Tente Implorar (Novel) - Capítulo 9
‘…Se Winston tentar me atacar, há alguma forma de escapar?’
Havia muitas formas. Dificilmente se encontraria alguém mais apto a fugir sem ser detectado que uma espiã treinada como ela.
Enquanto permanecia de pé, com as mãos postas ao lado do capitão Winston, ele se virou em sua direção. Com uma das pernas cruzadas sobre a outra, o sapato polido roçou levemente a barra da saia de Sally. Quando ela recuou um passo, ele estendeu a mão — vazia.
Ainda que com o pé provocasse, como um garoto travesso, a mão estendida tinha o gesto cortês de um cavalheiro.
— …Sim? — ela murmurou, sem saber ao certo o que responder.
Winston apontou então para o teto com o charuto entre os dedos. Sally seguiu o gesto com os olhos e viu o lustre negro, alto e elegante, que pendia do forro.
Ele voltou a estender a mão, sem dizer palavra, mas com o olhar insistente no lustre.
— Se quiser, posso esperar no sofá… — ela sugeriu, com voz calma.
— Apenas suba. — cortou ele.
— Mas a poeira vai cair…
— Limpar é seu trabalho, não o meu.
‘Que joguinho é esse…?’
Acomodado na cadeira de couro, ele parecia decidido a permanecer ali, mesmo que a poeira do lustre lhe caísse em cheio sobre a cabeça.
‘Se ao menos eu pudesse bater esse espanador na sua cara…’
Sem opções, Sally largou o balde com os utensílios e pegou o espanador. Hesitou diante da mão que ele mantinha teimosamente estendida, como um cobrador de dívidas. Teria também de apagar as marcas de seus próprios sapatos, caso subisse à mesa.
Ajoelhou-se, ergueu uma perna e começou a desfazer os laços finos dos sapatos. Ao retirá-los com cuidado, os pés cobertos por meias brancas se mostraram à luz. Winston observava atentamente, como se cada gesto dela fosse um espetáculo.
Seu olhar a despia como se folheasse um jornal.
A única maneira de escapar daquele olhar incômodo era fazer logo o que ele mandava e ir embora. Decidida, Sally pegou a mão estendida e subiu na mesa com um joelho.
— Ah…
Justo quando apoiou o joelho, Winston retirou a mão. Sally desequilibrou-se levemente e, instintivamente, agarrou-se à beirada da mesa. Ao olhar por cima do ombro, deitada como uma corredora prestes a iniciar a prova, o medo lhe veio: e se ele levantasse sua saia?
Apavorada, levou a mão para segurar a barra da saia — mas vacilou.
Winston não a olhava ali.
— Capitão…?
Ele sorriu, os olhos fixos nos dedos dos pés dela. O polegar grosso tocou a meia fina e deslizou por seus contornos. Dos dedos até o calcanhar, a pele se arrepiou.
Quase soltou um gemido ao sentir aquele toque intencional e provocador. Mas se o fizesse, daria margem a interpretações… lascivas.
Sally mordeu o lábio com força.
Quando tentou puxar o pé discretamente para escapar do toque, ele o segurou com firmeza entre os dedos longos.
— O que faz com o dinheiro que lhe dou? — perguntou ele, de súbito.
A pergunta inesperada interrompeu sua resistência. Por que ele falava disso agora?
— Com… as despesas do hospital da minha mãe.
— Já enviou?
— Ainda não.
Poderia devolver, se ele exigisse. Não haveria problema.
Ele era um latifundiário notoriamente reservado, mas os ricos, quanto mais têm, mais querem. E se ele já soubesse demais sobre sua vida…?
Molhando os lábios ressecados, Sally arriscou:
— Por quê?
— Separe algum para comprar um par de meias novo.
— Ai! — soltou, num susto.
Ela nem teve tempo de reagir. Winston introduzira o polegar pela malha da meia e pressionava a carne exposta com naturalidade.
