Tente Implorar (Novel) - Capítulo 18
Uma mulher que não perderia a inocência mesmo vestindo um uniforme lascivo, que deixava à mostra os seios e as coxas… Vendendo um sorriso forçado aos homens, não muito diferente das prostitutas no palco, embora sem qualquer intenção de seduzi-los… Não, ela sequer sabia como seduzir. Uma camponesa recém-chegada do interior, que não exalava perfume, muito menos usava maquiagem.
…Como Sally Bristol.
Até mesmo os olhos, já cansados de tanto prazer à sua frente, lembravam os olhos de Sally quando olhavam para ele. Leon aproximou-se da mulher que se encostava à parede. Ao notar sua presença, ela ergueu os olhos azuis e profundos, arregalados de susto.
— O-o que deseja?
Ele não conseguiu entender o motivo da gagueira. Estaria deprimida? Ou teria lido algo impuro no seu olhar…?
Apanhou uma caixa de doces da bandeja, enfiou-a no bolso do uniforme de oficial e estendeu uma cédula. Quando a mulher tentou devolver-lhe o troco, Leon balançou a cabeça.
— É a sua primeira vez?
— Como?
Os olhos da mulher se arregalaram ainda mais.
— Por que… está perguntando… isso?
Diante do jeito como ela tremia, feito um rato acuado, pareceu-lhe que interpretara mal suas palavras.
— É a sua primeira vez fazendo isto?
O rosto da mulher ruborizou de imediato, como se a vergonha tomasse conta. Ela baixou os olhos e esboçou um sorriso tímido.
— Como soube?
— Está na cara.
Cruzando os braços e olhando para baixo, a mulher lançou-lhe mais um olhar fugidio, voltando a agir como um ratinho assustado.
— Precisa de… algo mais?
Era algo que as criadas costumavam dizer.
Aquilo podia funcionar…
— Tem um amante?
A mulher o encarou, depois desviou o olhar. Fitando-o nos olhos, respondeu num tom baixo, como um sussurro frágil.
— …Tenho.
No mesmo instante, um sorriso se desenhou no rosto de Leon — torto, cruel, desfigurado pela amargura. A fé e o amor não florescem no pântano da pobreza. Desmoronam com a simples brisa de algumas moedas. Por menos da metade do que dera à criada dias antes, a mulher traiu o noivo e o seguiu até o hotel. Leon abriu a porta, e a mulher hesitou, apertando a barra da saia curta.
— V-vamos mesmo… fazer isso?
Ao ver-lhe o rosto corado, Leon apenas sorriu, sarcástico. Mulher tola… Por que tanto entusiasmo? Nada vai acontecer do jeito que você espera.
Um jovem bonito, rico, encantado por uma pobre mulher comum após uma única noite… Parecia acreditar que a vida seguia o roteiro de um romance barato.
— Entre.
Ao dar a ordem, a mulher se encolheu e entrou. Leon a seguiu, e uma aura sombria começou a emanar dele quando fechou a porta com violência.
A mulher, agora diante da cama, pareceu enfim compreender a gravidade da situação, sem saber ao certo o que fazer. Leon, em vez de aproximar-se, encostou-se à parede oposta.
— Tire a roupa. — ordenou, afrouxando o nó da gravata. — Não tenho tempo.
Somente após ele bater no relógio de pulso com os dedos é que a mulher, paralisada, tirou o velho sobretudo. Leon observava, impassível, enquanto ela desfazia os laços e botões do uniforme de cabaré. Seu olhar era o mesmo que lançava às dançarinas nuas no palco.
— Tudo. Mas deixe as meias.
Mesmo quando ela subiu na cama só com as meias de rayon baratas, sem sutiã ou calçolas, o homem não se moveu.
Ela o observava, encolhida, os braços envoltos ao próprio corpo nu, sem saber o que esperar. Enquanto isso, na mente do jovem oficial, de aparência quase cinematográfica, era outra mulher que se despia…
Talvez fosse a ausência do cheiro de sangue.
Leon fitava a mulher sentada na cama, pele exposta como carne à mostra, antes de esticar o braço em direção à pequena mesa.
— Ah!
O grito seco da mulher surgiu quando ele cravou deliberadamente a ponta do saca-rolhas no polegar. Mesmo com o sangue escorrendo pela palma e o punho, Leon nem sequer franziu o cenho. Caminhou até a cama, lambendo o sangue com a língua.
A mulher recuou para o canto, os olhos azuis tremendo.
Segurando-lhe o queixo enquanto ela tentava se afastar, Leon esmagou o polegar sangrando contra os lábios pálidos da moça. Seus lábios se tingiram de vermelho com o sangue dele.
…Isto pode funcionar.
Talvez não fosse o gosto da criada… Apenas o cheiro de sangue e o desprezo nos olhos de uma mulher conseguiam excitá-lo.
Isso… despreze-me assim. Está indo muito bem até agora.
Leon, sorrindo de modo confiante para a mulher que o olhava como se visse um monstro, inclinou-se para beijá-la. O cheiro metálico do sangue se fez mais forte.
