Tente Implorar (Novel) - Capítulo 10
O mármore negro estilhaçou-se, e lascas se espalharam.
Assim que fechou os olhos por reflexo e os tornou a abrir, Sally se arrependeu. Não deveria tê-los aberto.
Era porque Winston ainda segurava aquele objeto nas mãos. A princípio, ela pensou que fosse um charuto. Ele o segurava com tamanha naturalidade, com as duas mãos, que lembrava mesmo algo banal como um charuto — a cor, o formato, tudo coincidia.
Mas… poderia um charuto ter a grossura do pulso de Sally?
Ele colocou a empregada no mesmo quarto para fazer a limpeza, e era perturbador saber que ele estava se masturbando escondido. Mas o que era ainda mais arrepiante era o fato de ele continuar com o pênis nas mãos mesmo depois de ser pego.
‘Esse tarado lunático é mesmo…’
Até então, chamar Winston de doidivanas era meio que uma verdade e meio que um insulto. Porém, agora, naquele momento, tornara-se uma verdade irrefutável.
…Um lunático que precisava ser internado num hospício imediatamente.
Sally conteve as lágrimas.
Pela causa de derrubar a monarquia corrupta e criar um mundo mais justo e igualitário, ela já havia cumprido missões sujas e vis das piores espécies. Mas será que olhar para aquele pênis grosso e repugnante do inimigo também era um sacrifício necessário?
Pela primeira vez, sentiu um frio na espinha — uma dúvida que nunca antes havia experimentado.
Se um dia a monarquia cair, eu o decapitarei com uma guilhotina.
— Qual é o problema? É a primeira vez que vê uma coisa dessas?
A voz dele era clara, quase inocente. Foi só então que Sally percebeu que estava encarando aquele “charuto” nojento sem conseguir desviar o olhar. Assustada, ergueu os olhos para o rosto de Winston, que sorria com os cantos dos olhos curvados, suaves.
Que diferença faz um sorriso impecável quando o que está abaixo é tão… indecente?
Aquele desgraçado não parecia nem um pouco constrangido. Pelo contrário, ela é que se sentiu estranha, como se ela fosse a anormal. Entre aqueles olhos pálidos e azuis, fixos nela, Sally percebeu a verdade: ele estava estudando cada reação dela.
Ele não tinha sido pego se masturbando. Ele estava, deliberadamente, se mostrando para ver como ela iria reagir. Sally não fazia ideia do que diabos ele estava fazendo.
Não era de hoje que os monarquistas tentavam identificar espiões. Mesmo assim, nenhum dos truques que ela já vira ou ouvira falar envolviam puxar o pênis para fora e exibi-lo assim.
— Perdão, capitão!
Antes de tudo, sair daquele gabinete era prioridade. Virou as costas para o tapete desarrumado pelo cinzeiro que derrubara e fingiu não entender nada.
— Se eu lhe der dinheiro, você disse que faria qualquer coisa?
Atrás dela, a cadeira rangeu. Winston levantou-se. O som de passos no carpete macio aproximava-se, e seu coração acelerava a cada batida seca dos sapatos duros dele.
“Farei o que o senhor desejar.”
Era para amarrar Winston, que a atacava em pleno frenesi. Mas agora, o laço apertava era ela.
— Não sei o que esse ‘qualquer coisa’ inclui.
Embora ele sussurrasse baixo, como se compartilhasse um segredo entre os dois, Sally ouvia cada palavra com clareza.
Seus lábios estavam tão perto que podiam acariciar seu lóbulo. E não eram só os lábios. Seu peito pressionava seus ombros, e algo mais a empurrava pelas costas — mas Sally preferia não saber o que era.
— Pode me mostrar?
— …Do que está falando?
Ela perguntou, engolindo em seco.
— Você sabe o que fazer.
Antes que pudesse responder, seus dedos longos envolveram seu antebraço. De um puxão, ele a virou, forçando-a a encarar Winston. Seu nariz quase tocava o peito dele. Sally baixou a cabeça, escondendo o rosto, e cerrou os olhos com força.
Maluco. Maluco. Maluco.
‘Ele ainda está com aquilo pra fora?’
— Não sabe mesmo?
Sally sacudiu a cabeça rapidamente e apertou os olhos até franzir a testa.
Os cantos dos lábios de Leon se ergueram em perfeita simetria. Ele segurou seu queixo com leveza e pressionou suas bochechas com o polegar e o dedo médio. A carne macia cedeu, e seus lábios rosados se entreabriram.
Finalmente, Sally abriu os olhos — e encarou-o.
Os olhos são as janelas da verdade. E Leon, obstinado, vasculhava verdades e mentiras naquele turquesa misterioso.
— Posso fazer o que você quiser…
Sally tentou fechar a boca, mas ele apertou ainda mais seus dedos em suas bochechas. Um gemido suave escapou de seus lábios úmidos de saliva, tornando ainda mais difícil desviar os olhos daquele orifício vermelho.
Não seria interessante ser mordido por aqueles dentes afiados e sangrar?