— Tem um furo.
Sua voz trazia um sorriso debochado. Ainda que fosse apenas zombaria, ela não podia baixar a guarda.
O buraco na meia aumentou conforme ele brincava com o dedo mínimo do pé dela.
Riip.
O rasgo se alargou, e as bochechas de Sally coraram intensamente.
— Que tipo de hospital é esse, hein? Eu pago menos do que deveria? Ou é você que está sem dinheiro até pra comprar uma meia decente? Como acha que eu me sinto vendo isso?
— N-não é isso… Capitão, eu… eu vou comprar um novo amanhã, por favor, me deixe ir. A limpeza…
Leon sorriu e ergueu a mão.
Mesmo sobre a mesa, Sally se levantou apressada e correu para o canto, tentando esconder o rubor no rosto. Era uma mulher que não se abalava diante de sangue — mas agora, ardia em vergonha.
— Que divertido… — murmurou ele.
Louco.
Sally voltou-se ao lustre e fingiu limpar, lançando sobre ele toda a obscenidade que conhecia.
Filho de uma cadela… Que coma a poeira.
Esfregou as penas do espanador contra o alto do cabelo dourado de Winston, mas a sujeira parecia não sair. Afinal, fazia pouco tempo desde a última limpeza.
Sem escolha, abandonou a retaliação e terminou o serviço com rapidez. Virou-se para frente do lustre.
— Isso mesmo. — comentou ele, baixo.
— Sim?
Ao se virar, ouviu o ranger da cadeira.
Winston fingia inocência, recostado na poltrona. O charuto apagado em seus dedos agora pendia, coberto de cinzas.
— Não, estou falando sozinho.
— Ah. Entendi…
Sally sorriu polidamente. Mas, ao desviar o olhar, seus olhos turquesa gritaram em silêncio: Eu te odeio.
Leon sorriu enviesado e pressionou o charuto contra o cinzeiro.
Branco. Naquele jantar com a Senhorita, sua imaginação estava correta — a calcinha de Sally era branca. Agora que confirmara a cor, era natural desejar ver o interior. Seria o mesmo branco que imaginava…?
Queria enfiar a mão sob aquela saia preta, atravessar a anágua branca e rasgar a costura do meio com brutalidade. Mordeu o lábio inferior com a ponta da língua, depois cravou os dentes.
Teria algum homem já visto aquilo antes?
Esfregou a ponta do charuto no cinzeiro, como se apagasse a existência de um rival invisível.
— Terminei, Capitão. Vou limpar o carpete agora.
A falsa limpeza do lustre chegava ao fim. Sally desceu com cuidado da mesa e ajoelhou-se sobre o tapete, focada em apagar as manchas negras.
Não era difícil, pois a tinta ainda estava fresca. Embora o tecido tivesse escurecido um pouco, isso podia ser ignorado.
Levantou-se, ajeitando a saia amarrotada, e virou-se para Winston. Ele a observava, cotovelo apoiado e queixo sobre os dedos, com uma expressão de curiosidade. A mão direita, contudo, desaparecia sob a mesa.
O que havia de tão fascinante em ver uma simples criada limpando o chão?
O olhar dele estava estranho — suave, quase meloso.
— Está tudo pronto. Precisa de mais alguma coisa?
Winston apenas assentiu, brevemente.
Então precisava ou não?
Sally inclinou levemente a cabeça, os olhos desviando para o cinzeiro de mármore negro. As cinzas repousavam como as de um charuto caro.
Posso sair dizendo que vou esvaziá-lo.
Com passos leves, caminhou até Winston e pegou o cinzeiro. E então congelou.
Sua mão — marcada por veias grossas — deslizava lentamente sob a mesa. O objeto que segurava também tinha veias salientes.
— Aaah!
Bang.
O cinzeiro escapou das mãos de Sally e caiu na beira da mesa.