Tente Implorar (Novel) - Capítulo 17
Ela olhou ao redor e espiou dentro do quarto, mas não havia ninguém ali.
Depois que Sally entrou e trancou a porta, lançou um olhar de desconfiança ao luxuoso saco de compras, como se ele fosse uma bomba prestes a explodir. Após pensar várias vezes, finalmente o abriu, entrecerrando os olhos.
‘…Que capricho é esse agora?’
A primeira coisa que tirou foi uma pomada em uma caixinha.
…Era para aplicar nas feridas do rosto.
Desde quando Winston se importava tanto com os machucados de uma criada? Só na cozinha da mansão havia várias que cortavam as mãos, e era para lá que ele devia mandar isso. Winston não era um homem de pensamentos convencionais, então não poderia ser um pedido de desculpas. Que tipo de artimanha era essa…?
Depois de guardar a caixinha de pomada na gaveta, ela continuou remexendo a sacola. Dentro, havia doze caixas finas e quadradas.
Um suspiro pesaroso escapou dos lábios de Sally quando abriu uma delas, decorada com padrões coloridos.
Meias de seda.
Eram três vezes mais caras do que aquelas que ela mesma havia colocado no carrinho naquela tarde. Havia três pares de cada cor: preta, branca, marrom e pêssego.
A ordem absurda de Jimmy ecoava em sua mente enquanto encarava as doze caixas-bomba espalhadas sobre sua cama.
— …Por favor, não faça isso.
[ … ]
Um murmúrio escapava de Sally, que limpava o guarda-roupa do anexo onde Winston dormia. A operação de resgate em Govurn tinha se revelado, inesperadamente, uma sorte.
Winston havia partido para Govurn no dia seguinte à missão e, até hoje — três dias depois — ainda não retornara.
‘Que não volte nunca mais.’
Um feixe de luz escarlate do pôr do sol vazava pela fresta da cortina que cobria a janela comprida. Considerando que nem ao cair da tarde o tenente Campbell havia ligado pedindo que preparassem algo para Winston, parecia que ele realmente não voltaria hoje.
Nos últimos meses, Winston dormia mais no anexo do que no prédio principal da mansão.
Como resultado, Sally vivia ocupada cuidando de seus pertences pessoais. Ao pegar o uniforme do oficial no carrinho de roupa suja e pendurá-lo no armário, franziu o cenho ao lembrar dos boatos que ouviu na lavanderia dias atrás.
— Todos os botões estavam com as linhas puídas.
As criadas encarregadas da lavagem riram do fato de que os botões da calça de Winston tiveram de ser reforçados com linha grossa. Estavam se referindo, obviamente, à calça que ele usava no dia em que atacou Sally.
— O que será que o deixou tão animado a ponto de arrebentar os botões?
— Você não ouviu? Ele teve um encontro com a Senhorita naquele dia.
Desgraçado…
Passou a noite com a noiva e tentou atacar uma criada assim que voltou para casa.
— Ele é alto e tem mãos grandes, então… será que é grande também? — uma das criadas sussurrou, e outra fechou o punho e sacudiu o antebraço, insinuando.
— Pelo estado das costuras, já dá pra imaginar. Não acha que devia ser impressionante… ali também?
Naquele momento, sem querer, Sally lembrou-se do enorme “charuto” e franziu o rosto como se tivesse mordido um inseto. Por que diabos estavam curiosas sobre as partes imundas daquele lixo…? Mesmo sem querer saber, era impossível apagar a lembrança.
Seu carrinho já estava quase vazio. Restavam apenas itens pequenos, como meias e lenços.
Ao pegar, sem pensar, um lenço branco de seda — passado e dobrado com perfeição — Sally tornou a franzir o rosto.
‘É aquele maldito lenço?’
Quando o encontrou pela primeira vez, quase jogou no fogão para queimar. Mas, conhecendo a excentricidade de Winston, se ele percebesse que aquilo sumiu de propósito, certamente começaria uma investigação.
Sally guardou o lenço, limpinho, bem no meio da pilha apertada de lenços na gaveta.
‘Será que eu devia simplesmente ser demitida?’
Ela empurrou o carrinho de roupa de volta ao térreo e subiu para o sótão, onde pegaria sua porção de jantar.
Uma boa ideia lhe ocorreu de repente.
O noivado dele com a Senhorita ainda não era oficial. Se houvesse rumores de um caso com uma criada sem importância… A Sra. Winston a expulsaria imediatamente.
Isso significava que Sally não precisaria embarcar em uma nova missão, certo?
Contudo, seu senso de responsabilidade — tão incômodo quanto implacável — a impedia. Infiltrou-se entre os Winstons com muito esforço e sucesso. Se fosse embora sem deixar um substituto, seria como construir uma base sólida e atear fogo nela logo em seguida.