Ele introduziu o dedo indicador em sua boca, pressionando contra sua língua macia. A mulher estremeceu e lutou para se afastar dele.
Corajosa.
A essa altura, qualquer outra já estaria chorando de medo. No entanto, seus olhos secos pareciam querer arrancar seus dedos à dentadas, mastigando-os com fúria.
— Digo… você já colocou algo assim na boca?
Ele ergueu o objeto que segurava na outra mão.
Quando Leon deu um passo à frente, a mulher se assustou e recuou. Se o tocasse, poderia pegar uma doença e morrer.
— Não vai me responder?
Ela agarrou seu pulso e gemeu como um filhote, balançando a cabeça em uma negativa breve. Era estranhamente desagradável arfar com a boca aberta à força toda vez que seu pênis chamava sua atenção.
‘Parece que ela nunca fez isso antes.’
Se já tivesse se vendido por dinheiro, não fecharia os olhos de horror quando ele pedisse para mostrar suas habilidades. Mesmo usando métodos sarcásticos, ele conseguiu o que queria. Leon sorriu, satisfeito, e afrouxou a força nas mãos. Com isso, Sally quase tropeçou quando ele a soltou de repente.
‘O que diabos ele está planejando?’
Winston, por algum capricho repentino, ajustou as roupas com um gesto casual.
Sua mente estava tão confusa que, por um instante, ela se esqueceu de que deveria fugir ao primeiro descuido dele. Encostou a manga nos lábios, limpando a saliva, e lançou um olhar furioso a Winston.
Ela já tinha visto algumas fotos vulgares escondidas sob os colchões de seus companheiros homens. Que nojo sentia ao ver aquelas mulheres nuas nas fotos, com os genitais masculinos na boca. Nem queria saber quantas daquelas imagens haviam sido queimadas com um isqueiro.
Mesmo nunca tendo encontrado algo assim sob a cama de Winston no anexo, ele também era um homem. Era impossível que não conhecesse aquelas coisas repugnantes. Por isso, imaginou que ele iria simplesmente agarrá-la pelos ombros e forçá-la a se ajoelhar. Então, quando ele a pressionasse, ela tentaria chutá-lo entre as pernas.
Um soldado que deixa seus pontos vitais expostos ao inimigo… Que patético.
Mas, assim que ela admitiu nunca ter feito algo tão nojento, ele a soltou — como se tivesse encenado aquilo tudo só para ouvir sua resposta.
No final, ela foi enganada por ele.
Afinal, se essa criada já teve um homem ou vendeu o corpo, isso não era da conta dele.
Winston se virou enquanto ajustava o cinto novamente. Dessa vez, a empregada assustada tentou fugir sem nem mesmo se despedir, mas foi capturada outra vez.
— Aqui.
Sally cerrou os punhos secretamente. Queria socar aquele nariz afiado até deixá-lo inchado e torto. Mas, incapaz de fazê-lo, relaxou as mãos.
Dessa vez, em vez de girá-la, Winston parou diante dela. Em sua mão, estava o lenço que havia enxugado as lágrimas de Sally na câmara de tortura, horas antes.
Ele quer que eu lave…?
Ela estendeu as mãos educadamente, pronta para pegá-lo e ir embora, mas o lenço foi parar perto de seus lábios, não em suas mãos.
— Sally, você está sangrando.
No momento em que quebrou o cinzeiro, sentiu um formigamento na bochecha. Embora seus sentidos estivessem paralisados pelo que vira diante de seus olhos, esquecera completamente do ferimento.
Ele limpou o sangue com um gesto surpreendentemente gentil. Quanto mais doce Winston se mostrava, mais ansiosa Sally ficava.
Sua verdadeira face estava longe de ser gentil.
‘Por favor, volte a ser aquele arrogante de sempre. Como sempre fez, não deveria me tratar como um objeto descartável desta mansão?’
Ele nem percebeu Sally encarando-o. Seu olhar estava fixo na mancha vermelha no lenço de seda.
— Eu lavo…
Ela ergueu o olhar enquanto estendia a mão. No instante em que seus olhares se cruzaram, seu instinto gritou:
Perigo.
Quando Winston agarrou seu queixo, ela recuou. Seus lábios se aproximaram. Antes que se tocassem, ela tentou desviar o rosto, confusa.
Mas Winston a segurou firme. Seus lábios tocaram sua bochecha — exatamente onde estava o ferimento.
Imediatamente, uma dor aguda percorreu sua pele quando algo quente, úmido e macio lambeu o sangue. Seu hálito quente queimava em seu rosto.
Sally congelou, como se atingida por uma ventania gélida.
Ele afastou os lábios, mas ela permaneceu imóvel. O apelido de “vampiro” não era exagero. A respiração de Winston ficou pesada ao saborear seu sangue — diferente do ritmo controlado que mantinha quando se masturbara diante dela.
Seus olhos afiados também estavam perturbados. Ele cerrou as pálpebras, mordeu o lábio inferior e, por um momento, seu pomo-de-adão moveu-se antes que ele soltasse um suspiro e reabrisse os olhos.
Mas aqueles olhos não haviam voltado ao normal.
Perigoso.