Tente Implorar (Novel) - Capítulo 8
De repente, ela se lembrou do irmão mais velho — embora fossem diferentes em aparência e temperamento, compartilhavam o mesmo gosto por doces.
Mas… será que aquela voz era mesmo a dele? Quanto mais tentava se lembrar, mais distante ela se tornava.
Fazia tempo desde a última vez que vira seu irmão, pois ele havia abandonado a família.
No instante em que aquele irmão, que tanto se orgulhava de seu avô ter sido figura central na revolução, se apaixonou, tudo mudou.
— Vou viver pela minha família.
— Família? O Exército Revolucionário é a nossa família.
Mas ele resistiu à proposta de Sally.
— Meus filhos não serão criados como nosso pai nos criou. Minha esposa… como ele… Ha, maldição…
— Está louco? Não houve homem melhor que nosso pai.
O exército era como uma família, e o ideal de tornar o mundo um lugar melhor para todos era a causa que os sustentava. Mas seu irmão, por fim, desistiu de tudo isso — e sucumbiu à realidade feia e disforme.
Sally fora a única que realmente se entristecera quando seus próprios companheiros — antigos irmãos de armas — a acusaram de covardia. Mesmo assim, ela ligava para o irmão uma vez por ano, no aniversário da morte da mãe, que havia perecido heroicamente numa missão. Era sua tentativa de reacender algo no coração dele.
Mas ele dizia não se arrepender de nada.
“Na verdade, sou realmente feliz agora. A mãe teria orgulho de você.”
Essas palavras eram sinceras? Como poderiam ser…?
Além do mais, sua mãe — que dedicara a vida à revolução — jamais poderia se orgulhar de um filho que fugira covardemente.
“Você também deveria sair disso. Venha viver conosco. Martha está ansiosa para viver com você.”
Não, isso jamais aconteceria.
Como sua mãe, mesmo que tivesse de sacrificar a vida, ela não fugiria.
Ela seria a filha de quem sua mãe realmente se orgulharia.
Creeeque.
A cama rangeu outra vez.
Sally, que se remexia sem conseguir dormir, subitamente congelou.
Um som pesado de passos masculinos soava do lado de fora da porta.
‘Quem…?’
A essa hora, não havia intenção inocente num homem que vinha até o quarto de uma criada sozinha.
Se fosse para dar ordens, bastaria puxar uma das muitas cordas espalhadas pelo anexo.
Sally enfiou a mão sob o colchão e puxou o pequeno revólver.
Confirmou o tambor carregado e, ao empurrar o carregador de volta, os passos pararam bem diante da porta.
O invasor da noite bateu.
— …Quem é?
Ela fingiu estar acordando agora, fez uma pausa e só então perguntou.
Sentiu um leve alívio ao ouvir a batida.
Se ele tivesse tentado a maçaneta, seria impossível ignorar suas intenções.
— Sou eu.
“Sou eu.”
Sally ficou estática. Um suspiro lhe escapou.
Pelo tom da voz, já sabia quem era.
Nem teve tempo de se irritar com a arrogância de quem presume que basta dizer “sou eu” para ser reconhecido.
Virou o rosto em direção ao relógio no criado-mudo. Já passava da meia-noite.
O que o teria trazido até ali?
— Ah, Capitão… Um instante, por favor.
Apesar da voz firme de criada, o gesto de enfiar o revólver na parte de trás da calça de pijama era o de uma soldada experiente.
Foi até a porta.
Antes de abri-la, empurrou discretamente com o pé uma pequena cunha de madeira que ficava num canto e a posicionou sob a porta.
Winston não poderia vê-la dali.
Com a porta trancada por fora e por baixo, nem mesmo um homem da estatura dele conseguiria forçá-la com facilidade.
Sally segurava a maçaneta com uma mão e, com a outra, o revólver atrás do corpo.
A luz do corredor mal passava pelo vão da porta, tornando difícil ver o rosto de Winston.
Seu corpo maciço bloqueava a claridade.
— Capitão?
Ele respirou fundo antes de responder:
— …Boa noite, Sally.
— Oh… sim. Boa noite. O senhor voltou agora?
Ela forçou os olhos a parecerem sonolentos, modulando a voz como se tivesse acabado de acordar.
— Sim.
— Está tarde… Imagino que tenha sido um dia agitado.
— Foi entediante, na verdade.
— Ah… Então o tenente Campbell e os outros estavam…
— Sally.
— Sim?
Ela ia sugerir que ele procurasse os outros soldados, que estavam jogando bilhar no salão, mas Winston a interrompeu.