Mesmo Fred… ela não confiava nele. Winston também não confiava. Poderia, a qualquer momento, transferi-lo para outra unidade ou função, por puro capricho.
‘Nunca mais volte. Ou será que ele se apaixonou por outra em Govurn… Ah, por que isso está acontecendo de novo…?’
Após a refeição, Sally suspirou longamente ao ir até o pequeno banheiro anexo ao quarto das criadas.
Abriu o registro do chuveiro e, por mais que esperasse, só jorrava água gelada. Às vezes, o velho boiler do porão do anexo não conseguia enviar água quente até o sótão.
O “prêmio” pelo esforço era um banho de gelo. Não dava para suportar.
Ainda por cima, o banheiro já era tão frio quanto um frigorífico.
Tremendo apenas de roupa de baixo, Sally ficou encarando a água congelante por um instante antes de desligá-la. Vestiu novamente as roupas e, pegando uma muda limpa, desceu as escadas — Winston não voltaria mesmo.
[ … ]
Assim que as dançarinas subiram ao palco, os assobios dos homens cobriram o som da música. As únicas peças que usavam eram saias curtas com franjas e miçangas vistosas, e colares de pérolas falsas empilhados no pescoço.
Leon encarava, entediado, as mulheres dançando com os seios expostos. Por que essa obsessão com carne…? Para ele, não passavam de pedaços num açougue.
Dos cinco oficiais sentados à mesa, Leon era o único que achava tudo aquilo uma perda de tempo.
Incapaz de aguentar o tédio, lançou um olhar discreto ao tenente-coronel Humphrey, ao seu lado.
O superior mascava o charuto quase apagado, com os lábios pintados de vermelho. Em Govurn, parecia um cão de guarda. Mas bastava sair de lá para se tornar um macaco risonho.
E como se não bastasse, arrastou todos os oficiais da inteligência até o cabaré, para uma festa de despedida do comandante que logo deixaria a vida militar.
Uma festa sem o homenageado…
A única coisa que divertia Leon era essa contradição.
Apoiado no queixo com uma mão e girando o copo vazio com a outra, Leon viu o tenente-coronel inclinar a garrafa de uísque em sua direção.
— Não está se divertindo?
— Sou exigente com meus gostos.
Ao ouvir a resposta sincera, o tenente-coronel riu e balançou a cabeça.
— E aquela moça, então?
Ele apontou com a ponta do charuto para a dançarina ao centro do palco. A moça, com um sorriso glamoroso, mandava beijos para a plateia — era a mais popular da zona de entretenimento de Winsford. E, claro, a mais cara também.
— Kitty Hayes. Uma mulher inalcançável para a maioria.
O homem de meia-idade colocou o braço em volta dos ombros de Leon e sussurrou:
— Ei, hoje você deu sorte. O dono deste cabaré me deve um favor.
Mas não foi esse mesmo homem que o alertou para tomar cuidado com as mulheres…? Leon tomou um gole de uísque e esboçou um sorriso torto.
— Obrigado, mas não gosto. Vou recusar.
— Ah, depois que se joga na sujeira uma vez, tudo melhora. É sempre assim, não é, Johnson?
O major Johnson, sentado em frente, deu de ombros.
— É verdade, tenente-coronel. Mas também não seria ruim se casasse sem conhecer esse tipo de ‘diversão’. Se ele cair nisso depois e perder o juízo, será pior.
O major piscou discretamente para Leon.
Era sempre ele quem impedia que o tenente-coronel empurrasse Leon para dentro de um quarto de hotel com alguma mulher. Embora tivesse uma patente superior, Johnson era de classe social mais baixa que a da nobreza fundiária de Camden, como os Winsford.
— Ah, sim… Aquela nobre, a Senhorita. E então? É do seu gosto?
— Não gosto da ideia de casamento.
O tenente-coronel soltou uma gargalhada.
— Imaginei.
Enquanto acariciava as costas de Leon com sua mão pesada, murmurou:
— Mas lembre-se de uma coisa.
— …
— Uma noite quente nem sempre termina mal.
Leon apenas sorriu, amargo.
O tenente-coronel sabia bem que Leon evitava relações com desconhecidas por medo de terminar como o pai — em ruína. Ainda assim, apontava uma a uma as dançarinas no palco, incomodando-o.
Uma mulher se aproximou com uma bandeja luxuosa pendurada no pescoço. Fora chamada por um gesto de Campbell, que estava ao lado.
Leon observou em silêncio enquanto Campbell comprava um maço de cigarros e algumas gomas da bandeja.
Era apenas uma mulher pobre, vendendo cigarros.
…Nada muito diferente daquela criada.
Logo, um sorriso enviesado surgiu no rosto dele.