangiam ao parar diante da entrada.
Do interior escuro, oculto pelas cortinas pesadas, uma figura ergueu-se com calma — um homem na casa dos trinta e tantos anos, de cabelos negros como o céu noturno, penteados para trás com perfeição, sem um único fio fora do lugar.
A juventude já havia lhe escapado há algum tempo, e, ainda assim, não era velho o suficiente para ter sido endurecido pelos modos do mundo. Da cabeça aos pés, era a personificação de um cavalheiro impecável, postura graciosa e expressão contida.
Mas, por trás do carmesim de seus olhos, vermelhos como sementes esmagadas de romã, brilhava uma loucura que o tempo não fora capaz de apagar.
Este era ninguém menos que o senhor da mansão, o demônio nascido em um dia amaldiçoado: o Marquês Rothbart Lohengrin.
— Mestre!
O velho mordomo, Barrett, deu um passo à frente para cumprimentar Rothbart. Atrás dele, liderados pela governanta, Madame Dova, os criados se alinharam diante da entrada, como se estivessem em um desfile, aguardando seu mestre. Como Rothbart chegara antes do esperado, o ar estava tenso, como se eles temessem que sua saudação não atendesse aos seus padrões.
Mas tal hospitalidade pouco lhe importava, desde que ninguém o desagradasse. Ele então entregou seu chapéu e bengala a Barrett, e foi direto para o prédio principal da mansão.
Talvez fosse a estranha alegria de retornar ao lar, mas seus passos eram firmes e incessantes. Embora jamais de forma apressada, suas pernas longas o levavam com tamanha velocidade que o mordomo envelhecido mal conseguia acompanhá-lo.
Quase correndo para alcançá-lo, Barrett falou às pressas:
— Há alguns meses, enviei um telegrama para a capital… o senhor chegou a vê-lo?
— Telegrama? Não.
Rothbart respondeu sem sequer lançar um olhar ao fiel mordomo, seus passos continuavam pesados. A cada passada, a distância entre os dois aumentava, tornando-se um esforço apenas segui-lo.
O velho sabia bem que interromper seu mestre naquele momento poderia ter consequências desagradáveis, mas o que tinha a dizer era importante demais para ser calado.
— É sobre…
— Diga-me depois que eu vir minha esposa.
Rothbart o cortou com frieza. Desde que a Marquesa faleceu, onze anos atrás, todo retorno seu à mansão seguia o mesmo ritual: ir direto ao quarto da esposa, antes de qualquer outra coisa.
Era forçado a ausentar-se com frequência e, sempre que o fazia, era tomado por uma espécie de abstinência por causa da Marquesa. Visitar o quarto dela primeiro era, para ele, como respirar após quase se afogar, um ritual de sobrevivência.
Se sua necessidade era de fato tão extrema, alguém poderia imaginar que carregar um amuleto, um anel ou um broche, para lembrá-la, tornaria as coisas mais fáceis. Mas ele nunca fez isso, nem uma única vez.
Ejoy48351@gmail.com
Agora eu vou conseguir entender esse manhwa
﹐ ﹒ 𝒌ırα﹒⟢.
Hoje a jiripoca vai piar