A forma como ele disse “Boa noite, Sally” agora era mais pesada do que a saudação polida de minutos antes.
Sally firmou o pé sobre a cunha e pressionou o dedo indicador ao lado do gatilho do revólver.
— Fiz o meu trabalho. Agora, você tem que fazer o seu.
O tom seco e impositivo atravessou a fresta como uma lâmina.
Sally puxou lentamente a coronha do revólver.
— Do que está falando…?
— A limpeza. Do escritório.
Sua mente esvaziou-se.
— …Perdão?
— O escritório.
Ela engoliu em seco.
O cano do revólver repousava de novo na cintura.
‘Limpeza? Do escritório? Agora?!’
Ela já o achava insano, mas agora… teria finalmente enlouquecido?
Ficou olhando fixamente para ele — ainda sem conseguir ver seu rosto — e inspirou fundo.
‘…Está bêbado? Seu louco…’
Mas não havia nenhum cheiro de álcool.
Passava muito da meia-noite, e ele a chamava para limpar o escritório.
Mesmo que o cômodo estivesse em desordem — algo raro, pois era o lugar que ela limpava com mais zelo depois da sala de tortura.
Era por causa de gente como ele que o sistema de castas deveria ser destruído.
— Ah… Certo…
Assim que respondeu, com o coração inquieto, Winston empurrou a porta. A maçaneta tremeu.
Mas a porta não cedeu.
Ele murmurou, surpreso:
— …que força.
— Haha… sim, eu sou um pouco forte… obrigada.
— Venha.
— Só vou trocar de roupa e já desço, Capitão.
Tentou fechar a porta, mas Winston a segurou.
Permaneceu em silêncio, com a mão na maçaneta.
Ela não via seu rosto, mas sentia.
Sua pele, sob o fino tecido do pijama, ardia.
Ele a devorava com os olhos.
…Porco nojento.
Ela já prometera descer. Não havia como recuar sem levantar suspeitas.
Será que deveria forçar o tenente Campbell a acompanhá-lo?
Talvez fosse melhor levar um sonífero com ela.
Se visse qualquer sinal estranho, colocaria na água com gás que ele costumava beber.
— Capitão?
— …Sim. Eu descerei antes.
Assim que Winston soltou a maçaneta, ela trancou a porta com pressa.
Demorou um pouco até ouvir os passos se afastando.
‘Maldito… Amanhã mesmo eu ligo para o Jimmy.’
O dia difícil ainda não tinha terminado.
— Ah…
Ao entrar no escritório com os utensílios de limpeza, soltou um suspiro resignado.
O lugar parecia um chiqueiro.
Entre a escrivaninha e a mesa de centro, o carpete vermelho exibia manchas negras.
Seria bondade de Winston não exigir explicações sobre aquilo? Um tinteiro ainda jazia virado no canto.
Idiota miserável…
O louco estava sentado atrás da escrivaninha, fumando um charuto com ar satisfeito.
Ela não sabia se ele tinha um plano ou se apenas descontava sua frustração nela — a criada que fingia não notar quando as coisas iam mal.
— Chegou? Demorou para vestir só uma roupa.
Se fosse um homem normal, aquele sorriso talvez a tivesse aliviado.
Mas ele era o tipo que sorria ao ver um prisioneiro ser perseguido por um cão militar ensandecido.
Sally pressentia o pior.
Passara pela biblioteca antes de vir, mas não havia ninguém acordado.
Pensou em acordar Fred, que dormia no primeiro andar, mas desistiu com medo de levantar suspeitas.
Melhor ter o sonífero à mão…
Colocou o balde de limpeza junto à mancha e se aproximou da mesa com um falso ar de distração.
— Oh… perdão. Já trago uma bebida para o senhor.
O copo e a garrafa de água com gás de Winston ainda deviam estar ali.
— Não, não preciso.
Sua voz a cortou no instante em que ela virou as costas.
— Venha aqui.
Ao virar-se, cruzou o olhar dele entre a fumaça fantasmagórica.
Ele ergueu o dedo indicador, chamando-a.
Com passos cautelosos, Sally contornou a mesa.
Sentia-se pisando em gelo fino.
O calor do olhar dele parecia derreter cada passo.
Se caísse naquele abismo negro, que tipo de inferno abriria sua boca…?
Parada junto à mesa, Winston balançou a cabeça levemente.
— Sim…?
— Aqui.
E então, o dedo dele apontou para o lado — indicando o lugar ao seu lado.
As pernas de Sally avançavam como as de uma tartaruga, mas seu coração disparava como uma lebre.