O cheiro de sangue.
E uma mulher que o desprezava.
Isso daria certo.
Tinha que dar certo.
— Ah… uh…
Tinha… que dar certo…
Parou de súbito, sem perceber, antes que seus lábios tocassem os dela. Ficou congelado ali, curvado, no exato momento em que a mulher, trêmula, sussurrou-lhe algo. Por fim, Leon afastou-lhe o queixo com um empurrão e se ergueu.
— Saia. Agora.
[ … ]
Ela só pretendia usar o box do capitão Winston. No entanto, quando se deu conta, já estava enchendo a banheira com água quente.
Não satisfeita, ensaboou-se com generosa espuma de sabonete de limão fresco e acendeu uma vela esquecida num canto do armário do banheiro — uma vela que Winston jamais havia tocado. Para uma criada pobre e uma espiã sempre à beira da falência, aquela era uma noite extravagante.
Mas Sally ainda era humana. E havia dias em que a alma ansiava por esse tipo de luxo.
— Uma taça de champanhe cairia bem.
Ela poderia ir à sala e pegar uma bebida escondida, mas… como fazer isso depois de já estar nua e imersa na banheira? Da próxima vez que ‘tomasse emprestado’ o banheiro, teria de lembrar disso.
Em sua “casa” não havia banheira. Na verdade, não era bem uma casa, apenas um quarto alugado nos fundos de uma pensão.
Sua infância fora passada numa casa grande o suficiente para abrigar uma família de quatro. Mas depois que seu pai morreu, olhares foram lançados sobre elas — como se aquela casa fosse espaço demais para apenas três pessoas. Então sua mãe também morreu, e seu irmão partiu. Sally foi forçada a ceder seu lar de infância à comunidade e mudar-se para a pensão. Sentiu-se triste, sim. Mas a casa pertencia à comunidade.
“A liderança deve dar o exemplo.”
As palavras que Jimmy recitava como um encantamento sempre ofereciam algum consolo.
“Pode usar nossa banheira sempre que quiser. Somos como uma família.”
A casa de Jimmy tinha uma banheira com água quente. Era uma oferta generosa… mas ela nunca a aceitara. O sorriso de Jimmy, espirituoso e insinuante, revelava suas intenções.
“Antes da noite de núpcias, nunca é cedo demais.”
Sally afundou até o queixo e soltou um gemido de prazer. Sentia o corpo amolecer após tanto esforço e cansaço.
‘…Só mais um pouco. Depois eu saio.’
De olhos fechados, perdida na penumbra e no calor da água, o sono a dominou. Acabou afundando o rosto na espuma. Assustada, levantou a cabeça, assoprou as bolhas, e pequenas esferas de sabão dançaram diante de seus olhos.
‘Acho melhor lavar o corpo antes que a água esfrie.’
Estendeu a mão para pegar a esponja dourada pendurada na borda da banheira — e então hesitou.
Aquela era a esponja que Winston usava no próprio corpo.
— Uwak!
Sem querer, imaginou a esponja esfregando o… “charuto”.
Soltou um grito e mergulhou a cabeça na espuma.
…Por favor, bolhas, lavem toda essa memória imunda da minha mente.
— Pffu…
Só quando não conseguiu mais prender a respiração, emergiu da água. Respirou fundo, limpando com as mãos a espuma e a água que escorriam do rosto. E então congelou.
Ali, na porta, de braços cruzados e sorriso debochado, estava Leon Winston.
— Ora, ora… Vejam só quem está aqui. A senhorita Sally Bristol… mais esnobe que Lady Aldrich e mais cara que Kitty Hayes, nua… em minha banheira. — ele sorria enquanto desabotoava lentamente o casaco de oficial.
‘Droga. Não pode ser… Quando ele entrou?’
Ela nem se perguntou “como”. Sabia que Winston possuía a chave mestra do anexo. Em outras palavras, não havia portas trancadas para ele.
— Hoje é meu aniversário? Ou o Natal chegou oito meses mais cedo?
Tirou o casaco e deu dois passos em sua direção.
— Perdão, Capitão.
Rapidamente, ela cobriu os seios com um braço e encolheu-se na borda da banheira. Estendeu-se na tentativa de pegar as roupas no toalheiro… Mas Winston lançou o casaco sobre ele, cobrindo suas roupas.
Sally ergueu os olhos, fitando-o de perto. O sorriso lascivo tornava-se mais claro a cada passo.
— Capitão, o que pensa que está fazendo?
Sabia que era uma pergunta tola, mas ainda assim a fez.
Winston, enquanto retirava a gravata e a lançava no cesto de roupa suja, respondeu com indiferença, abrindo os botões da camisa:
— Vou entrar na minha banheira.
— Pode sair por um momento antes disso?
— Este é o meu banheiro. Não deveria ser você a sair?
— Sim, sim, eu vou sair. Capitão, se puder me entregar minhas roupas…
Por alguma razão, Winston obedeceu — enfiou a mão sob o casaco e retirou as roupas dela.
— Obrigad…
A mão de Sally, estendida para pegar as roupas, parou no ar.